Cesar Maia
1. Num artigo na Folha de S. Paulo de domingo, 1º de março, o prefeito do Rio, Eduardo
Paes, escreve: "A região portuária, onde a cidade nasceu, passa por um
processo de revitalização. O porto, aquele pedaço esquecido que, muito antes do
Cristo Redentor, abria os braços para receber os nossos primeiros visitantes,
renasce."
2. Provavelmente não foi o
prefeito que escreveu este artigo ou, pelo menos, não escreveu este parágrafo
do artigo. Afinal, a dita região portuária é produto de um grande aterro
realizado no início do século XX, para a construção do novo e atual porto.
Antes, o mar beijava o morro do Providência.
3. O porto, até o século XIX,
era frontal à Praça XV. O aterro viabilizou a transferência do porto para a
atual área portuária. obra que só amadureceu após 1910. A Avenida Rio Branco
nasceu como Central, ligando o novo porto ao centro e aos caminhos que se
abriam em direção à Zona Sul através da construção da Avenida Beira Mar, por
Pereira Passos.
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Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro, anos 1910. Arquivo da Biblioteca do Congresso dos EUA |
4. O Rio, como cidade formal,
nasceu na Urca e após a expulsão dos franceses teve sua sede alocada no entorno
do morro do Castelo. Expandiu-se entre os jesuítas e os beneditinos no entorno
da Rua Direita, hoje Primeiro de Março, costeando a entrada pelo mar do porto
da época, onde ficava a sede do governo, o Paço Colonial.
5. Talvez, quem escreveu o
artigo para o prefeito tenha confundido a entrada de escravos na área que é
hoje a Praça Mauá, com toda a tragédia que a cercou, simbolizada pelo cemitério
dos Pretos Novos, ou seja, os que morriam ao chegar ao Rio, pela barbárie do
tráfico desde a África. Isso mais de 200 anos depois da fundação do Rio.
6. A expressão “abria os
braços para receber nossos primeiros visitantes” talvez se explique pela
vontade de o autor exaltar as obras em curso. Pois, de outra forma, seria
chamar os escravos de visitantes e o tráfico de turismo.
Título e Texto: Cesar Maia, 2-3-2015
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