sexta-feira, 3 de março de 2017

A melhor crítica ao galardoado com Óscar de melhor filme

Vitor Cunha

Toda a gente diz que os Óscares são um espetáculo degradante. Não só por isso, mas também, asseguro que assisto ao maior número possível de filmes nomeados para as principais categorias. Este ano não foi exceção, tendo assistido a todos os nomeados para a categoria de melhor filme. Não sem custo, porém. “Moonlight”, o (afinal) vencedor, custou um bocado a ver, digamos, numa escala de sofrimento algures entre uma crónica do Daniel Oliveira e as vezes em que o CDS se porta como um ginasta cego numa autoestrada, como fez agora com o “caso” das transferências para offshores. Perdoem-me os amigos do CDS, mas é mesmo assim: em pantomina ninguém bate os centristas (já os amigos — concedamos um plural misericordioso — do Daniel Oliveira ficarem aborrecidos seria um dia de sol primaveril com greve de guardas do gulag).

“Moonlight” pode ser descrito de forma rigorosa como um balde de trampa em forma de celuloide. Não faço aviso de spoilers porque, sinceramente, não vejo forma de estragar o que não tem forma de conserto. É um miúdo preto, com mãe drogada que se prostitui (o normal), que é um bocado esquisito. Até aqui tudo bem, tudo feliz, é uma alegria pegada. Depois, o miúdo cresce para adolescente completamente diferente (deve ter feito uma plástica) e começa-se a suspeitar que pode ser maricas. Sem problema, tudo normal, pode ter uma vida engraçada que agora a SIDA já nem mata. Contudo, na praia, acaba a beijar um amiguinho da escolinha (que, sem estereótipo nenhum, lhe assenta uma par de socos na face mais à frente) e que, por cortesia e generosidade digna de um conto de fadas (pode substituir a primeira vogal por um O que o efeito é o mesmo), lhe concede um cinco-contra-um, uma contagem de barrotes, um dar milho aos pombos, um descascar da mandioca, um esfolar de periquito, um limar de trave, uma ordenha da cobra, um solo de flautim de capa, uma miríade de expressões divertidas que o realizador toma por românticas. Bem, até aqui, tudo bem na mesma, eles lá sabem, os gostos de uns são a indiferença de outros. Só que, depois, o miúdo cresce para vendedor de droga sem qualquer aparência com o adolescente anterior, bem encorpado, de quem passa mais tempo no ginásio (mas não no balneário) do que a misturar pau de giz com o produto que vende, e percebe-se que o gajo esteve 10 anos (dizem os guionistas, pela aparência do ator diria 20) sem esfolar o ganso. Mas, senhores, isto cabe na cabeça de alguém? O gajo tem obviamente problemas sérios de desenvolvimento, precisa é de um médico, não de um encontro romântico a comer frango frito (não, não há estereótipos nesta linda história de um sociopata, que ideia). Isto, simplesmente, não só não acontece como é estupidamente imbecil.

Surpreendem-se que este afagar de sentimentos de culpa branca (não me recordo de ter visto um único branco neste filme que falasse) degenere na eleição de Donald Trump? Quando acabei de ver o filme tive vontade imediata de ir votar Trump, mesmo não sendo americano e não importando para nada, que ele já foi eleito. Contudo, depois de ver esta mistela pré-pubescente de argumento no ecrã, mais que votar em Trump, fiquei aliviado por não ter o código de lançamento da bomba atómica. Porque, se tivesse, não tenham dúvidas que rebentava com o planeta só para lhe dar a chance de começar de novo, sem este lixo produzido pelo odor dos tempos modernos que os progressistas (burros) tanto admiram. É que nem o Miguel Abrantes — pessoa que almoçou com Fernanda Câncio e Daniel Oliveira e que não consta ter vomitado — seria capaz de escrever uma alarvice tão brutal.

Que vendedor de droga não arranja um Viagra? Ou um cabeça de crack desesperado ao ponto de o gratificar pela hipótese de fumo em segunda mão de qualquer coisa viciante? O único ponto positivo de toda esta história é que, se correr tudo bem, o sofrimento da personagem desaparecerá com um balázio de uma intervenção policial. Infelizmente, o filme terminou antes disso, retirando ao espectador a recompensa por duas horas de comidinha integral para vegans de espírito.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 27-2-2017

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