Vitor Cunha
Friedrich Nietzsche
foi, ao longo dos seus cinquenta e cinco anos de vida, um homem profundamente
solitário. Dotado de uma melancolia facilmente atribuível à débil saúde e à
triste incapacidade de se relacionar sexualmente, pouco lhe restou que não
andar pela montanha a recriar-se como profeta pós-teísta, apreciando a natureza
como os românticos que o precederam e, eventualmente, esgalhando um ou outro
misericordioso orgasmo solitário para a neve na esperança de transcendência
para Übermensch, o ser relativista — ou perspectivista, além do bem
e do mal — que, paradoxalmente, numa aplicação prática da noção de “eterno
retorno” (Ewige Wiederkunft) o levaria à loucura e à morte prematura (No
suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela
foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.— Genesis 3:19). É que
Deus pode estar morto, mas não anda a dormir.
Homem
sem mulher é, por definição e por necessidade, um filósofo. Mulher sem homem é
uma ameixa azeda.
Uma taróloga — ou seja, alguém
que personifica a lógica pós-gnóstica de Nietzsche — sugeriu, na televisão, a
mulher capaz de ligar em direto para se queixar da infidelidade do marido, que
esta se deve arranjar, “empinocar”, para que se o marido “fizer muita
ginástica em casa” lhe sobre pouca energia para a rua. Parece-me uma boa ideia
— já diziam os Beatles que all you need is love —, partindo do
princípio que a senhora deseja manter o casamento (recordo que ligou para uma
taróloga da televisão a pedir conselhos). Porém, as gajas da UMAR (União de
Mulheres Alternativa e Resposta — expressão que deve ter significado apesar de
críptico), associação que discrimina 50% da população, e que também veem com
afinco os programas de Tarot (ou Reiki, ou Feng Shui ou o Prós e Contras)
ficaram indignadas ao ponto de terem soltado uma gotinha de xixi em forma de queixa ao Público.
Com a experiência de
incontáveis anos a partir cascalho para que se desperdicem os bíceps ao volante
de um camião, as ameixas azedas decretaram imediatamente que o casamento da
senhora não funciona, que tem que ser terminado, e que a culpa é do heteropatriarcado,
ou do patriarcado ou sabe-se lá de quê. Não sei se sugerem a castração imediata
do ex-marido, mas parece-me o passo lógico seguinte. Que se lixe se a mulher que
quer manter o casamento e arranjar estratagemas de evitar posteriores traições:
as ameixas secas já decidiram o que é que a mulher tem que fazer,
independentemente de isso ser um passo que lhe origine felicidade ou não.
Que os homens sabem que não
percebem as mulheres, é óbvio. Que haja mulheres que achem que percebem os
homens é que é só triste. Que haja mulheres que nem a maioria das outras
mulheres percebem é que é cómico.
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