Luis Guillermo Arroyave
“Durante todo
o dia esteve exposto, no Itamarati, o corpo do barão de Rio Branco. Desde a
manhã até à noite, milhares de pessoas desfilaram em frente ao grande morto,
cujos serviços e cujo nome ficarão eternamente vivos na gratidão
brasileira”. (“A Imprensa”, Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 1912).
Ao morrer, alguns nascem para a História. É o caso do nosso inesquecível Barão de Rio Branco. Corresponde aos vivos ecoar ao longo dos séculos a exaltação dos que são a glória das nações, por isso erguem-se monumentos, proferem-se panegíricos, compõem-se poemas. Às proezas e virtudes do falecido se erige um túmulo proporcionado. Excepcionalmente, alguns são sepultados em igrejas ou locais privados, embora a maioria durma o sono eterno na paz dos cemitérios. Ilustres ou não, todos aguardam ali a ressurreição dos corpos.
Ainda que a morte tenha algo
de nivelador, os túmulos patenteiam até mesmo na “cidade dos mortos” as
desigualdades, destacando um soldado falecido num ato heroico de guerra; um
governador que prestou insignes serviços à sociedade; uma religiosa morta em
odor de santidade; uma matrona que entregou sua vida e fortuna para proteger os
mais necessitados etc.
O bronze não apenas adorna
seus túmulos, mas também proclama seus nomes e algo de suas vidas. Cruzes,
estátuas, placas e grades reluziam à luz do sol, trazendo algo
de vida ao reino das sombras. Por que “reluziam”, no passado? Sim, pois nos
últimos anos hordas invadem os cemitérios à noite — e até mesmo durante o dia —
depredando e roubando o bronze valioso.
Consequência? Diante da
impotência ou inoperância para pôr cobro a esses saques, muitas famílias optam
pelo “despojamento”, com o resultado indesejável de “favelizar” os cemitérios,
ou seja, nivelá-los por baixo. Um igualitarismo inicialmente forçado pelos
fatos, e depois convertido resignadamente, indolentemente, em tendência. Em
outras palavras, mais uma pequena revolução vitoriosa no mundo igualitário de
hoje.
Não faltará o piadista de
plantão, imbuído de espírito revolucionário, que ainda diga com sarcasmo: “Mas
convenhamos, os tijolinhos não deixam de ter seu charme”…
Título, Imagem e Texto: Luis
Guillermo Arroyave, ABIM,
4-1-2019
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