domingo, 2 de dezembro de 2012

A morte de Deus

Marcelo Caixeta
Vivemos numa época antipatriarcal, uma época onde todo tipo de autoridade é questionada, inclusive a do Pai, inclusive a Divina. Questiona-se inclusive o “machismo” de Jesus e de Jeová. Nossa época tem horror ao poder fálico dos ditadores (“Hitler, Stálin e Mussolini, quase destruíram o mundo”), dos generais (“Napoleão botou fogo na Europa”), dos eclesiásticos, dos “pais-de-família” (eis o discurso: “a maioria dos homens de família não tem a moral a que se arvoram, são mulherengos, acomodados, autoritários, machistas, gostam mais da pescaria, do carro, do futebol, do que da família, etc.”).
Neste mundo de “igualitarismo”, de “democratismo”, há de pensar-se que a “autoridade do pai morreu”, consequentemente morreu também a autoridade do Pai (ou seja, do Pai=Deus). E isto não é apanágio apenas do mundo capitalista, pois no mundo comunista o pai também morreu (perdeu a competição para o Estado, que o emasculou).
O único lugar onde o pai ainda não morreu é o “atrasado” mundo muçulmano (um mundo ainda patriarcal, autoritário, machista, ditatorial). Inclusive, a luta que o Islã tem hoje com o Ocidente é justamente porque não aceita nosso “desrespeitoso” (“anti-Alá”) modo de vida, um modo de vida onde a autoridade masculina (tão valorizada no Islã) é desafiada e destituída progressivamente.
O Brasil caminha a passos largos rumo a este mundo anti-Pai, anti-Deus. Só que, como toda ação tem uma reação igual e contrária, nós também temos, entre nós, o nosso “Islã”, isto é, nossa “resistência contra a destruição de Deus”, que é o mundo evangélico (nos últimos anos, a Igreja Católica vem perdendo aproximadamente 1,5% de seus fiéis para os protestantes, a cada ano). Inconscientemente, a população, ao buscar o “Deus evangélico”, tenta recolocar um Pai em seu lugar. Tenta reconduzir um Pai emasculado e escanteado pelo discurso também contaminado de feminismo poderoso e antifálico da Igreja Católica. Acontece que, na medida em que a Igreja Evangélica também vai “evoluindo”, ficando mais rica, mais culta, mais cosmopolita, mais “tolerante para as diversidades”, menos “dogmática”, o poder feminista antifálico passa a dominar, anulando assim o poder fálico do tipo daqueles todo-poderosos pastores de bairros periféricos (um pastor que, neste caso, é o lídimo representante de “Deus-Pai Todo-Poderoso”). Tanto é assim que, numa igreja protestante “evoluída” (do tipo aí acima) que me reportaram há alguns anos, a comunidade colocou à sua frente um pastor que já havia sido padre (portanto, com pouca “energia masculina”, pouca “testosterona”) e que, em todo culto, exaltava as enormes e benéficas características do “ser-mulher”. Então, mesmo que hoje tentemos nos agarrar a qualquer coisa que nos faça lembrar da “força do falo”, da “força do Pai”, da “força de Deus”, não há muita dúvida de que, ao final, as forças antifálicas tenderão a ganhar. Neste ponto, então, a sociedade já estará num “caos antifálico” (p.ex., não se pode prender adolescente, bandido não pode ir para cadeia, criminosos precisam é de “apoio psicológico” e não reclusão), ainda maior do que aquele em que vivemos hoje (um momento onde as forças fálicas que restam – tipo “grupos de extermínio” para limpar os marginais que o antifalicismo libera todos os dias – tentam exercer seu poder em um mundo onde o antifalicismo já ganhou o governo, a justiça, a mídia e as consciências). Então, quando o caos antifálico instalar-se, aí chamarão de volta o nome de Deus, e o balanço tenderá a se reinstalar sobre a Terra. Será um “falicismo” mais controlado, pois será um “falicismo” onde não haverá lugar para o machismo, a ditadura, a exploração escravagista e a utilização do homem pelo homem. Será um falicismo onde o mais poderoso terá como principal função servir de guia, esteio e braço forte para o que é menos que ele.
Título e Texto: Marcelo Caixeta, Diário da Manhã

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