Geraldo Almendra
Foi publicado no artigo do jornalista Carlos Alberto Sardenberg titulado “Roubar pelo povo” (leia abaixo) uma manifestação da artista Fernanda Torres, pela qual, de admiração pela sua arte, passei a sentir um profundo desprezo por sua pessoa.
Foi publicado no artigo do jornalista Carlos Alberto Sardenberg titulado “Roubar pelo povo” (leia abaixo) uma manifestação da artista Fernanda Torres, pela qual, de admiração pela sua arte, passei a sentir um profundo desprezo por sua pessoa.
A manifestação publicada na
“Folha”, segundo o jornalista, teve como mote uma defesa feita pela artista em
relação ao suposto chefe do Mensalão, o condenado José Dirceu – o verdadeiro continua impune: “talvez
seja impossível governar sem violar a lei”, refletiu a artista.
Respeitando a liberdade da
artista de expor suas ideologias a favor do crime organizado do suborno e da
corrupção, na minha concepção e usando da mesma liberdade, entendo que somente
um caráter de semelhança abjeta ou canalha pode admitir tal premissa para que
alguém consiga atingir seus objetivos como um representante qualquer de um
governo, ou mesmo durante sua vida profissional.
Convém lembrar que Hebe
Camargo durante a gravação de um programa pediu ao auditório que batesse palmas
de pé para o mesmo José Dirceu, sendo plenamente atendida por uma plateia
repleta de ignorantes e esclarecidos canalhas.
Nos dois casos,
essencialmente, não estamos falando, essencialmente, de gente ignorante pela
falta de educação e cultura, mas, principalmente, daqueles que qualifico como
canalhas esclarecidos, pessoas muitas vezes com avançada formação cultural que
se debandaram para o lado dos que participam de um projeto espúrio de poder que
já transformou o país em um Paraíso de
Patifes.
A deterioração moral e ética de uma parcela significativa de nossas
“elites” do meio artístico, que servem de instrumentos de propaganda para a
sustentação do petismo leninista, já chegou a um ponto que grande parte da
desqualificação do Brasil como sociedade digna de algum respeito pelo resto do
mundo se deve a esta classe da sociedade dos “patriotas mortos”.
A defesa da tese já sendo
ensaiada pelo PT, diante da condenação da gang do Mensalão perante a opinião
pública, mesmo que esse julgamento acabe em uma farsa de impunidade por penas
ridículas fora de regime fechado – para o núcleo político –, de que roubar é um instrumento de defesa
dos pobres por dar sustentação a um governo que “defende os pobres”, não é
digna de qualquer sentimento minimamente decente. Na verdade se trata de uma inversão de valores absolutamente calhorda.
Com sua manifestação a atriz
nos leva a entender que é partidária dos princípios de que “ladrão que rouba ladrão merece perdão”, “roubar e distribuir”,
“roubar e realizar”, entre tantos outros sórdidos princípios
disfarçadamente praticados pelos desgovernos civis anteriores aos do PT, mas descaradamente
praticados durante os desgovernos petistas, ajudados pela omissão, covardia e
cumplicidade de uma parcela majoritária da classe
dos artistas, em que muitos ficam ricos com a venda de suas músicas e de
seus shows para os ignorantes destituídos de capacidade crítica para olhar para
um artista e entender seu verdadeiro caráter. Somados aos artistas
“socialistas” que vivem de forma nababesca, ainda temos muitos outros artistas
que são sustentados com verbas do desgoverno petista para serem hipócritas e
cínicos ventríloquos da defesa do indefensável.
Que tipo de educação a atriz fornece aos seus filhos? – Que os fins justificam os meios?
Em algum momento essa gente será julgada por ter sido cúmplice durante
décadas de milhares de mortes no nosso país, atualmente mais de 150 por dia
como consequência direta da corrupção e do suborno que desviam dos cofres
públicos bilhões de reais todos os anos.
Infelizmente a maioria desses
artistas defensores do mais sórdido político de nossa história quando adoece
não vai a um hospital público assistir aqueles que compram seus produtos
morrerem nas filas ou nos corredores fétidos dos hospitais onde são alojados
para aguardar atendimento médico.
Seus filhos não estudam em
escolas públicas, tem excelentes planos de saúde ou muito dinheiro para pagar
médicos e hospitais particulares, moram em luxuosas residências ou
apartamentos, têm motoristas particulares e seguranças armados para os
protegerem. Que vida difícil têm esses
protetores da corruptocracia petista, “socialistas” que nunca foram morar em
Cuba!
A caserna não vai ficar
hibernando para sempre e quando acordar da letargia da Fraude da Abertura Democrática terá que fazer o corretivo do nosso
país que se tornará cada vez mais corrupto graças ao apoio dos esclarecidos
canalhas aos desgovernos corruptos e subornadores, entre esses centenas de
artistas.
Texto: Geraldo Almendra, 26/12/2012
Roubar
pelo povo
Carlos Alberto Sardenberg
Intelectuais ligados ao PT estão flertando com uma nova tese para lidar
com o mensalão e outros episódios do tipo: seria inevitável, e até mesmo
necessário, roubar para fazer um bom governo popular.
Trata-se de uma clara resposta ao peso dos fatos. Tirante os condenados,
seus amigos dedicados e os xiitas, ninguém com um mínimo de tirocínio sente-se
confortável com aquela história da “farsa da mídia e do Judiciário”.
Se, ao contrário, está provado que o dinheiro público foi roubado e que
apoios políticos foram comprados, com dinheiro público, restam duas opções: ou
desembarcar de um projeto heroico que virou bandidagem ou, bem, aderir à tese
de que todo governo rouba, mas os de esquerda roubam menos e o fazem para
incluir os pobres.
Vimos duas manifestações recentes dessa suposta nova teoria. Na “Folha”, Fernanda
Torres, em defesa de José Dirceu, buscou inspiração em Shakespeare para
especular: talvez seja impossível governar sem violar a lei.
No “Valor”, Renato Janine Ribeiro escreveu duas colunas para concluir:
comunistas revolucionários não roubam; esquerdistas reformistas roubam quando
chegam ao governo, mas “talvez” tenham de fazer isso para garantir as políticas
de inclusão social.
Tirante a falsa sofisticação teórica, trata-se da atualização de coisa
muito velha. Sim, o leitor adivinhou: o pessoal está recuperando o “rouba mas
faz”, criado pelos ademaristas nos anos 50. Agora é o “rouba mas distribui”.
Nem é tão surpreendente assim. Ainda no período eleitoral recente,
Marilena Chauí havia colocado Maluf no rol dos prefeitos paulistanos
realizadores de obras, no grupo de Faria Lima, e fora da turma dos ladrões.
Fica assim, pois: José Dirceu não é corrupto, nem quadrilheiro — mas
participou da corrupção e da quadrilha porque, se não o fizesse, não haveria
como aplicar o programa popular do PT.
Como se chega a esse incrível quebra-galho teórico? Fernanda Torres
oferece uma pista quando comenta que o PT se toma como o partido do povo
brasileiro. Ora, segue-se, se as elites são um bando de ladrões agindo contra o
povo, qual o problema de roubar “a favor do povo”?
Renato Janine Ribeiro trabalha na mesma tese, acrescentando casos de
governos de esquerda bem-sucedidos, e corruptos. Não fica claro se são
bem-sucedidos “apesar” de corruptos ou, ao contrário, por serem corruptos. Mas
é para esta ultima tese que o autor se inclina.
Não faz sentido, claro. Começa que não é verdade que todo governo
conservador é contra o povo e corrupto.
Thatcher e Reagan, exemplos máximos da direita, não roubavam e trouxeram
grande prosperidade e bem-estar a seus povos.
Aqui entre nós, e para ir fundo, Castello Branco e Médici também não
roubavam e suas administrações trouxeram crescimento e renda.
Por outro lado, o PT não é o povo. Representa parte do povo, a
majoritária nas últimas três eleições presidenciais. Mas, atenção, jamais
ganhou no primeiro turno e os adversários sempre fizeram ao menos 40%. E no
primeiro turno de 2010, Serra e Marina fizeram 53% dos votos.
Por isso, nas democracias o governo não pode tudo, tem que respeitar a
minoria e isso se faz pelo respeito às leis, que incluem a proibição de roubar.
E pelo respeito à opinião pública, expressa, entre outros meios, pela imprensa
livre.
Por não tolerar essas limitações, os partidos autoritários, à direita e à
esquerda, impõem ou tentam impor ditaduras, explícitas ou disfarçadas. Acham
que, por serem a expressão legítima do povo, podem tudo.
Assim, caímos de novo em velha tese: os fins justificam os meios, roubar
e assassinar.
Renato Janine Ribeiro diz que os regimes comunistas cometeram o pecado da
extrema violência física, eliminando milhões de pessoas. Mas eram eticamente
puros, sustenta: gostavam de limusines e dachas, mas não colocavam dinheiro
público no bolso. (A propósito, anotem aí: isto é uma prévia para uma eventual
defesa de Lula, quando começam a aparecer sinais de que o ex-presidente e sua
família abusaram de mordomias mais do que se sabe).
Quanto aos comunistas, dizemos nós, não eram “puros” por virtude, mas por
impossibilidade. Não havia propriedade privada, de maneira que os corruptos não
tinham como construir patrimônios pessoais. Roubavam dinheiro de bolso e se
reservavam parte do aparelho do estado, enquanto o povo que representavam
passava fome. Puros?
Reparem: na China, misto de comunismo e capitalismo, os líderes e suas
famílias amealharam, sim, grandes fortunas pessoais.
Voltando ao nosso caso brasileiro, vamos falar francamente: ninguém
precisa ser ladrão de dinheiro público para distribuir Bolsa Família e aumentar
o salário mínimo.
Querem tudo?
Dilma consegue aprovar a MP que garante uma queda na conta de luz.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico diz que haverá mais apagões
porque não há como evitá-los sem investimentos que exigiriam tarifas mais
caras.
Ou seja, a conta será mais barata, em compensação vai faltar luz.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista, O Globo, 20-12-2012
Ou seja, a conta será mais barata, em compensação vai faltar luz.
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