O governo português recusou vender a TAP ao empresário German Efromovich. Achei uma pena. Mas, deve o governo ter razões que a razão desconhece.
Agora, o deprimente é você assistir e ler aqueles que acusam o governo de "trapalhada" são exatamente os mesmíssimos que o acusavam, antes, de "falta de transparência". Noutras palavras, essa canalhada não se importa, nem de longe, com o substantivo. O que lhes interessa é adjetivar, entende?
A dialética é acusar, instigar a suspeição, insinuar... que, claro, a tropa liquidifica tudo numa coisa só: o insulto.
Pois então, andava eu pensando em escrever algo sobre a privatização da TAP eis que me deparo com um artigo de Alberto Gonçalves que diz tudo e mais alguma coisa:
Após a British Airways ter
sido totalmente privatizada, os britânicos deixaram de viajar pelos ares, a
nação perdeu a razão de existir e o Reino Unido entrou em colapso. Após a
Lufthansa ter sido quase totalmente privatizada, os alemães deixaram de viajar
pelos ares, a nação perdeu a razão de existir e a Alemanha entrou em colapso.
Após a Swissair ter aberto falência, os suíços deixaram de viajar pelos ares, a
nação perdeu a razão de existir e a Suíça entrou em colapso. Etc.
Precedentes não faltam, e
todos apontam o mesmo caminho: a TAP, bandeira, orgulho e estratégia, não pode
ser desbaratada. Custe o que custar. Convém dizer que custa um bocadinho, e
que, a acrescer à dívida acumulada de 1500 milhões, o Estado recentemente
investiu 100 milhões na empresa. Em breve, haverá outros investimentos
similares, financiados com prazer pelo contribuinte, o qual, com a dignidade e
a ausência de alternativas que se lhe reconhecem, será o último a abandonar o
navio, leia-se o avião, leia-se um símbolo maior das alturas a que conseguimos
chegar.
Tudo somado, porém, é pequeno
o preço da grandeza nacional. Entregar a TAP ao cuidado de estranhos
equivaleria a privar-nos de uma das nossas principais referências identitárias,
que como se sabe é das coisas que nos dá imenso jeito. Além disso, para efeitos
estritamente aeronáuticos ficaríamos entregues à vontade de esquemas
concorrenciais, ao desnorte dos mercados, talvez até às companhias low-cost,
cujas tarifas baixíssimas e ausência de patrocínio fiscal não podem augurar nada
de bom.
De resto, mesmo os
materialistas de serviço podem sossegar: a TAP, conforme inúmeras vozes
esclarecidas se fartaram de avisar, é facilmente rentável. Decerto é por isso
que, em obediência aos mistérios da economia aplicada, ninguém a quer comprar.
E é por isso que nunca a deveremos vender. Por enquanto, a recusa da proposta
do sr. Efromovich livrou-nos de semelhante desdita. Mas importa permanecermos
atentos a futuras tentativas de alienação do património público, da TAP à ANA,
da CP aos CTT, da RTP à CGD, da REN às Águas, da maternidade Alfredo
Não sei quantos à Empresa Geral do Fomento. O indispensável é que o interesse
nacional não acabe em mãos privadas e devotadas ao sinistro lucro. O interesse
nacional é o prejuízo.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Diário de Notícias
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