Luiz Fux pode esperar chumbo grosso em 2013; o recado é claro: ou se
comporta, ou eles prometem derrubá-lo; resta-nos torcer para que a chantagem
não tenha lastro
Reinaldo Azevedo
Eis-me aqui, leitores, a fazer algumas considerações, conforme disse que poderia acontecer. Depois retomo o meu descanso. O ministro Luiz Fux, do STF, continua na mira dos petistas. E eles não o deixarão tão cedo, a menos que este membro da corte máxima do país pague a fatura na qual figura, segundo os petistas, como devedor. O mensalão já é jogo jogado. Ainda que o tribunal venha a admitir os embargos infringentes, de divergência, é difícil supor que Fux dê um voto oposto àquele que proferiu durante o julgamento. Mas sabem como é: o governo tem muitas demandas no Supremo. A coisa está feia: para o tribunal, para Fux, para as instituições. E o ministro pode se preparar porque vem mais bomba por aí.
O mais recente ataque a Fux
partiu de Gilberto Carvalho, ninguém menos: ele é, por excelência, o braço de
Lula no governo Dilma, mas é também homem de confiança da presidente. Quando
fala, ele o faz em nome da chefe, a menos que seja desautorizado. E ele não
foi. O que fez Carvalho?
Afirmou num programa de TV que
manteve um encontro com Fux antes de este ser nomeado para o Supremo e que o
então candidato a ministro lhe havia assegurado que lera o processo do mensalão
e não encontrara provas contra os réus. Mais uma vez, os petistas estão
afirmando, por palavras nem tão oblíquas, que Fux lhes prometera uma coisa —
“matar a bola no peito” — e não entregou o prometido.
É espantoso! Mais do que
sugestão, o conjunto das declarações — de Carvalho, de Dirceu e do próprio Fux,
em entrevista — nos autoriza, por indução, a concluir que um dos critérios para
a indicação do agora ministro foi a sua opinião de então sobre o mensalão.
Depois, tudo indica, ele mudou. Fux já confirmou ter estado com José Dirceu
antes de ser indicado por Dilma. Reuniu-se também com João Paulo Cunha. O que
um pretendente ao cargo máximo do Judiciário tem a conversar com dois réus
daquele calibre? Ninguém sabe. E isso Fux também não conseguiu explicar na
entrevista que concedeu.
Ao anunciar a suposta mudança
de opinião de Fux, Carvalho está confessando o que eles lá, ao menos, tinham
entendido como uma conspirata a favor dos mensaleiros. Pior: como foi Dilma que
indicou o ministro, Carvalho e todos os que insistem nessa linha de
argumentação comprometem a presidente com uma óbvia agressão ao Supremo e à
independência entre os Poderes: Fux teria sido escolhido para cumprir uma
missão — que não seria, por óbvio, fazer justiça.
Os antecedentes e o que se viu
O leitor tem o direito de
saber que petistas viviam falando pelos cantos, para repórteres, algo mais ou
menos assim: “Fux tá no papo; é nosso!”. Os mais boquirrotos davam o acordo
como celebrado. A metáfora do “matar a bola no peito” já era muito conhecida.
Os votos do ministro pegaram, sim, os petistas de surpresa e, em larga medida,
os jornalistas. E petistas não o perdoam por isso. Se acham Joaquim Barbosa — o
“negro que nós [Eles!!!] nomeamos”, como disse João Paulo — ingrato, eles têm
Fux na cota de um traidor.
E não pensem que já esvaziaram
todo o saco de maldades. Pelo cheiro da brilhantina, como se dizia antigamente,
vem mais coisa contra o ministro em 2013. Os mais exaltados chegam a prometer
que ele terá de deixar o tribunal porque acabaria ficando provado que não tem
condições de exercer a função. Até onde pode ir o ódio punitivo? É o que
veremos.
O QUE NÃO ESTÁ CLARO NO
TRIBUNAL INFORMAL DO PETISMO É SE HÁ OU NÃO CONDIÇÕES DE FUX SER REABILITADO
PELA COMPANHEIRADA — vale dizer: ainda não se decidiu se vão-lhe apresentar uma
fatura, exigindo, em troca, o bom comportamento ou se a condenação já pode ser
considerada transitada em julgado — nessa hipótese, só restaria mesmo o
paredão.
A tropa não brinca em serviço.
Nesse momento — é Fux não deve ignorá-lo —, a sua carreira de juiz no Rio está
sendo escarafunchada. Não é que os petistas não gostem de uma coisa ou de outra
e tenham sido tomados por um surto de moralidade ou de moralismo. Não! Vigora a
palavra de ordem de sempre: “Quem está conosco é gente boa; quem não está vai
para a boca do sapo”.
Fux pode se preparar que vem
chumbo grosso por aí. Ou, então, se anula como membro da nossa Corte Suprema e
se torna mero esbirro de um projeto partidário — nesse caso, tem até modelo a
ser seguido. A “máquina” está-lhe dizendo algo assim: “Ou se entrega ou nós
acabamos com a sua reputação”. A chantagem é asquerosa, e só nos resta torcer
para que as ameaças sejam inúteis porque brandidas no vazio.
Nunca antes na história
destepaiz um ministro de estado confessou que um candidato a ministro do
Supremo lhe havia feito juízo de mérito sobre um processo em tramitação na
Corte para a qual este pretendia ser nomeado.
Se vocês acharam 2012 animado,
esperem só para ver 2013…
Texto: Reinaldo Azevedo,
26-12-2012, 05h57
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