Reinaldo Azevedo
Se o ministro Celso de Mello
estiver ao menos parcialmente recuperado de sua gripe, o bastante para poder
participar da sessão de hoje do Supremo, o tribunal deve decidir o destino dos
mandatos dos três deputados condenados no processo do mensalão. Escrevi ontem post a respeito explicando por que a combinação da
Constituição com o Código Penal — aquela fornecendo o princípio, e este, a lei
— já cassou o mandato do trio. E assim, tudo indica, decidirá Celso de Mello.
Muito bem! Não vou entrar no mérito de novo. Os que não conhecem ainda a
argumentação leiam aquele texto. Quero aqui tratar de outro assunto. O
ministro, decano do Supremo, famoso por sua ponderação, notável pela lhaneza no
trato, notório por seu conhecimento jurídico, reconhecido por seu espírito
conciliador, bem, meus caros, esse ministro caiu ontem na teia da Al Qaeda
Eletrônica. Foi satanizado, espezinhado, achincalhado, tratado como chicaneiro…
E TUDO ISSO COM FINANCIAMENTO DAS ESTATAIS.
O governo Dilma, a exemplo do
que se via no governo Lula, permite que o dinheiro público seja usado por uma
súcia para atacar ministros do STF considerados incômodos, personalidades da
oposição e setores da imprensa que esses patriotas chamam de “golpista”. Por
incrível que pareça, a violência retórica da turma aumentou na gestão Dilma.
Há uma espécie de campeonato interno para saber quem consegue ser mais baixo,
mais vil, mais asqueroso. As respectivas áreas de comentários recendem à
fedentina fascistoide.
Eu já discordei de Celso de
Mello? Já, sim! E até duramente. Discordei de Gilmar Mendes — vivem me acusando
de apoiá-lo sempre, o que é besteira — quando recusou a abertura de processo
contra Antonio Palocci, por exemplo. Foi uma das vezes. E até já elogiei um
voto de Lewandowski (no caso do aborto de anencéfalos). Como não existe um partido
que me mande pensar isso ou aquilo, penso isso e aquilo segundo o meu juízo.
Não concordo com pessoas ou delas discordo por princípio. Digo “sim” quando
acho que é “sim” e “não” quando acho que é não.
Critiquei o decano do Supremo
por seu voto no caso das marchas da maconha, por exemplo. Expus os meus
motivos. Mas eu o fiz com o devido respeito. Respeito não à “autoridade” como
encarnação de uma realidade superior. Respeito, sim, à independência do
ministro, de que ele deu provas reiteradas ao longo de anos e de governos
distintos.
Nestes dois dias, no entanto,
o dinheiro das estatais financiou uma campanha sórdida contra Celso de Mello,
acusando-o, de modo bucéfalo, de ser uma espécie de vira-casaca, que ora vota
de um jeito, ora vota de outro. Tentaram o mesmo truque no começo do
julgamento, quando citavam um suposto entendimento seu de que só existe ato de
ofício quando há uma assinatura. E o ministro jamais havia dito ou escrito tal
coisa. Tratava-se de uma leitura errada, feita com as patas dianteiras, de um
voto seu proferido no passado.
Espantoso!
É espantoso que as coisas se deem desse modo. Basta que um ministro do Supremo seja considerado incômodo, e lá está “o sistema” para tentar desestabilizá-lo. Joaquim Barbosa também passou por isso: este, então, transitou da galeria dos heróis (o “nosso negro contra os reacionários”) para a dos vilões (o “negro que nós nomeamos e que nos traiu”).
Lá no Estadão Online, vocês
encontram uma reportagem cujo título é “Marcos Valério nega
autoria de lista que cita o ministro do STF Gilmar Mendes”. Do que se
trata: a revista “Carta Capital”, uma das fartamente financiadas pelas
estatais, publicou um “troço”, a título de reportagem, que anunciava a
existência de uma lista de pagamento ilegais na campanha de Eduardo Azeredo ao
governo de Minas, em 1998. Mendes seria um dos beneficiários.
A acusação veio a público
menos de uma semana antes de começar o julgamento do mensalão. Lula já havia
tentado, sem sucesso, tirar Mendes do processo. Não conseguira. A lista era tão
fajuta, mas tão fajuta, que atribuía ao agora ministro, em 1999, um cargo que
ele só assumiu no ano seguinte. Vale dizer: foi tudo forjado. Até um
senador petista, Delcídio Amaral (PT-MS), considerado inimigo pelos
mensaleiros, foi metido no rolo, o que o levou a divulgar uma dura nota.
Escrevi um post no dia 29 de julho. Vale a pena reler (depois eu conto o que
descobri sobre a reportagem da Carta Capital)
Até senador petista aponta
a pilantragem a que deu curso a revista de Mino Carta e a tentativa de
interferência no julgamento dos mensaleiros
Santo Deus!
A Carta Capital, Mino Carta e
aquela gente asquerosa da Internet financiada por dinheiro público, desta
feita, exageraram na farsa. A revista conferiu ares de coisa séria a uma lista
obviamente falsa, que traz nomes de pessoas que teriam recebido dinheiro do
chamado “mensalão de Minas”. O bandido que fez o trabalho sujo tentou conferir
verossimilhança à picaretagem incluindo até o nome de um petista. E escolheu o
senador Delcídio Amaral (MS), que é do partido, mas não pertence, digamos, ao
núcleo da sigla envolvida com a sujeira dos mensaleiros. Na verdade, ele
presidiu a CPMI do Correios, e muita gente do seu partido considera que não
agiu direito: teria sido imparcial demais…
Como sabem, um dos acusados de
ter recebido dinheiro é ninguém menos do que Gilmar Mendes, hoje ministro do
STF. O “documento” é datado de 28 de março de 1999. Junto ao nome de Mendes,
aparece a sigla “AGU” (Advocacia Geral da União). É coisa de bandido, sim, mas
de bandido vagabundo. Nem teve a preocupação de fazer uma pesquisa no Google.
Mendes só foi nomeado para a AGU em janeiro de 2000. Em março de 1999, era
subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil.
É mais um esforço da
bandidagem para tirar o ministro do julgamento do mensalão. Já haviam tentado
passar essa sujeira para a imprensa séria. Ninguém deu crédito, claro! Mino não
teve dúvida: transformou a farsa em capa de revista e ainda escreveu um
daqueles editoriais furibundos a respeito. E os blogs sujos completaram o
serviço. E, vocês sabem, “serviço compreto é mais caro”…
Pois bem. Delcídio, o senador
petista, divulgou uma nota, reproduzida no site do Senado. Denuncia a farsa e
acusa o óbvio: tentativa canhestra de interferir no julgamento do mensalão.
Como se vê, o esquema não perdoa ninguém. Até gente do próprio partido pode
cair na rede de difamação caso não se comporte direitinho….
Leiam a nota do senador
petista:
Em relação à matéria publicada
na edição 708 da revista Carta Capital, onde meu nome é levianamente citado
como suposto beneficiário de pagamentos efetuados há 14 anos, em Minas Gerais,
esclareço, indignado, o seguinte:
1 – A reportagem se baseia em “documento” de um suposto esquema de caixa 2 que teria ocorrido na campanha eleitoral de 1998, época em que eu não desenvolvia nenhuma atividade político-partidária, nem em Minas Gerais nem em qualquer outro lugar do país. Disputei o primeiro cargo público em 2002, quando, com muito orgulho, me tornei o primeiro senador eleito pelo Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso do Sul.
2 – Se essa “suposta” lista fosse verdadeira, seguramente teria sido utilizada durante a CPMI dos Correios, até para desqualificar os seus integrantes. O próprio advogado do acusado a quem a revista atribui a elaboração do abominável documento nega, com veemência, que seu cliente seja o responsável pelo mesmo, atribuindo sua autoria a um conhecido psicopata e estelionatário, recorrente em fraudes diversas em Minas Gerais, que já foi preso e continua respondendo criminalmente por esses mesmos motivos.
3 – Orgulha-me, e não poderia ser diferente, a imparcialidade, a isenção, o equilíbrio e a serenidade que Deus me concedeu para presidir a CPMI dos Correios, fato que incomodou e, ao que parece, ainda incomoda, muita gente em diferentes pontos do país.
4 – É estranho – ou talvez não — que a reportagem seja publicada justamente às vésperas do julgamento do “mensalão” pelo Supremo Tribunal Federal, o que, para mim, demonstra o inequívoco propósito diversionista de suas intenções, subestimando a inteligência do povo brasileiro.
5 – Aos patrocinadores desse malfadado “documento”, que lembram a famigerada “Lista de Furnas”, outra desastrada trama engendrada por quem tenta confundir a opinião pública em benefício próprio, deixo um conselho: se os fatos apurados pela CPMI dos Correios lhes açoitam, tomem banho de sal grosso!
6 – Estou tomando as providências jurídicas que o caso requer, não só em relação aos autores dos “documentos” e também à revista, mas, eventualmente, às suas indevidas repercussões.
1 – A reportagem se baseia em “documento” de um suposto esquema de caixa 2 que teria ocorrido na campanha eleitoral de 1998, época em que eu não desenvolvia nenhuma atividade político-partidária, nem em Minas Gerais nem em qualquer outro lugar do país. Disputei o primeiro cargo público em 2002, quando, com muito orgulho, me tornei o primeiro senador eleito pelo Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso do Sul.
2 – Se essa “suposta” lista fosse verdadeira, seguramente teria sido utilizada durante a CPMI dos Correios, até para desqualificar os seus integrantes. O próprio advogado do acusado a quem a revista atribui a elaboração do abominável documento nega, com veemência, que seu cliente seja o responsável pelo mesmo, atribuindo sua autoria a um conhecido psicopata e estelionatário, recorrente em fraudes diversas em Minas Gerais, que já foi preso e continua respondendo criminalmente por esses mesmos motivos.
3 – Orgulha-me, e não poderia ser diferente, a imparcialidade, a isenção, o equilíbrio e a serenidade que Deus me concedeu para presidir a CPMI dos Correios, fato que incomodou e, ao que parece, ainda incomoda, muita gente em diferentes pontos do país.
4 – É estranho – ou talvez não — que a reportagem seja publicada justamente às vésperas do julgamento do “mensalão” pelo Supremo Tribunal Federal, o que, para mim, demonstra o inequívoco propósito diversionista de suas intenções, subestimando a inteligência do povo brasileiro.
5 – Aos patrocinadores desse malfadado “documento”, que lembram a famigerada “Lista de Furnas”, outra desastrada trama engendrada por quem tenta confundir a opinião pública em benefício próprio, deixo um conselho: se os fatos apurados pela CPMI dos Correios lhes açoitam, tomem banho de sal grosso!
6 – Estou tomando as providências jurídicas que o caso requer, não só em relação aos autores dos “documentos” e também à revista, mas, eventualmente, às suas indevidas repercussões.
Campo Grande (MS), 28 de julho
de 2012
Delcídio do Amaral Senador (PT/MS)
Delcídio do Amaral Senador (PT/MS)
Caminhando para o
encerramento
Como se nota, até um senador do PT acusou a existência de uma tramoia, citando a “famigerada lista de Furnas”… Pois bem! Sabem quem tinha armado de novo essa falcatrua, tratada pela Carta Capital como se verdade fosse? Nilton Antônio Monteiro, o mesmo que inventou a… “Lista de Furnas”.
Como se nota, até um senador do PT acusou a existência de uma tramoia, citando a “famigerada lista de Furnas”… Pois bem! Sabem quem tinha armado de novo essa falcatrua, tratada pela Carta Capital como se verdade fosse? Nilton Antônio Monteiro, o mesmo que inventou a… “Lista de Furnas”.
A revista VEJA publicou as provas de que a Lista de Furnas era falsa, e eu
publiquei as provas de que a tal lista da Carta Capital, que citava o nome de
Mendes, estava no computador do mesmo lobista e estelionatário.
Tentaram impedir o julgamento;
não deu. Tentaram pegar Mendes; não deu; Tentaram desmoralizar Barbosa; não
deu. Tentaram acusar de irregularidades o procurador-geral da República; não
deu. Tentaram calar a imprensa com a CPI do Cachoeira; não deu. Tentam agora
pegar Celso de Mello… Não dará de novo!
É a marcha dos sem-limites.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 13-12-2012
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