Ano maldito.
Estou me despedindo disso tudo
com dois buracos no coração.
E mais ódio do que jamais
senti.
Em rigor, cada ano é pior do que
o outro. Aqui no inferno, a montanha de merda só se acumula e o fedor só piora.
Mas neste ano apocalíptico, eu
conheci um novo tipo de traição. Pois veio das duas mais antigas pessoas que eu
ainda acreditava que pudessem ser meus amigos. Fui roubado, traído e abandonado
por tipos paradoxais: um homem e uma mulher inteligentes demais de um lado,
burros demais de outro.
Não me deixou surpreso; eu
sempre espero o pior da Humanidade. O que conta aqui é a infinita criatividade
do ser humano em se rebaixar de novas maneiras, cada vez mais torpes, como numa
disputa para ver quem é mais desprezível.
Claro que mais cedo ou mais
tarde a fraqueza mental e a ausência de caráter, princípios e decência fariam
aqueles dois sub-humanos afundarem na própria merda que constitui suas almas.
E considerando que ambos
tinham 40 anos de idade e o vício em crack quando desapareceram, depois de
fazerem a opção pela mediocridade absoluta, não me surpreendeu: apenas me
revelaram um novo patamar de baixeza.
Eu não imaginava que ratos
podiam furar o fundo do poço e chegar ao esgoto caindo tão rápido.
Em outra época, eu desejaria
matá-los com um tiro na cabeça de cada um.
Mais tarde, para não
desperdiçar uma bala, eu ia preferir e espancá-los até a morte. E mais
recentemente, para me poupar do esforço, simplesmente torturá-los durante dias,
até que me implorassem a misericórdia de um fim rápido.
Hoje em dia, eu sei que o
melhor castigo para essa escória de vermes é prolongar o sofrimento deles ao
máximo. Então prefiro deixá-los viverem suas existências de humilhação e dor. A
morte seria uma bênção para aqueles fracassados, perdedores e frustrados.
Certas pessoas não merecem o alívio do Descanso Eterno. E no caso deles, eu me
delicio a cada dia sabendo que sofrem infinitamente mais do que eu.
No final das contas, eles são
os piores inimigos deles mesmos.
Me despeço desse ano com a
trilha sonora adequada: interpretada por aquela cantora de olhar tão
melancólico que parece ter sempre os olhos rasos d'água. Uma implosão de
sentimentos contraditórios resume bem uma vida inteira. Da mais funda tristeza
ao explosivo triunfo. Seja lá qual for.
A canção-tema daquele
aventureiro que levou dois tiros no peito, foi derrubado por "fogo
amigo" e caiu do céu para o fundo do rio, passando pela experiência de
quase-morte e finalmente se reergueu, voltou às origens para um acerto de
contas com o passado e se despediu da casa onde nasceu e cresceu, desabafando
seu sentimento mais sincero e profundo com essas palavras, antes de explodir o
castelo inteiro:
“Eu sempre odiei esse lugar.”
Título e Texto: Ernesto Ribeiro, 31-12-2012
Por essa nem eu esperava:
ResponderExcluirLord Jim,
Estou emocionado. Você publicou minha carta-despedida sem nem me avisar.
Bem, eu admiro o seu bom gosto e sensibilidade.
Gratíssimo!