quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Brasil 2015-2016: Chile 1971-1972

Cesar Maia    
1. No início dos anos 1970, as ideias econômicas de maior sucesso na esquerda latino-americana eram as do polonês Michal Kalecki, que havia chegado à teoria da demanda antes mesmo do que Keynes. O que fascinava mais a esquerda é que as ideias de Kalecki eram naturalmente operacionalizadas como política econômica de governo, entusiasmando a esquerda democrática.
     
2. Dois conceitos eram particularmente caros à esquerda. Num deles, a capacidade ociosa geral na economia, tendo vasos comunicantes, podia ser inteiramente aproveitada com injeções de demanda, estimulando o crescimento econômico e reduzindo a taxa de desemprego.
     
3. Em outro conceito, na medida que num certo momento as decisões de investimento e gasto dos capitalistas já estão tomadas, o aumento da tributação sobre eles incrementa a demanda agregada, pois eles usarão, para cobrir, suas reservas ou recorrerão a empréstimos.
     
4. A estatização do cobre no início do governo Allende garantia as divisas que flexibilizariam as importações para responder a algum excesso de demanda setorial. E o mais importante para eles: se confundiriam com as receitas tributárias, gerando flexibilidade fiscal.
     
5. Assumindo em novembro de 1970, as medidas foram imediatamente implementadas em 1971. A resposta da economia chilena correspondeu ao que a teoria projetava. Em 1971 a economia chilena cresceu mais de 7% e o desemprego baixou a níveis residuais.
     
6. Ao enfrentar a crise financeira internacional de fins de 2008, Mantega e Dilma, fiéis discípulos do Keynesianismo de esquerda, ou seja de Kalecki, implementaram a teoria da demanda efetiva de Kalecki no Brasil.
     
7. A resposta da economia brasileira foi igual à do Chile. O crescimento superou o PIB potencial em 2009 e em 2010, cresceu – por coincidência – os mesmos mais de 7% que a economia chilena em 1971. A taxa de desemprego também diminuiu aos mesmos níveis residuais da economia chilena em 1971. Lula, empolgado e desinformado, esnobou a crise internacional chamando de marolinha.

8. O milagre kaleckiano não durou 2 anos, pois o fator político acelerou o esgotamento do modelo adotado no Chile à época. A receita kaleckiana aplicada no Brasil teve um fôlego maior em outro quadro político. Durou um pouco mais: quase 3 anos.
     
9. Em março de 1973, 2 anos e 3 meses depois da posse, os partidos de apoio a Allende obtiveram um pouco mais de 40% dos votos. Em outubro de 2014, 3 anos e 10 meses depois da posse de Dilma, esta obteve pouco mais de 40% nas eleições.
   
10. A desintegração econômica do Chile em 1972 e 1973 é a que todos se lembram. E agora, no Brasil? Bem, o Brasil – pelo menos – está vacinado contra golpes de estado: as instituições do Estado funcionam. 
Título e Texto: Cesar Maia, 10-9-2015

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