Cesar Maia
1. No início dos anos 1970, as ideias econômicas de maior sucesso
na esquerda latino-americana eram as do polonês Michal Kalecki, que havia
chegado à teoria da demanda antes mesmo do que Keynes. O que fascinava mais a
esquerda é que as ideias de Kalecki eram naturalmente operacionalizadas como
política econômica de governo, entusiasmando a esquerda democrática.
2. Dois conceitos eram particularmente caros à esquerda. Num deles,
a capacidade ociosa geral na economia, tendo vasos comunicantes, podia ser
inteiramente aproveitada com injeções de demanda, estimulando o crescimento
econômico e reduzindo a taxa de desemprego.
3. Em outro conceito, na medida que num certo momento as decisões
de investimento e gasto dos capitalistas já estão tomadas, o aumento da
tributação sobre eles incrementa a demanda agregada, pois eles usarão, para
cobrir, suas reservas ou recorrerão a empréstimos.
4. A estatização do cobre no início do governo Allende garantia as
divisas que flexibilizariam as importações para responder a algum excesso de
demanda setorial. E o mais importante para eles: se confundiriam com as
receitas tributárias, gerando flexibilidade fiscal.
5. Assumindo em novembro de 1970, as medidas foram imediatamente
implementadas em 1971. A resposta da economia chilena correspondeu ao que a
teoria projetava. Em 1971 a economia chilena cresceu mais de 7% e o desemprego
baixou a níveis residuais.
6. Ao enfrentar a crise financeira internacional de fins de 2008,
Mantega e Dilma, fiéis discípulos do Keynesianismo de esquerda, ou seja de
Kalecki, implementaram a teoria da demanda efetiva de Kalecki no Brasil.
7. A resposta da economia brasileira foi igual à do Chile. O
crescimento superou o PIB potencial em 2009 e em 2010, cresceu – por
coincidência – os mesmos mais de 7% que a economia chilena em 1971. A taxa de
desemprego também diminuiu aos mesmos níveis residuais da economia chilena em
1971. Lula, empolgado e desinformado, esnobou a crise internacional chamando de
marolinha.
8. O milagre kaleckiano não durou 2 anos, pois o fator político
acelerou o esgotamento do modelo adotado no Chile à época. A receita kaleckiana
aplicada no Brasil teve um fôlego maior em outro quadro político. Durou um
pouco mais: quase 3 anos.
9. Em março de 1973, 2 anos e 3 meses depois da posse, os partidos
de apoio a Allende obtiveram um pouco mais de 40% dos votos. Em outubro de
2014, 3 anos e 10 meses depois da posse de Dilma, esta obteve pouco mais de 40%
nas eleições.
10. A desintegração econômica do Chile em 1972 e 1973 é a que todos
se lembram. E agora, no Brasil? Bem, o Brasil – pelo menos – está vacinado contra
golpes de estado: as instituições do Estado funcionam.
Título e Texto: Cesar Maia, 10-9-2015
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