Luís Naves
António Costa criou um pântano
e acha que o conseguirá gerir. Na realidade, este PREC light anunciado implica
desenvolver um clima de crispação que nada tem a ver com o país. Utilizará
agressividade retórica e postiça, tomará por reféns os eleitores e a economia,
vai minar a autoridade das instituições democráticas e ameaça transformar o
debate político numa gritaria tola, como já se vê nas redes sociais.
Vivemos num tempo de
hipocrisia e adoração do efémero, onde os valores se esgotaram e já não passam
de palavras esvaziadas, ao serviço de perdedores profissionais com sede de
poder, que assim atraiçoam milhões de eleitores, devidamente aplaudidos pelos fracos
de espírito e pelas claques devoradoras.
O novo poder será precário,
mas tentará usar a seu favor a reacção negativa dos credores europeus e dos
mercados, levando a super-minoria do PS à segunda fase do plano: imitação do
Syriza, com vitimização patriótica. Após seis meses de caos e de lusitânica
bazófia, os socialistas tentarão culpar os outros pelo seu falhanço, fazendo-se
eleger sobre ruínas. O plano parece perfeito, mas exige atirar borda fora a
extrema-esquerda, algures num momento de maior drama, o que parece difícil,
pois conta demasiado com a estupidez alheia.
Quatro anos de sacrifícios
serão também malbaratados em poucos meses, o que revela irresponsabilidade e
desejo infantil de vingança. Provavelmente, a corrida para o precipício
terminará da pior maneira, com o PS irrelevante e cortado às postas, a economia
de rastos, o país cansado da xaropada, talvez até com o segundo resgate à
porta, o menu dos novos sacrifícios a ser lido, com ar severo, por uma troika
qualquer. A ingenuidade de alguns, a cínica ambição de outros, a complacência e
o espírito tribal conjugam-se desta forma perversa para lançar Portugal numa
transição para nenhum futuro.
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