Henrique Monteiro
Andámos anos a dizer que este
era o pior Governo do mundo, ou pelo menos de Portugal. Alguns diziam que era
pior do que no tempo de Salazar; outros que os líderes do Executivo eram
particularmente maus – queriam que os jovens emigrassem; queriam matar à fome
os velhos e acabar com o SNS; queriam mais desempregados, acabar com os
subsídios aos mais pobres. Que apenas os instalados, ricos e boys dos partidos
da coligação podiam apoiar tal camarilha. Ora, como os eleitores aumentaram, na
medida em que a abstenção diminuiu e não pode haver tanto instalado, rico e
boy, só podemos retirar uma conclusão: o povo está doido, enmalucou e quer que
Portugal se afunde
Claro que a esquerda tem uma
hipótese: unir-se toda, o que nunca aconteceu, e fazer um Governo onde Costa,
Catarina Martins e Jerónimo de Sousa nos levem, estrada fora, para um local
qualquer que passará por um segundo resgate ou algo pior.
Falando a sério, a grande
derrota do PS – que começou na forma como Costa retirou o poder interno a
Seguro (coisa que alegrou muito os socialistas e simpatizantes, mas não parece
ter alegrado mais ninguém) e terminou numa campanha de ziguezague que não se
percebeu se o PS queria ir para a esquerda ou para o centro – tem consequências
naquele partido. Não sei se Costa retirará para ele a conclusão que retirou
para Seguro, mas se não o fizer, agora que teve um resultado semelhante em
percentagem, mas pior, uma vez que perdeu, não será algo excelente de se ver.
O Bloco, como se esperava teve
um grande resultado e o PCP aguentou-se. Os pequenos conseguiram algo, mas nada
que se veja verdadeiramente.
A conclusão é esta: Portugal é
o único país da Europa onde, depois de quatro anos de uma política terrível de
austeridade, aqueles que a levaram a cabo conseguem voltar a vencer. O PSD e o
CDS são os grandes vencedores e qualquer tentativa de minorar a sua vitória é
mesquinha. Qualquer tentativa de impedir à priori de não deixar governar quem
vence não faz parte da nossa melhor tradição democrática.
Claro que o PSD e o CDS perderam
muitos votos em relação a 2011. Mas a verdade é que o PS quase não apanhou
nenhum deles e que a diferença entre a coligação e o PS é suficientemente
grande para lhes dar a oportunidade de governar (obviamente em diálogo com o PS
em todos os aspetos relevantes).
O povo não se rendeu ao medo,
nem ficou louco. O que devemos refletir, com muito cuidado e profundamente, é
nesta enorme clivagem entre a opinião publicada e a opinião dos portugueses nas
urnas. Por cada Pacheco Pereira que dizia do Governo o que Maomé não dizia do
toucinho, quantas pessoas fora da área do poder ouvimos dizer que o Governo
estava a fazer bem? Por cada pessoa que bramava contra o Passos, quantos
ouvimos a apoiá-lo?
Este é o ponto mais importante
para nós, jornalistas.
Para o país, teremos de ver o
que se passará. É necessário que a coligação, caso forme governo estável, não
desfaça o que fez. O apoio que teve deve-se, em grande parte, à promessa de
reformas, de mudanças, de adaptações a um mundo que mudou e que os socialistas
não quiseram ou não puderam acompanhar.
O resto é conversa…
Título e Texto: Henrique Monteiro, Expresso,
5-10-2015
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