sábado, 5 de dezembro de 2015

"Dilma no limite"

Carlos José Marques

Tamanha é a paralisia do Estado e a decadência do Congresso que todos estão a se perguntar o que será do Brasil daqui para frente?

Consenso: com Dilma no poder, a crise econômica e o caos político estão contratados pelos próximos dois anos, ao menos. Como enfrentar 2016 em meio à guerra institucional, a corrupção endêmica no Planalto – que teve como último alvo, pilhado em flagrante, ninguém menos que o líder do Governo, Delcídio do Amaral - e a inabilidade de gestão da mandatária?

Na semana passada, uma resposta começou a surgir no horizonte com a aceitação do processo de impeachment. Salvo os habituais bajuladores de plantão da presidente, que ali estão em troca de benesses, a notícia foi recebida com certo desafogo. Entusiasmo até. É sabido que a esmagadora maioria da população (como as pesquisas atestam) deseja Dilma fora. Nesse batalhão encontram-se trabalhadores, empresários, estudantes, o mercado financeiro nacional e global, boa parte dos partidos políticos - PT inclusive, que veladamente torce o nariz às suas deliberações – e até assessores mais próximos. Ministros criticam abertamente a chefe e o seu imobilismo. Não lhe dão ouvidos, nem arriscam palpites.

Ninguém mais se entende no Executivo. Mesmo o mentor e padrinho, Lula, já percebeu que o seu melhor caminho é sem ela. Com Dilma a arrastar a sangria da máquina pública até às próximas eleições, as chances do petista estarão definitivamente anuladas. Com a retirada da pupila, ele passa à oposição e conseguirá, certamente, olhares mais complacentes (e até algum apoio) dos adversários contra as investigações dos desvios que os comandados eventualmente cometeram aqui e ali.



Depois de amargar a prisão de nomes históricos de seus quadros e de dois ex-tesoureiros, O Partido dos Trabalhadores busca garantir a própria sobrevivência e nesse sentido, a mando de Lula, posicionou-se contra a permanência de Eduardo Cunha no controle da Câmara. Foi um ponto de inflexão importante!

Contrariando recomendações diretas do Planalto, que queria fechar um acordo com o desafeto, o PT optou por deixar Dilma à própria sorte e tentou limpar a imagem já chamuscada da legenda resistindo, ao menos uma vez, à barganha rasteira. A guerra fratricida está aberta, muito embora o jogo de aparências, com demonstrações públicas de afeto, siga em frente.

A sequência de equívocos presidenciais e as iniciativas fracassadas de composição ruíram com as chances de um governo realmente representativo.

Por atos e omissões, isolada na soberba, Dilma perdeu a capacidade de continuar no comando. Seu prestígio vai ladeira abaixo. Nos últimos tempos ela se preocupou basicamente com as miudezas da barganha política. Mandou às favas qualquer prioridade de natureza social. Concentrou esforços no esquema deplorável do toma-lá-dá-cá.

E vai seguir nele, levada pela ilusão de que irá garantir assim a continuidade. Lastimável! No cômputo geral, o primeiro ano de seu segundo mandato foi um desastre. Com toda a sorte de desatinos possíveis. Inclusive crimes de responsabilidade! Tirar as pedaladas fiscais dessa rubrica é sofismar os fatos. Ocorreu uma adulteração grave das contas públicas. E o processo de impeachment tem dessa maneira contexto e base legal para seguir adiante.

Cunha, o deputado enrolado, deu apenas andamento a algo que obedecerá trâmites constitucionais, com ampla participação do parlamento, longe das descabidas ilações sobre golpe. As lideranças precisam agora tomar as rédeas para que uma nova perspectiva, mais favorável à Nação, se apresente rapidamente. Só dessa forma haverá uma revisão de humores, uma retomada da confiança – vital para que o País saia do atoleiro. Essa reviravolta de expectativas já foi, aliás, sentida ato contínuo a aceitação do impeachment. O mercado financeiro reagiu com uma euforia poucas vezes vista nos últimos tempos, como a defender que a era Dilma está no limite. Bolsa em alta e câmbio em regressão acentuada deram claras demonstrações de torcida por uma mudança de rumo.

Os investidores, ao expressar em números os anseios nacionais, “precificaram” como excelente a eventual retirada da presidente. Isso diz muito do clima predominante, mas a mobilização da opinião pública neste momento será o fiel da balança para que o processo ganhe força e supere as negociatas em um Congresso fragmentado e consumido por escândalos. 
Título e Texto: Carlos José Marques, diretor editorial, revistaIstoÉ, 5-12-2015



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