Luciano Henrique

Na avaliação do movimento, com
o recesso, os deputados voltarão para seus Estados e serão pressionados por
suas bases eleitorais. Também haverá mais tempo para a população sentir os
efeitos da crise – piorando o humor em relação a Dilma. A população tem que ter
esse tempo para compreender o crime fiscal [de que o governo é acusado] e, ao
mesmo tempo, sentir as consequências da crise gerada pela própria presidente. E
tem mais os desdobramentos da Operação Lava Jato, com novas delações.
Nada de errado, certo?
Porém, Fernando Brito, da
BLOSTA, foi para o jogo, como não poderia deixar de fazer. Leiam:
O rapazote que é promovido
pela mídia como grande ideólogo “coxinha”, Kim Kataguiri, expôs hoje na Folha a
desfaçatez típica do pensamento nazistóide, que encara a população como uma
massa a ser impiedosamente manobrada como ferramenta de seus interesses
políticos. Ele defendeu – como seus líderes do PSDB fizeram ontem – que os
deputados entrem de férias, deixando parado o processo de impeachment, para
que, neste tempo “a população (…) possa sentir as consequências da crise”. […]
Alguém queria um exemplo mais claro do que é o tal “quanto pior melhor”? Ou do que é indiferença, falta de compaixão e
maldade para com o sofrimento das pessoas humildes? Ou de como uma pessoa jovem
pode ter um pensamento velho ao ponto de achar que os pobres merecem é castigo
para aprenderem?
O que ele fez aqui?
Simples. Apelou ao coração do
povo, rotulou o oponente incessantemente – ou seja, não entrou para o debate
político com se estivesse debatendo em Oxford – e, uma bela tacada (que tem
sido difícil da direita compreender), apontou a má intenção do oponente. (E
pior que nesse caso nem havia a má intenção, mas, Brito, jogo é jogo)
Acho que esta é a lição
fundamental a ser tirada.
Nós, da direita, criamos a
mania de chamar Dilma de “incompetente” e “uma presidente que cometeu vários
erros”. Me desculpem, mas esta é uma avaliação errada e incompetente, uma vez
que ela é extremamente competente em seu projeto de saquear o Brasil, afugentar
investidores e aumentar o poder de seu partido. Quanto mais a população sofrer,
melhor para ela. Quem conquista aquilo que quer não é incompetente, mas o
oposto. Dilma é extremamente hábil em toda sua implementação socialista. O
sofrimento das pessoas humildes e a destruição do sonho dos brasileiros é tudo
aquilo que ela e seu partido depravado querem, pois, sem isso, não consegue
concentrar poder. Infelizmente, nada disso existe no discurso de boa parte da
direita.
Pode parecer um detalhe, mas o
discurso dizendo que “Dilma cometeu erros, desastres e é uma trapalhona” é o
oposto daquele que diz que “Dilma destruiu intencionalmente nossa economia”. Ou
sua comunicação contém a primeira mensagem, ou contém a segunda. Se for para
misturar as duas noções no mesmo conteúdo, o cérebro entrará em curto-circuito.
Quando é aceito pelos seus, o
discurso de Fernando Brito consegue causar sensações de repulsa verdadeira.
Quando a mesma aceitação ocorre com o discurso que a direita elaborou para
definir Dilma como “uma presidente que cometeu muitos erros” – ao invés de
definir o colapso econômico como parte de usa intenção -, as sensações geradas
incluem repulsa moderada e até uma certa compaixão. Compaixão esta que
destinamos, subconscientemente, aos “coitadinhos enganados”, mas não aos
mal-intencionados. Ao nos recusarmos a apontar a má-intenção de nossos
oponentes, optamos por sensações muito mais brandas contra eles a cada vez que
nossa mensagem for aceita.
É uma verdade desagradável,
mas, no controle da narrativa, o PT está ganhando de goleada, mais ainda do que
aconteceu nas eleições de 2014. Tomara que venha o recesso, pois, principalmente,
precisamos melhorar nossa linguagem. Precisamos derrubar o mito da coitadinha
enganada, e estabelecer a verdade de que Dilma é cruel, maquiavélica, sórdida,
sem compaixão, e, por isso, comanda um projeto para destruir a economia
intencionalmente.
Tomar a escolha por este
discurso pode fazer a diferença a nosso favor. Ignorá-lo significa já na
largada dar vantagens discursivas absurdas ao oponente. A política é bela
especialmente por essas escolhas que fazemos.
P.S.: Este post não é um puxão
de orelha no MBL, até porque acho que eles, em geral, estão com o discurso mais
acertadinho em todos os movimentos de direita. É uma conscientização geral, em
larga escala, para todos nós, em diversos movimentos, cenários, ambientes,
meios, etc.
Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 5-12-2015
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