Aparecido Raimundo de Souza
Qual seria, na sua concepção, meu caro leitor amigo, a
mulher perfeita? Acaso aquela que os antigos veneravam como a “Amélia que era
de verdade, que não fazia exigências, que passava fome e achava bonito dormir
no chão”, eternizada nos versos de Ataulfo Alves?
Ou por outra, uma mistura de Marilyn Monroe em “Nunca fui
Santa” e Anita Eckberg em “A Doce Vida de Fellini?”. Afinal, qual seria a
mulher dos sonhos de cada um de nós, simples mortais? Na prática, a que o
Roberto Carlos imortalizou na sua “Mulher de 40?”. Será que essa beldade ainda pode ser encontrada
nos dias de hoje, numa esquina qualquer do destino?
Segundo uma determinada corrente, a mulher ideal é como peça
rara de museu. Joia não encontrada em lugar nenhum, principalmente em
joalherias de shopping. Embora tenha a concepção de um diamante não lapidado,
jamais será vista em lugares como Serra Pelada.
Há os que a definem como aquela que não gasta telefone, nem água, nem
luz, nem bebe refrigerante em excesso.
A mulher ideal não frequenta salões de beleza requintados,
não faz fofoca com as amigas, não pinta as unhas de vermelho. Não tinge os
cabelos com cores berrantes, não usa brincos, dispensa os piercings, nem raspa
as pernas. Não usa sapatos de grife, nem veste roupas caras nem põe os cartões
de crédito do marido à beira de um ataque de histerismo, porém, o do amante,
sai de baixo.
A mulher ideal é tão perfeita que não gasta, ou melhor, não
desperdiça sabão em pó, nem água sanitária. Não usa o fogão, e, por via de
modelo, mantém sempre cheia a botija de gás, principalmente se for de rua. É adepta do “gás de cuzinho”, que pode ser
usado com qualquer tipo de mangueira, mesmo aquelas vagabundas que não levam
braçadeiras. A mulher ideal não quebra copos, não suja pratos, nem diz
palavrões. Tampouco peida em festinhas de crianças ou reuniões importantes.
Alheia a caras feias e semblantes fechados, não seduz, se
deixa ser cantada, emprega seus dias da melhor maneira, tentando aprimorar o
conhecimento e expandir os horizontes, nem que seja para ver estrelas em pleno
meio dia. Jamais paga o mico de xingar seu amado quando ele chega quase ao
romper da manhã cheirando a perfume barato, e, de lambuja, ostenta uma mancha
de batom no colarinho da camisa.

A mulher ideal sabe como ser a amante exata, a puta
completa, sem deixar vestígios. Igualmente sabe distribuir seus encantos e
atributos na medida certa, e acima de tudo, aprende com a convivência diária
como deixar o coração da sua cara metade com as batidas descompassadas, mas sem
que o sujeito tenha um enfarto e caia “mortalmente fulminado”. Isso seria fácil
demais e daria muito na pinta, trazendo a polícia a tiracolo.
A mulher ideal não usa óculos escuros, jamais sai de casa de
saia comprida, é vidrada em calcinhas minúsculas e veste sempre blusinhas que
deixam os peitinhos em constante estado de ebulição. A mulher ideal é lógica, e
dentro dessa lógica, não comete certas asneiras como: arranjar um cara duro que
pinte no pedaço só para tirar “umazinha”, também não trai, não flerta, ou
arranja uma barriga indesejável só para dizer para as amigas que a gravidez é
linda.
Extremamente fina e requintada nos menores gestos, a mulher
ideal se assemelha àquela marca italiana e muito cobiçada de automóvel, a Ferrari.
É sensual, nunca passa dos vinte anos, vive nativa do seu ar de superioridade,
ao mesmo tempo, é humilde, a ponto de se mostrar soberba e impecável no andar,
no modo de se apresentar e de se vestir. Sabe como atrair os opostos sem trair
os sentimentos verdadeiramente de quem ama e os deixar expostos, a céu aberto.
A mulher ideal não se importa com a pouca carne da bunda magra, nem em
transformar os pneuzinhos e culotes em fantasmas a lhe assombrarem diante do
espelho.
Milagrosa, consegue frequentar academias sem aparecer por
lá, como igualmente, ao visitar o dentista deixá-lo de boca geometricamente
aberta. Faz chover em dia de sol, nevar em pleno calor e, quando gosta de
verdade, deixa que a volúpia do amor maior atravesse o corpo da criatura que ama,
de um lado para outro, sem se importar com seu coração safenado.
Para outro segmento, ou seja, para aqueles que desconhecem
completamente a mulher ideal, a mulher ideal é mais complexa que qualquer
complexo por mais complexo que possa parecer: escorregadia, gentil, não
contesta, seduz com palavras as próprias palavras, não pensa em luxúria, não se
embriaga, é tolerante e não tropeça na estupidez das desvairadas, nem se deixa
dominar pela burrice enfática das falsas loiras.
É acima de tudo forte, briguenta, boa no meio do campo, sabe
chutar as bolas para o gol, e, no momento exato, derrubar o goleiro por mais
forte e esperto que seja, ou queira parecer, diante da sua rede. A mulher
ideal, no todo, é livre de pensamentos impuros, conhece os direitos melhor que
qualquer advogado, sentencia uma causa como nenhum juiz seria capaz de fazê-lo.
É a tábua da salvação para o náufrago, a boia para o desesperado no meio do
rio, a respiração boca-a-boca, quando a vida de um moribundo apaixonado está se
esvaindo.
É ainda um pouco mais: pode se transformar na maca para
alojar um atropelado no meio da avenida, ser como o sol quente que brilha
resplandecente quando o frio gélido insiste em apertar os ossos. Para os
filósofos e pensadores, a mulher ideal é aquela criatura divina, imaculada, que
procura, acima de tudo, uma razão para viver, para buscar a si mesma, sem se
perder na procura. Entusiasma-se com aquelas que almejam um ideal e o alcançam
sem pisotear nas que vêm logo atrás. Para os loucos, bem, para os loucos, a mulher
ideal é aquela que beija os pés, ajoelha, reza, engole o suor supremo com o
objetivo de alcançar o êxtase da fome que a devora por dentro. É a regra que
quebra todas as regras e exceções, que passa por cima de tabus e preconceitos e
supera o insuperável dentro do aparentemente imbatível.
É ainda, a mulher ideal, a que fala a língua dos homens e
dos anjos, como também a do diabo. Para
os aficionados em sexo, a mulher ideal é aquela que já vem com as turbinas
esquentadas, pronta para voar. A que se abre gulosa, e convidativa, a um
passeio agradável por suas dobras, falhas, taras, rugas, fraturas, gomos,
úvulas e goelas e, vive somente para se doar, se entregar, se permutar, servir,
e dar... sobretudo, dar.
Não só dar, na acepção chula da palavra, mas igualmente dar
e receber, ser tocada, tocar, sentar no pesado, engolir a cobra que está lhe
dando o bote, gozar com os músculos retesados da linguiça que o seu homem
trouxe da rua e nela colocar o seu tempero secreto, a sua massa de tomate, o
seu coentro, misturar salsa, cebolinha, pedacinhos de pimentão e uma
derramadinha quase invisível de bom óleo português e, em seguida, enfiar tudo
na panela e fritar. Cozinhar a fornicação, até que a “trepada” tome forma e
vida e acabe virando comida de primeira, incendiada entre fantasias libidinosas
em escalas interplanetárias.
Para os demais, ou para o resto, para a ralé, enfim, a
mulher ideal é a que não é ideal nem tem nada de ideal. O que realmente conta,
é que a sua forma não existe. É utópica, inventada, impossível, onipresente,
onissapiente como Deus no céu. E pior, senhoras e senhores, nasceu morta, ou
melhor: sequer chegou a ser concebida.
AVISO AOS NAVEGANTES:
PARA LER
E PENSAR, SE O FACEBOOK, CÃO QUE FUMA OU OUTRO SITE QUE REPUBLICA MEUS
TEXTOS, POR QUALQUER MOTIVO QUE SEJA VIEREM A SER RETIRADOS DO AR, OU OS MEUS
ESCRITOS APAGADOS E CENSURADOS PELAS REDES SOCIAIS, O PRESENTE ARTIGO SERÁ
PANFLETADO E DISTRIBUÍDO NAS SINALEIRAS, ALÉM DE INCLUÍ-LO EM MEU PRÓXIMO LIVRO
“LINHAS MALDITAS” VOLUME 3.
Título e
texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. Do Sítio ”Shangri-La” – Um lugar perdido no meio do nada. 5-3-2017
Colunas anteriores:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-