Ingrid Riocreux
O que temos descoberto,
através destes exemplos, é que designar
e descrever, na boca do Jornalista –
e apesar dele –, é julgar.
Apesar dele? Tomemos um
exemplo sem grande incidência. O jornalista que comenta o jogo para computador
na France Info ignora manifestamente que o adjetivo medioso (moyenâgeux) não
é um elogio. Parece que ele o confunde com medieval (que significa “da Idade
Média”), palavra que talvez ele ignore a existência. Senão, como explicar que
ele possa elogiar, no tal novo jogo, “um magnífico cenário medioso”, e em outro “um cenário medioso e cavalheiresco”. Que belo oximoro; ele quase vale a obscura realidade que, sob a pluma de
Corneille, caía das estrelas.
O impacto da conotação afeta
igualmente o uso dos afixos (prefixos e sufixos). Assim, o antiamericanismo não é americanofobia.
O primeiro é uma postura positiva, que podemos declarar e da qual pode se ter
orgulho. A segunda é um defeito, um insulto mesmo. O sufixo – fobia era, originariamente, reservado às
patologias psiquiatras: aracnofobia, nictofobia, claustrofobia, etc. Tornou-se
um meio cômodo de desacreditar um adversário. Os termos em – fóbios são particularmente afetados nos
média de massa. Contudo, estas palavras não constituem caracterizações
objetivas. Tal como “fascista” e “racista” que perderam quase completamente as
suas definições originais, os -fobias
atuais são insultos, ferramentas de slogans, ataques gratuitos que permitem
transformar o adversário ideológico em inimigo, poupando o trabalho da
argumentação.
Aliás, é por essa razão que é
absolutamente inútil de se defender. Durante as manifestações dos opositores ao
‘Casamento para Todos’, os participantes interrogados pela imprensa começavam a
sua resposta com “nós não somos, de jeito nenhum, homofóbicos”. Mas o simples
fato que eles estivessem se manifestando contra o ‘Casamento para Todos’
significava, para os seus adversários (de esquerda), uma iniciativa homofóbica.
Os manifestantes não se consideravam homofóbicos, conforme a sua própria
definição de homofobia; e os adversários os acusavam de ser homofóbicos,
conforme definição deles. Em outras palavras, o termo homofobia não tem
significado estabelecido, ele tem o (significado) que lhe demos, para as
necessidades da causa, naquele determinado quadro conjuntural. Na realidade,
ele não tem nenhum sentido (o “medo do mesmo”?): se quiséssemos falar
corretamente, diríamos homossexualofobia. Rigorosamente, não deveríamos mais
dizer homossexualidade, mas homofilia, ou homossexofilia. Homofobia seria então
homossexofilofobia. Prossigamos. O que nos interessa, é a fortuna midiática do
termo que se impôs: homofobia.
Etimologicamente mal
concebido, é alvo de uma imprecisão semântica que autoriza a designação, e a
condenação em bloco, de realidades bem diferentes. É prático – ou perigoso,
conforme o ponto de vista. Efetivamente, a sua utilização é cômoda, pois
permite apagar a diferença entre, vamos dizer, o troglodita que adora “bater em
veado”, o religioso que considera a homossexualidade como pecado e o
homossexual que milita contra o casamento gay, pois não o considera uma
concepção tradicional da união conjugal.
(...)
Título e Texto: Ingrid Riocreux, in “La langue des
médias – Destruction du langage et fabrication du consentement”, páginas 143,
144, 145, e 146.
Tradução: JP
Tradução: JP
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A próxima tradução: islamofobia.
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