Aparecido Raimundo de Souza
CONTA COM MUITA PROPRIEDADE e força de expressão a
piada abaixo, que Adolf Hitler, em uma de suas reuniões, com seus soldados do
Partido Nazista, pediu a um deles que lhe trouxesse uma galinha.
- O senhor quer a penosa como? Ensopada, ao molho
pardo, com quiabo ou assada ao forno a fogo brando, a filé à milanesa, ou
empanada com recheio de queijo?
- Deixa de palhaçada. Quero ela viva, seu imbecil.
- Viva? Não estou entendendo...
- Não há o que entender ou discutir. Corra atrás
de uma antes que eu pegue você de jeito.
- Sim, senhor.
O sujeito bateu continência e saiu apressado,
porta afora, a cumprir as ordens do seu comandante.
Coisa de meia hora depois, de fato, voltava o
soldado com o pedido em uma espécie de sacola improvisada. A penosa estava de
cabeça para baixo, somente o bico de fora, aberto, em face do calor reinante.
Assim que a recebeu do subalterno, Hitler a agarrou forte com uma das garras
enluvadas, enquanto, com a outra, a depenava de forma desumana e impiedosa. À
medida que a livrava das penas, berrava, eufórico:
- Heil, Hitler...
Todos os presentes repetiam em cantochão:
- Heil, Hitler...
Nesse chove não molha, a indefesa e pobre, sem
saída, desesperada pela dor agonizante, queria fugir, todavia, seus esforços
redundavam em desacordo com as suas vontades. A mão do Chanceler do Reich que a
detinha o fazia com força descomunal, assim como a que lhe aplicava o
degradante e ignominioso castigo.
E que castigo era esse? Hitler arrancava, com
força, uma a uma, as suas penas. Enquanto maltratava a pobre indefesa,
desprotegida e desarmada, rindo como um desmiolado, o vilão aproveitava para
dizer alto e em bom tom, a seus colaboradores:
- Agora, observem o que acontecerá. Heil, Ritler!
E os paus mandados devolviam a saudação como
vaquinhas de presépio:
- Heil, Ritler!
Adolfo num dado momento, soltou a galinha no chão
e se afastou um pouco dela. Pegou um punhado de grãos de trigo sobre uma pia
imunda e, em seguida, começou a caminhar pela sala, em ziguezague. À medida que
o fazia, atirava à coitada esses alimentos pelos assoalhos afora. Seus
colaboradores assistiam atônitos e assombrados.
A infeliz galinha, assustada, dolorida e sangrando
bastante, seguia as carreiras, ora cambaleando, ora se arrastando, atrás de seu
perverso castigador. E o fazia numa afoiteza enervante. Tentava abocanhar as
duras penas (imaginem, a duras penas), alguns restos, dando voltas e voltas
pelo cômodo enorme, passado por debaixo de mesas, cadeiras, contornando sofás e
outras tranqueiras que adornavam o aposento.
A galinha seguia Hitler fielmente por todos os
lados. E não desistia, embora parecesse cansada, amargurada pelas apoquentações
dos apertos atormentantes criados pelas dores de ter sido fustigada sem nenhuma
razão aparente. Na verdade, seu corpo frágil e débil, fora duramente flagelado,
a sanha de um degradado que não tinha coração. Homem frio, nojento, asqueroso,
perverso. Esse era Adolf, o carrasco.
De repente, o alemão infame parou. Sorriu com seu
bigodinho de veado malcomido. Encarou seus pares. Todos, ali, estavam sem ação,
totalmente surpreendidos. Então, o homem forte, Führer da Alemanha Nazista de
1934 a 1945, deu a paulada final, a cacetada aniquilante. Expôs, a boca
espumando:
- Prestem atenção ao que direi agora. Anotem para
não esquecer. Assim, facilmente, meus caros camaradas, se governa os estúpidos,
os áridos, os insuportavelmente brutos e sem inteligência.
Dessa forma se traz sobre o cabresto, sobre a
chibata, sobre as botas, os boçais, os vazios de ideias e ideais, os
inconsequentes que se deixam levar pela imbecilidade. Viram como a galinha
grudou em meus calcanhares, como a multidão estabanada querendo pular por cima
de um muro inexistente? Apesar da dor ingente que lhe causei, ela não desistiu.
Percebam que lhe tirei tudo. As pelugens... deixei-a mercê da própria fatuidade.
Tripudiei sua dignidade, despojei-a do que mais belo possuía. As penas.
Elas eram a sua vestimenta. O seu escudo, a sua
força, o seu refúgio. Eram esses pelos que cobriam as suas vergonhas, que
agasalhavam as suas pudicícias, tapavam seus decoros, engalanavam suas
distinções e a sua honradez. Entretanto, ainda dessa forma, desprovida dessa
cobertura que a põe nua, destituída de suas virtudes, escalvada, desguarnecida,
vazia, vencida, humilhada, escarpelada, me seguiu e se eu voltar a insistir, se
eu a chutar com fúria, ela continuará em minha aba, à cata de novos farelos.
Moral da história, caros amados.
De igual maneira essa pequena grande lição, nos
serve de aprendizado. A maioria das
pessoas, senhoras e senhores, segue seus governantes e políticos. Não importa a
bandeira do partido. Simplesmente esses malucos vão em caminho às cegas, no
encalço, apesar da dor vexatória que estes lhes causem e, mesmo lhes tirando a
saúde, a educação, a moral, manchando o bom senso, pisando a dignidade, a
batuta do valoroso, pelo simples gesto de receber um benefício barato ou algo
para se alimentarem, por um ou dois dias, a galera dos debiloides seguirá
aquele (ou aqueles) que lhes dará as sobras, os restos do que foi endereçado ao
cesto de lixo.
Essa via de mão única, amadas e amados, é a
realidade da grande maioria dos brasileiros. De todos, sem exceção. Um povo
pobre, uma gentalha fodida, uma multidão sem eira, nem beira. Um bando de
palhaços e bufões, que se curva, que se sujeita, que se entrega, vencido,
cansado, oprimido, quando deveria ter vergonha na cara e lutar. Pugnar para se
ver longe da devastação, da merda nojenta que os canalhas, os salafrários, os
bandidos travestidos de parlamentares do planalto central impõem à nação
inteira.
Somos, pois, um punhado de cocô elevado à bacia da
privada mais nojenta que possa existir na face da terra. Perante esses párias,
nos tornamos um zero à esquerda. Corpos sem vida, cadáveres à procura de um
lugar para enfiarmos a nossa burrice sem fronteira, a nossa honra, a nossa
moral, enfim, a carcaça e os ossos apodrecidos.
Em face desse quadro lastimoso, indecoroso, cai
por terra aquela frase vagabunda, prostituída, marginalizada: “TODO PODER EMANA
DO POVO E EM SEU NOME É EXERCIDO”.
Mentira deslavada. Sem nexo. Somente uma cambada de filhos da puta
acredita nessa balela. Somente um país devastado, desgastado, sujo, imundo, crê
que o poder (ou todo o poder) emana de suas raízes.
Pobres galinhas. A historinha que trouxemos serve
de exemplo de patamar, para todos nós, vagabundos, ordinários, bobalhões e
manés. SOMOS GALINHAS. O POLEIRO ESTÁ ARMADO EM BRASÍLIA. Nesse poleiro, sujo
moram os senadores, os deputados, os presidentes, os ministros, a justiça...
nesse imenso poleiro estão os galos. Cantam como tal. Ciscam ariscos. Falam
bonito, discursam palavras melosas. Entretanto, APESAR DE VIVERMOS, ou melhor,
de vegetarmos em derredor dele, NOS TORNAMOS UM BANDO DE GALINÁCEOS DA PIOR
ESPÉCIE.
E nesse viver sem amanhã, sem talvez, aqui estamos
à espera, com nossos rabos direcionados às esporas dos galos popozudos. Com
nossos traseiros virados, prontos, lavadinhos, perfumados, à espera dos ferros
entrando em rotas de estupros. De verdade, senhoras e senhores? MERECEMOS!
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. De Vila Velha, no Espírito
Santo. 20-10-2017
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