Rui Ramos
A moda de comparar qualquer líder da
direita com Trump, e Trump com o diabo, é uma complacência niilista que impede
o debate político e tornará o público indiferente a um verdadeiro diabo.
A recepção mediática ao novo
primeiro-ministro inglês tem sido um dos espetáculos mais bizarros dos últimos
anos. Lewis Carroll não teria conseguido imaginar nada de mais absurdo.
Boris Johnson [foto] tem um diploma em Estudos Clássicos por uma das melhores
universidades do mundo? É um bronco analfabeto. Boris Johnson formou o governo etnicamente mais diverso da história do Reino Unido,
com filhos de imigrantes (Priti Patel e Savid Javid) em dois dos ministérios mais importantes? É
racista. Boris Johnson prometeu garantir os direitos dos cidadãos da UE no
Reino Unido após o Brexit? É xenófobo. Boris Johnson anunciou grandes
investimentos nos serviços públicos? Vai destruir o Estado social.
Podia continuar, mas não vale
a pena. Já devem ter percebido a ideia: Boris Johnson tem de ser bronco,
racista, homofóbico, machista, e fascista, custe o que custar à realidade. Têm
essas imputações alguma coisa a ver com o que o homem é, disse, fez ou vai
fazer? Não. Boris Johnson é tudo isso, apenas porque os seus inimigos julgam
que lhes convém atacá-lo segundo a cartilha com que Trump ou Bolsonaro são atacados
nos EUA e no Brasil, independentemente de quaisquer factos.
Estou a dizer que Boris
Johnson deveria ter sido recebido como o Messias em Jerusalém? É claro que não.
Johnson é líder do Partido Conservador e primeiro-ministro de um governo que
promete cumprir a vontade dos cidadãos do Reino Unido expressa no referendo
sobre a União Europeia.
É natural que não fosse
abençoado pela esquerda ou pelos adeptos da opção rejeitada em 2016.
Mas o modo como o atacam é
interessante. Há trinta anos, este antigo aluno de Eton e de Oxford, capaz de
citar de cor poemas em grego antigo e em latim, teria sido denunciado ao
proletariado das fábricas e das minas como mais um esnobe. Agora, porém, parece
que o que convém é o contrário: assustar as elites metropolitanas da era do iPhone
e do Starbucks com a ideia de que vem aí um Espártaco, rude e sanguinário, à
frente da plebe excitada pelo Brexit.
Quando, curiosamente, Boris
ainda era, há uns dez anos, o único conservador popular entre essas elites
metropolitanas, que então o achavam culto e divertido. Por isso, aliás, foi
eleito e reeleito mayor de Londres.
Quero sugerir que a imprensa
está a ser injusta, por que Boris Johnson é impecável e vai resolver tudo?
Também não. Johnson não é obviamente São Francisco de Assis, porque senão nunca
teria chegado a primeiro-ministro. Os seus pecados e extravagâncias, porém, não
são mais relevantes do que os de grandes primeiros-ministros do passado, como
Disraeli ou Churchill.
Provavelmente, enfrentará a
mesma via sacra de Theresa May, e pela mesma razão: a tentação das facções
parlamentares britânicas de usarem o processo do Brexit para mudarem de
primeiros-ministros. Mas a atual moda de comparar qualquer líder da direita com
Trump (para grande divertimento do presidente americano), e de
identificar Trump com o diabo, é uma complacência niilista. Parece que à
medida em que estão em causa coisas fundamentais – no caso do Reino Unido, a
relação com a UE — , mais o debate político deixa de ter qualquer relação com a
realidade, e passa a desenrolar-se a um nível de fantasia apocalíptica, onde os
protagonistas de que não gostamos têm por força de ser uma mistura de Hitler
com um palhaço.
Há dois riscos aqui. O
primeiro é o da dificuldade de debater racionalmente, quando a democracia – é
bom lembrar – pressupõe o debate, isto é, que é possível acreditar e querer sem
deixar de ser lúcido e justo. O segundo é tão mau como esse: de tanto vermos
lobos em todo o lado, tornarmo-nos indiferentes aos verdadeiros lobos.
Título e Texto: Rui Ramos,
Observador,
26-7-2019
Quando eu vejo escrito a palavra democracia, sinto que as pessoas não buscam a história, para reaver seu verdadeiro sentido.
ResponderExcluirNa antiga Atenas havia artistas, artesãos, lavradores, enfim pessoas que tinham atividades para os outros. Quando um destes sofria um acidente, estava condenado a viver de esmolas, de ser um problema pra as famílias, aquele trambolho que hoje o mundo democrático chama de "especiais.
Por isso criaram um sistema de impostos pago pelos que produziam para sustentar os impossibilitados nas suas velhices e doenças incapacitantes.
Essa previdência era a DEMOCRACIA dos atenienses.
Hoje no século XXI as pessoas criaram o conceito de que liberdade é a verdadeira democracia.
Mentem para si mesmos.
Os Atenienses escravizavam outros povos, tinham leis severas para crimes entre os cidadãos.
Eram livres.
Podiam dizer o que quisessem sem cometer injúrias e falsos testemunhos.
Diferente do hoje, onde não podemos calar as injúrias e os falsos testemunhos porque ferimos a democracia.
Quando falam de aumentar impostos, eu raciocino que ao pobre é que vais pagá-los, o produtor aumenta os produtos, o empresário recebe em dinheiro ao vivo, muitos retiram seus "pró labore" em dinheiros reais, sem pagar os impostos, depositam em aplicações sem impostos, e como nababos reais coletam dos mais necessitados.
Acredito que no mínimo 50 milhões de brasileiros podiam contribuir com 30,00 reais por mês para ajudar o governo na saúde, na educação e na DEMOCRACIA.
Isso daria cerca de 2 bilhões ao ano.
O consumo de cigarros arrecada 300 milhões de impostos por dia.
O problema maior do Brasil é ter mais funcionários públicos do que necessita.
Se o tal de COAF agisse corretamente muitos estariam na corda bamba da falsidade ideológica.
Nós fomos descontados em folha para um instituto de DEMOCRACIA, FOMOS ROUBADOS E ESPOLIADOS, e esperamos mais de 20 anos para que um sistema de juízes SUPREMOS, garantisse a nossa LIBERDADE.
Todos nós deveríamos contribuir para a previdência, mesmo aposentados para refletir verdadeiramente o sentido da DEMOCRACIA ATENIENSE.
DEMOCRACIA não admite debate.
fui...