quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Lula tenta pautar o JN contra Serra


Lula tenta, com discursozinho machista, pautar o Jornal Nacional contra Serra.
Escrevi três textos sobre as entrevistas dos presidenciáveis no Jornal Nacional — dois sobre a performance da petista Dilma Rousseff e um sobre a de Marina Silva, do PV. Tenho meus gostos, minhas preferências e minhas escolhas. Não escondo de ninguém. Mas faço análise, não torcida ou chicana, como a turminha a soldo. Considerei que, dada a natureza do veículo e o fabuloso alcance do JN, as duas candidatas se saíram bem — se é essa também a impressão do povo, não sei. “Ir bem”, deixei claro, não quer dizer dar respostas precisas se postas na ponta do lápis. Na TV, operam muitas variáveis. Tão ou mais importante do que o “que” se diz é o “como” se diz.
Teci também comentários sobre as perguntas feitas pelos entrevistadores. Há coisas que achei procedentes; há outras de que discordei. E frisei que, concordando ou não, acreditava, como acredito, que só se está fazendo jornalismo, sem intenções sub-reptícias ou alinhamentos dessa ou daquela natureza. A pergunta, por exemplo, feita a Marina Silva sobre por que permaneceu no PT mesmo depois do mensalão é procedente? Claro que é! Não concordo, escrevi, é que se indague isso a ela e não se toque em tal assunto com Dilma. Expressei aqui divergências claras, mas destacando que respeito o trabalho que se faz no JN e a lisura de seus profissionais. E, com efeito, cada um de nós, especialmente os jornalistas, tem a sua própria pauta, não? A divergência é do jogo. Uma das coisas que faço costumeiramente aqui é escrever sobre imprensa.
E sou só um jornalista. Minha concordância ou não é uma manifestação em meio à de centenas de outros profissionais. O julgamento final quem faz é o telespectador — e pode nem coincidir com o meu. Descabido, inaceitável, típico de um temperamento autoritário, é um presidente da República subir num palanque, como fez Lula ontem em Belo Horizonte — depois de, mais um vez, enxovalhar a Lei Eleitoral —, e atacar William Bonner por conta de sua suposta agressividade. Se há coisa que sei sobre Lula desde que era sindicalista é que ele nunca é espontâneo. Está sempre em meio a um cálculo.
Primeiro vamos à sua fala e depois àquilo que ela significa. No palanque, deu uma rosa a Dilma e afirmou: “Eu, que conheço debates há muitos anos, esperava que, pelo fato de você ser mulher e ser candidata, o entrevistador tivesse um pouco mais de gentileza”. Elogiando a sua “paciência e grandeza”, emendou: “Não fique nervosa nunca, não perca a estribeiras nunca, não aceite provocação nunca. Porque a verdade é que tem muita gente que tem muito medo que uma mulher possa provar que tem mais capacidade de fazer muita coisa do que muitos homens já fizeram neste país”.
Lula ignorou o fato de que um dos entrevistadores era uma mulher, Fátima Bernardes. Mais: se sua fala não fosse apenas um cálculo vulgar, estaria revestida do machismo mais cretino. Dilma deveria, então, ter sido poupada porque mulher, procedimento que haveria de ser repetido com Marina? Entrevista, então, sem “gentileza”, para empregar a palavra escolhida por Lula, só seria feita com José Serra?

Intimidação
Lula está fazendo o seu jogo de sempre, que é o da intimidação. E tenta pautar o Jornal Nacional para a entrevista desta quarta com Serra. Acusa uma suposta falta de gentileza com Dilma — o que é uma mentira deslavada — e o preconceito, que não existiu, como a desafiar: “Vamos ver se, com Serra, vocês fazem a mesma coisa”. A mesma coisa que fizeram com Dilma? Não! A mesma coisa que Lula inventou que fizeram.
É o fim da picada um presidente da República se dar a esse desfrute, repetindo a campanha que a Al Qaeda Eletrônica petralha pôs na rede. A patrulha contra o JN, diga-se, teve um outro lance na semana passada, quando se inventou a bobagem de que o jornal estava tentando silenciar Lula já que não o exibia com a mesma freqüência de programas de outras emissoras: uma delas é a LulaNews, de Franklin Martins, a outra, a TV do autodeclarado bispo Edir Macedo…
Reclamar, no entanto, da “mídia” e se dizer “alvo” de um complô é um sestro dessa gente, porque isso lhes confere licença para atacar. Que se note: ainda que a Globo decidisse amanhã se converter numa lulista empedernida, eles continuariam a atacar a emissora na esperança de obter sempre mais.
Sem essa! Eu posso, e até devo, debater o trabalho da imprensa, divergir deste ou aquele, fazer as minhas críticas, ser azedo às vezes. Faço-o em nome da pluralidade. Quando um presidente da República usa o palanque para demonizar um trabalho jornalístico que não é do seu agrado, ele o faz CONTRA A PLURALIDADE.
Por Reinaldo Azevedo

Um comentário:

  1. José Serra, hoje, quarta-feira, 11 de agosto, no Jornal Nacional, TV Globo, Brasil, 20h15!

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