sábado, 18 de setembro de 2010

Como se fazem salsichas, certo “jornalismo” e certa política

Reinaldo Azevedo

Uma revistinha aí, que funciona como cartilha do PT e de quem mais se interessar em atacar os “tucanos de São Paulo”, traz uma “reportagem” sustentando que Aécio Neves pretende deixar o PSDB e fundar um novo partido para fazer oposição moderada a Dilma Rousseff, tratada, seguindo entendi, como eleita. É claro que, como quase todo mundo, não li nem lerei a dita-cuja. Sabemos da história porque os sites noticiosos resolveram “repercutir” (como se diz por aí, espancando o sentido do verbo) a “matéria”. Publicações desse gênero existem para isso: imprimem ali um merrequinha de exemplares, pegam a grana, geralmente oficial e de estatais, e contam com a Internet para difundir o seu “jornalismo de servicinhos”.
Como dois e dois são quatro, daqui a pouco, alguém ligado ao ex-governador nega a intenção com a ênfase não mais do que necessária: não será uma negativa forte o bastante para que isso vire uma cobrança um dia nem fraca a ponto de caracterizar um trânsfuga precoce. E assim seguem sendo feitos certo jornalismo, certa política e as salsichas. Terá Marcos Coimbra escrito um pequeno ensaio sobre o assunto? Estaria à altura do conjunto da obra.
Acho cedo para esse, como posso chamar?, protagonismo, né? Até porque não existem “oposição moderada” e “oposição radical” em si. Se um governo propõe, por exemplo, mecanismos para controlar a imprensa, o que faria um “opositor moderado”? Tentaria “melhorar” a proposta de censura? Nesse caso, ele não seria um “moderado”, mas um canalha. A única coisa decente a fazer seria, obviamente, “oposição radical”. E quando a Constituição é agredida, como está sendo, e o chefe do Executivo abusa do poder? Qual é a posição do “moderado”? Fazer de conta que não está acontecendo ou se opor radicalmente a tais práticas?
De todas as bobagens e patifarias que se dizem por aí, esta é uma das maiores: a suposta “oposição radical” que o PSDB teria feito ao governo Lula. Ora, o que faltou foi justamente oposição. Tivesse havido, dadas as condições da economia no Brasil e no mundo, Lula seria, ainda assim, um presidente popular. Mas só vive a sua fase de mito — até que a história não corrija a estupidez — porque passou oito anos pontificando sozinho.
A propósito: digam aí uma só escolha “radical” feita pelos tucanos que não teria sido feita pelo suposto “partido moderado” conduzido por Aécio ou por outro qualquer. Sei lá se o ex-governador está nessa ou não. A conversa é tão bucéfala que tendo a achar que não. No molde em que a coisa vem a público, fica parecendo que é preciso, primeiro, escolher um candidato à Presidência da República para, depois, ver com que arranjo partidário ele disputará a eleição. Depois é só combinar com os eleitores.
Posso achar o petismo um horror, e acho, mas eu nunca disse que os petistas são burros — podem procurar. Eles não devem me achar grande coisa, compreendo os motivos, mas certamente reconhecem que os trato com o peso que realmente têm: pensam a política. Pensam um monte de porcaria, mas pensam. Diante de coisas como essas de que trato aqui, devem rir satisfeitos: “Pô, pode ser mais fácil do que a gente pensa ficar no poder uns 70 anos”…
Reinaldo Azevedo

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