terça-feira, 21 de setembro de 2010

Apenas um recado (ou mais do que um recado)

Hoje, apenas um recado.
Um recado só para romper com o silêncio da perplexidade.
Uma espécie de proposta. Uma proposta para reflexão.
Veja o noticiário e é corrupção de cabo a rabo. Nos quatro cantos deste país se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão.


No cerne do poder, começam a despir dona Erenice, aquela que deitou e rolou nos últimos anos, como parceira da mais absoluta confiança da ungida à sucessão do presidente mágico, cuja cartola cintila entre truques que o fazem o preferido do lumpesinato, do proletariado, da classe média e das elites, dos sem terras e dos com muitas terras...
Não é o primeiro flagra. Por todos esses anos, as travessuras engarrafaram nos podres poderes. E o que veio à tona foi muito pouco. Em todos os níveis, em todas as esferas, os corruptos fizeram a festa.
Viu o que aconteceu no Amapá? Ali, estão no mesmo covil os políticos do PDT, PC do B, PP e os afilhados do Sarney, o todo poderoso. Só na alimentação dos presos, o ex-governador Walder de Góes mamava R$ 500.000,00 por mês. E para legalizar terras de estrangeiros, pediu R$ 30 milhões de uma só tacada. Com tanta grana, fez do primo prefeito de Macapá e pôs outro como vice da nova chapa. Até outro dia, estava cotado para ser o senador mais votado do Amapá.

No Rio de Janeiro, a PF prendeu toda a cúpula da Polícia Rodoviária Federal. Estavam todos num esquema brabo de liberação de veículos apreendidos, mediante propinas.
Saiu no jornal também que o presidente do Banco do Brasil comprou uma casa com dinheiro vivo no interior de São Paulo, escriturando o equivalente à metade do imóvel vizinho, igual, também posto à venda. Aí tem truta, todo mundo sabe. O presidente do BB prefere guardar dinheiro em casa a depositá-lo? Francamente...
Isso é do noticiário de hoje. Certamente, amanhã, teremos outros escândalos. Que se perderão na aragem do esquecimento com uma rapidez meteórica.
E não terão a menor repercussão no processo eleitoral. Tanto para os governos como para os legislativos, o povo fará sua escolha sem o menor cuidado, em benefício das quadrilhas ainda não fichadas. O cordão dos picaretas cada vez aumenta mais.
O povo não se toca sobre a roubalheira porque acha que todos roubam. Uns roubam, mas distribuem alguns trocados e abrem algumas portas para potenciais contestadores. Ninguém faz as contas: os R$ 12 bilhões em esmolas do Bolsa Família, que a tantos imobiliza, e a tantos covardes cala, não chegam sequer ao lucro previsto para 2010 de um único banco – o Itaú, que já mo primeiro semestre contabilizou R$ 6,4 bilhões.
Em todos os segmentos, reina a teoria de que a corrupção é um mal necessário. Porque, em geral, ninguém é contra a corrupção: é contra, sim, a corrupção dos outros. Em havendo oportunidade, cai dentro.
Aí vem o meu recado. Não adianta espernear. Décadas foram investidas na alienação dos cidadãos; na injeção de uma overdose de paralisantes no tecido social. Todos hoje estão impregnados da idéia da busca individual do seu ganho, do descompromisso total com o bem público. A sociedade da inércia está sob a hegemonia da esperteza: tudo o que se diz em nome do bem é máscara do próximo assalto.
O sistema operou com a ótica das elites, de forma a transformar a democracia num embuste palatável. Uma cortina ilusória. Uma farsa adocicada. Uma mentira histórica.
A perfeição da trama se deu com a ascensão do metalúrgico. O plano “B” do neoliberalismo global se mostrou mais rendoso do que o “A”, experimentado antes.
Daqui para frente, vai ser ainda pior. O “me engana que eu gosto” cristalizará o comportamento trêfego de uma sociedade ébria, sonolenta, inerte.
Eu já não espero mais nada desta eleição, à porta, pelo caminho sinuoso que percorreu. Nessa arapuca, a sorte está lançada, com a divisão dos poderes entre as elites – o PT só quer a Presidência, os Estados estão sendo fatiados, satisfazendo a todos os balaios.
Mas estou disposto a participar de um esforço honesto de conscientização dos cidadãos, do resgate de algum espírito crítico. Da retomada da idéia de uma sociedade mais atenta, começando pela reavaliação da educação pública até à melhor utilização dos meios de informação, como a internet.
Isso, nem que tenha que me esgoelar pelas ruas das cidades. Nem que tenha de clamar sozinho pela rede, cutucando todas as onças com a vara curta que não se verga.
E aí não dá para falar só das perebas morais. É preciso construir um caminho para uma sociedade democrática e justa, em que a maioria possa escolher com os critérios e informações consistentes. É preciso dizer todas as verdades, gritar aos ouvidos moucos, mostrar aos olhos vesgos. Se não estiver sozinho, seria muito melhor. Não importa a cor de sua opinião. Importa a convicção de que só na restauração da verdade, na exposição limpa de todas as informações, será possível fazer andar essa multidão de lázaros submetida à coma induzida.
Ou então, se isso já não for possível, desistir da democracia como regime político. Mas nunca desistir da palavra, que apontará sempre uma luz no fim do túnel.
Pedro Porfírio, Porfírio Livre

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