quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Feliz é Kim Jong-il que não tem imprensa... golpista

Francisca Gorjão Henriques, Público

Os norte-coreanos já estarão a aprender cantigas de homenagem a Kim Jong-un KCNA/REUTERS


Kim Jong-il estará prestes a anunciar que o filho mais novo será o próximo líder
O encontro do Partido dos Trabalhadores será a 28 de Setembro e espera-se que sejam confirmadas pistas sobre a sucessão. Mas pode estar no fim a "era do poder de um só homem"

Depois de um adiamento, a reunião mais importante que o Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte fará desde há décadas ficou ontem marcada para 28 de Setembro. Não é oficial, mas os observadores acreditam que o encontro servirá para apresentar o sucessor ao "trono" de Kim Jong-il, Kim Jong-un, o mais novo dos seus três filhos.
A notícia avançada pela agência KCNA referia que a reunião decorrerá em Pyongyang e se destina a "eleger o órgão da direcção suprema". Não se referia ao facto de ter estado prevista para o início do mês, nem às razões pelas quais foi adiada. As especulações vindas do Sul apontam para "problemas internos", como cheias, ou questões de saúde do "Querido Líder" que em 2008 sofreu um acidente cardiovascular - razão pela qual também estará prestes a fazer a nomeação do seu sucessor.
Será a primeira reunião oficial do partido desde 1966, recorda a AFP. A Reuters salienta um encontro de responsáveis em 1980, quando ficou oficializado que seria o próprio Kim a herdar a chefia do país das mãos do pai, Kim Il-sung, o que acabaria por só acontecer em 1994.

"Não é 100 por cento certo, porque a Coreia do Norte continua a ser um país muito especial, mas eu diria que é 99 por cento certo que Kim Jong-un será confirmado sucessor", comentou ao New York Times Andrei Lankov, especialista da Universidade Kookmin, em Seul. "Será apresentado ao partido e ao povo como "o novo génio da liderança, a estrela-guia do século XXI" ou algo do género".
Kim Jong-il terá dito que este era "um falso rumor do Ocidente" ao primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, quando visitou Pequim (fê-lo duas vezes em quatro meses, diz-se que para apresentar o seu filho aos aliados chineses). Mas os serviços secretos sul-coreanos têm informações de que as crianças do Norte já estão a aprender cantigas de homenagem a Kim Jong-un e que os membros do partido têm recebido documentos onde se diz que o "jovem general" está pronto a governar, referia ontem o Financial Times.
E ainda que a escolha do herdeiro se confirme, isso não quererá dizer que Kim Jong-il irá retirar-se. O mais provável é que o congresso termine com o filho a receber uma nomeação oficial para um cargo no partido, ou militar, e continue na sombra. É também possível que duas centenas de responsáveis de uma elite fiel sejam promovidos para a direcção de forma a ajudarem o jovem (terá à volta de 27 anos) a governar, criando uma base de poder antes que assuma a direcção.
O colapso ou a reforma
Uma liderança sua seria certamente confrontada com problemas de falta de legitimidade e autoridade. Não é só o facto de ser ainda muito jovem, mas se Kim-pai foi bem preparado para a sucessão, já o filho não terá recebido treino político, nem militar.
"A era do governo de um só homem pode estar a chegar ao fim", escreveram Robert Kaplan e Andrew Denmark, do Center for a New American Security, também no FT. "O poder poderá deixar de estar concentrado nas mãos de um homem, o que significa que a dinâmica política se pode tornar mais complexa, e possivelmente mais instável", defendem. "Se o novo Kim não conseguir consolidar o poder, o regime poderá entrar em colapso". E isso significará uma enorme intervenção humanitária, de forma a acudir uma população que há décadas enfrenta a fome.
Seja como for, referem os especialistas, "a Coreia do Norte está a entrar numa fase crucial. Kim Jong-un irá liderar o colapso do Estado que o seu avô criou ou - mais improvável - uma reforma radical na abordagem económica e controlo do Estado".
Francisca Gorjão Henriques, Público, 22-09-2010

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