Carl Kraus deu ao jornalismo
textos elegantes, perfumados com talento e sarcasmo. Num dos seus famosos
editoriais na revista “Die Fackel” ele queixava-se amargamente da falta de
escriturários porque tinham ido todos a correr para as Redacções dos jornais. O
génio do jornalismo independente não exagerava.
Pedro da Paixão Franco, o
príncipe dos jornalistas angolanos, dizia que era muito difícil fazer progredir
o jornalismo da época, porque da “metrópole” chegavam carradas de analfabetos
que mal passavam o Equador eram logo transformados em jornalistas. E como ele
sabia o que dizia e do que falava!
Hoje o mundo está quase na
mesma. Viena de Áustria deixou de ser o centro do mundo da cultura e do
pensamento. Ficou um vazio. E em Portugal surgiu um fenómeno notável e que
merecia um estudo profundo. Depois do 25 de Abril de 1974 o analfabetismo foi
sendo banido, de uma forma galopante. Até há pouco, ninguém conhecia o segredo
de tão simpático sucesso. Só agora se compreende o que aconteceu. Os
analfabetos foram todos a correr para o jornalismo. E como eles dão nas vistas!
Carl Kraus, visionário e
futurista, não conseguiu prever este êxodo extraordinário. Pensava o mestre que
era coisa do outro mundo encher jornais de escriturários. Faltou-lhe assistir à
fuga dos analfabetos para a comunicação social portuguesa.
Houve tempo que os jornalistas
só eram notícia quando morriam. Os órgãos de comunicação social respeitavam-se
entre si. De vez em quando, citavam-se, com a devida vénia. Hoje em Portugal,
esse princípio básico está a ser pura e simplesmente ignorado.
Um dia destes, a TVI
apresentou num dos seus noticiários o Jornal de Angola como “a voz oficial do
regime angolano”. Os analfabetos têm o seu quê de inimputáveis. Mas fica mal a
profissionais do mesmo ofício entrarem por terrenos tão pantanosos. O Jornal de
Angola é a voz dos seus leitores. E dos jornalistas que livremente escrevem nas
suas páginas. Nada mais do que isso. Aqui não há vozes do dono nem
propagandistas. Há jornalistas honrados que todos os dias tentam dar o melhor
que podem e sabem para fazer chegar aos leitores os acontecimentos do dia.
Esta deslealdade entre órgãos
de comunicação social, mesmo que de países diferentes, nada augura de bom. Eu
posso dizer que a TVI é a voz oficial da dona Rosita dos espanhóis. Ou a voz
oficial do conde Pais do Amaral, o desterro dos rapazinhos.
A TVI é a voz oficial de José
Alberto Carvalho, que a jornalista Manuela Moura Guedes tratou por Zé Beto e
apodou de burro. O canal de televisão é a voz oficial da segunda dama de Seara,
inesperadamente apeada de primeira-dama de Sintra.
O Jornal de Angola tem um
estatuto editorial que é seguido com rigor e sem hesitações. Se todos fizessem
o mesmo, não assistíamos aos espectáculos deploráveis que vemos na TVI e
noutros órgãos de comunicação social portugueses. Se o jornalismo português não
estivesse atolado em fretes, se não fosse servido por analfabetos de pai e mãe,
provavelmente hoje Portugal não estava a ser destruído pela Troika. E os
portugueses não viviam angustiados por desconhecerem o dia de amanhã.
O Jornal de Angola é um órgão
de comunicação social sério. E os seus jornalistas não foram recrutados entre
analfabetos e escriturários. O que, parecendo que não, lhe dá uma certa
superioridade entre os grandes jornais de língua portuguesa. Era bom que os
nossos parceiros da CPLP olhassem para nós como somos e não através de lunetas
desfocadas e com juízos pré concebidos.
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