Reinaldo Azevedo
Vamos lá. Não sei quem passou
a Mônica Bergamo, colunista da Folha, a informação de que o governo pensa em
costurar um pacto que inclua o PSDB, especificando até os interlocutores:
Fernando Henrique Cardoso (nas costas de quem Dilma tentou jogar as lambanças
da Petrobras), Geraldo Alckmin (nas costas de quem Dilma tentou, na campanha,
jogar a crise hídrica) e José Serra, que tem as costas largas de sempre. Dou
por certo que alguém lá do Planalto cantou essa bola para a jornalista. Não
creio que a especulação venha do tucanato, a menos que haja alguém interessado
em queimar, a um só tempo, FHC, Alckmin e Serra. Na última vez em que os
palacianos pensaram nos tucanos, tentaram enfiar o nome do senador Aécio Neves
(MG), presidente do PSDB, na lista das pessoas que devem ser alvos de
inquérito.
A ideia é de tal sorte
ridícula, de tal sorte estapafúrdia, de tal sorte inviável que talvez nem
merecesse consideração. Mas sabem como é. Se um ET pousa em Xiririca do Mato
Dentro, a coisa se espalha. E acaba sendo imperioso lembrar que ETs não
existem. E, se existissem, talvez escolhessem Nova Iorque para aparecer, não
Xiririca do Mato Dentro. Adiante.
A ideia de pacto é antiga. É
bíblica. Ao longo da história, muitos se fizeram, com consequências às vezes
nefastas, como o de Munique (1938), por meio do qual França e Inglaterra
deixaram Hitler livre para agir. O resto dessa história, a gente conhece. Em tempos
mais recentes, ficaram famosos os chamados “Pactos de Moncloa” (1977), na
Espanha, numa referência ao palácio que abrigou os encontros das várias forças
políticas do país para tentar encontrar um caminho da transição da ditadura
franquista para a democracia.
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Palacio de La Moncloa, sede da
Presidência do Governo da Espanha, desde 1976
|
É justo que eles sirvam de
referência. E o Brasil de hoje, como vocês verão, não exibe nenhuma das
condições que tornaram necessários e viáveis os Pactos de Moncloa:
– a Espanha era uma ditadura;
o Brasil não é;
– na Espanha, a monarquia foi aceita por todos como uma força neutra do modelo que viesse depois. No Brasil, ninguém representa essa neutralidade;
– a Espanha tinha de criar instituições democráticas; no Brasil, as instituições, até agora ao menos e apesar do PT, são saudáveis;
– na Espanha, as forças políticas precisavam estabelecer uma agenda mínima, inclusive econômica. No Brasil, tal agenda mínima seria, hoje, impossível;
– na Espanha, os que se reuniram no Palácio tinham, sim, de pensar um caminho para os crimes políticos. O franquismo era uma república de truculentos, de fascistoides e de bocós.
– na Espanha, a monarquia foi aceita por todos como uma força neutra do modelo que viesse depois. No Brasil, ninguém representa essa neutralidade;
– a Espanha tinha de criar instituições democráticas; no Brasil, as instituições, até agora ao menos e apesar do PT, são saudáveis;
– na Espanha, as forças políticas precisavam estabelecer uma agenda mínima, inclusive econômica. No Brasil, tal agenda mínima seria, hoje, impossível;
– na Espanha, os que se reuniram no Palácio tinham, sim, de pensar um caminho para os crimes políticos. O franquismo era uma república de truculentos, de fascistoides e de bocós.
Mas o Estado não tinha sido
assaltado por uma quadrilha. No Brasil, ladrões se apoderaram de franjas do
estado;
– na Espanha, os pactos não implicavam que o governante de turno e o partido do
poder salvariam o próprio pelo. No Brasil, se houvesse, sim;
– na Espanha, a população queria o entendimento porque não aguentava mais a ditadura. No Brasil, a população quer que os bandidos acabem na cadeia;
– na Espanha, inexistia um partido aparelhando todas as instâncias do estado. No Brasil, sim.
– na Espanha, a população queria o entendimento porque não aguentava mais a ditadura. No Brasil, a população quer que os bandidos acabem na cadeia;
– na Espanha, inexistia um partido aparelhando todas as instâncias do estado. No Brasil, sim.
Pacto?
Assim, ainda que haja pessoas interessadas em alimentar essa fantasia, inexistem condições estruturais para algo do gênero. Se Dilma não quiser afundar o Brasil de vez e se afundar junto, já escrevi aqui no dia 2, tem de deixar o PT, montar um gabinete de crise, estabelecer uma agenda mínima e tentar tocar o que der para tocar. A Justiça não tem nada com isso. Os que tivessem de ser criminalmente responsabilizados por seus atos — inclusive a presidente — seriam. E ponto. Mas isso não passa de mera conjectura. Não vai acontecer por duas razões também estruturais:
a: não é da natureza do PT;
b: não é da natureza de Dilma.
Assim, ainda que haja pessoas interessadas em alimentar essa fantasia, inexistem condições estruturais para algo do gênero. Se Dilma não quiser afundar o Brasil de vez e se afundar junto, já escrevi aqui no dia 2, tem de deixar o PT, montar um gabinete de crise, estabelecer uma agenda mínima e tentar tocar o que der para tocar. A Justiça não tem nada com isso. Os que tivessem de ser criminalmente responsabilizados por seus atos — inclusive a presidente — seriam. E ponto. Mas isso não passa de mera conjectura. Não vai acontecer por duas razões também estruturais:
a: não é da natureza do PT;
b: não é da natureza de Dilma.
A pizza sofisticada que já se
assa há algum tempo no país não passa por esse suposto arranjo político. Isso é
o que Dilma gostaria que acontecesse. Seria, sem dúvida, o melhor dos mundos
para ela: não encontraria mais resistências do PMDB, do PSDB e de outros
eventuais oposicionistas e, ainda que continuasse filiada ao PT, teria de enfrentar
apenas uma fatia do partido.
Caros leitores, essa é mais
uma daquelas histórias que, de tão ridículas, nem erradas conseguem ser. Elas
apenas não existem.
A menos, claro!, que alguém se
atreva a explicar que o esforço para incluir Aécio Neves entre os investigados
já era parte desse arranjo.
Tenham paciência!
PS: Ah, sim: a esta altura, é
bem provável que representantes de Dilma estejam tentando falar com
representantes da oposição. Dada a situação, é o mínimo a fazer. Daí a chamar
isso de tentativa de pacto…
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