Jacinto Flecha

Em geral, junto com os
primeiros fios de bigode surge a rebeldia contra a autoridade dos pais, professores
e tantas outras, procurando falar grosso no hesitante tom dó
maior/ré menor. O jovem precisa emancipar-se, sacudir o jugo da autoridade,
estabelecer regras próprias. Quer mostrar autoafirmação, autonomia,
independência, e o faz adotando um modo característico de pentear os cabelos.
Ao mesmo tempo submete-se à moda, geralmente a que prevalece no seu grupo. Muda
assim de uma submissão para outra, e nem sequer nota a contradição. É uma
personalidade à procura de definição, e parece ter como lema aquele hay
gobierno, soy contra.
Essa fase caracteriza-se por
alterações de comportamento como atrevimento, ousadia, desobediência,
petulância. A maioria fica só em aspirações grandiosas, até que alguém os
submete a uma manifestação inequívoca de manda quem pode, obedece quem
tem juízo. Autoridades familiares e escolares sentem logo essas alterações
físicas e comportamentais, e costumam retribuir o atrevimento com frases
cortantes:
— Recolha-se à sua
insignificância.
— Cresça e apareça.
— Fale quando souber do que está
falando.
— Depois eu troco suas
fraldas.
Nada a estranhar ou lamentar
nas novidades arquitetônicas do topete e nos sons cacofônicos da petulância
(conjunto rotulável como topetulância), quando se limitam ao período teen
(thirteen anineteen). Mais tarde a maioria cai na realidade, passa a
ocupar nichos do espectro político-social destinados a fisiológicos,
acomodados, conservadores, sensatos, pragmáticos, ou simplesmente centro.
Escapam assim daquele caminho indesejável: Quem não foi esquerdista
quando jovem não tem coração; quem continua esquerdista depois de adulto não
tem cabeça. A vox populi usa uma linguagem mais direta: O
homem nasce, cresce, fica bobo e casa.
Não pretendo que esta síntese
evolutiva das mentalidades seja completa ou corresponda às definições de alguma
escola de psicologia. Estou apenas preparando o terreno e a pontaria para
atirar as flechas de hoje, cujo alvo é a topetulância em várias fases da vida.
Falta mencionar, aliás, a última e mais insensata: Negar a existência de Deus.
Ela costuma nascer bem pequena junto com o primeiro fiapo de barba, cresce, mas
aos poucos cede junto com o reconhecimento da realidade. Pode também dominar
desde o início os mais pervertidos, que dificilmente retornam ao caminho
indicado por todas as evidências. Alguns procuram mesmo atenuar a péssima
imagem de ateus, adotando o rótulo bem menos arrogante de agnósticos.
Considero perda de tempo
argumentar com lógica, tentando mostrar a esses a insensatez de alguém
declarar-se ateu. Produz melhor efeito deixá-los amontoar suas dúvidas,
pretensões, contradições. Depois de inúmeras incoerências sucessivas, talvez
acabem percebendo o abismo negativista em que se meteram. Não se converterão
espontaneamente, isso depende da correspondência às graças que Deus nunca recusa
nem aos seus piores inimigos. Rezar por eles, enquanto despejam suas
incredulidades, pode ajudá-los a abrir os olhos e reconhecer-se muito distantes
do bom caminho.
Dotado de inteligência e livre
arbítrio, o homem tem capacidade, argumentos racionais e muitos outros dados
para reconhecer a existência de Deus e a sua suprema autoridade. Negando-a,
como fez Adão no Paraíso, candidata-se às consequências dessa decisão livre. É
muito fácil encontrar sofismas, subterfúgios ou artifícios para tal negação, e o
mundo moderno parece uma enorme fábrica de todos eles.
Muito tempo depois que os
hormônios deixam de gerar topetulâncias, os fios que antes se organizavam em
vaidosos topetes vão perdendo a cor, e em muitos casos despedem-se do espaço
arredondado que ocupavam. Mas petulâncias como o ateísmo têm origem sobretudo
no interior, e podem coexistir com cabelos brancos ou com a falta deles. Sem
deixar espaço na alma para o Criador, no fim da vida um petulante assim toma a
insignificância própria como seu limite, fica rempli de soi-même
(esta flecha é francesa). Reduzido a uma miniatura de si mesmo, o
velhinho-ateu-careca é vazio por dentro e por fora. Lamentável decadência para
quem, segundo Santo Agostinho, foi criado para amar a Deus, e só Deus poderá
preencher sua alma.
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