Luciano Henrique
Existem algumas coisas de que
nos envergonhamos em nossa trajetória politica e quase sempre isso tem a ver
com coisas que apoiamos e deixamos de apoiar depois. Ou então com coisas que
criticamos e deixamos de criticar. Whatever…

O resultado foi o desastre:
nas vezes em que o candidato citou o tema, o fez de forma atabalhoada. Não
gerou praticamente nada. Ele não tinha habilidade com o tema. E mais: ninguém
se interessou pelo assunto. Nunca vou esquecer de um dia em que ele resolveu
citar “o totalitarismo dos países bolivarianos” e tinha 30 segundos para fazer
uma pergunta. Ele gastou 12 segundos só para dar uma respirada, mais o resto
para uma introdução e, quando fez a pergunta, já havia estourado seu tempo.
Quase ninguém sequer entendeu o que ele havia perguntado. Ridículo. Fidelix não
tinha nem sequer um frame pronto para falar do assunto. Obviamente, transformar
o lema “Fora Foro” em demanda política foi uma burrice.
(Em tempo: combinar com
candidatos para ir “falar do Foro”, que eu me lembre, não foi uma ideia de
Olavo de Carvalho. Foi uma ideia de um dos leitores dele, na época. Muitos
compraram a ideia. Mas quase todo mundo ali no círculo se empolgou.)
Seja lá como for, adquiri o
hábito de, ao longo dos tempos, começar a ser mais pragmático e PRÁTICO no
momento de abordar demandas políticas: quando alguém dizia “ei, fale do Foro”,
eu começava a questionar: Qual o resultado prático esperado? Isto é uma demanda
política? Se é uma demanda, o que devemos alcançar com ela? Com quais frames
empacotamos essa demanda? Em que âmbito devemos abordar o assunto? Qual o
público a ser alcançado?
Vamos aos fatos: o Foro de São
Paulo foi (e continua sendo) fundamental para o projeto de poder socialista
latino-americano hoje aqui no Brasil encabeçado pelo PT. Ponto. Mas eu não me
lembro de ter visto petistas conseguindo poder “falando do Foro”. Em vez disso,
sempre atuaram em alianças estratégicas e táticas com outros partidos e
organizações do Foro, e tudo que falam, em público, se relaciona a DEMANDAS,
que são pensadas em termos práticos. A militância, enfim, ecoa essas demandas,
e não “elegias ao Foro”.
Logo, podemos atacar o Foro de
São Paulo de várias formas, e muitas vezes além de sair dizendo “Fora Foro”. Na
verdade, apenas um conjunto de formadores de opinião conhecendo o Foro de São
Paulo já seria o suficiente. Mas o que geraria mais resultado seriam DEMANDAS
bem elaboradas e pensadas de forma que os OBJETIVOS DO Foro fossem atingidos.
Para isto, é só entender o
modus operandi dos partidos do Foro chegando ao poder. Entendendo este modus
operandi, sabemos como suas demandas são elaboradas, e implementadas. Sabemos
como eles montam discursos para implementar uma ditadura sutil. Ou como vão
corroendo as instituições, aparelhando o judiciário e controlando de forma
safada as campanhas eleitorais. O poder efetivo surge aí: na implementação de
demandas pensadas em termos estratégicos e táticos.
Em tempo: se conseguíssemos,
via projeto de lei, proibir a existência do Foro de São Paulo, os partidos e
organizações ali presentes criariam uma outra organização, provavelmente com
mais discrição. Só isso. Basta retornar aos idos dos anos 90 na Colômbia e
imaginar uma situação onde os membros do Cartel de Medellín se reuniriam
anualmente em um evento público para falar dos “desbravadores da economia
popular”, que seriam, é claro, eles próprios. Imagine agora que o Congresso
proibisse, por força de lei, a ocorrência deste evento. O que iria mudar na
organização e nos resultados do Cartel de Medellín? Nada. Provavelmente eles se
organizariam de outro modo.
O que se nota é que muitos dos
propagadores do lema “Fora Foro de São Paulo” passaram a perseguir um totem, e
não um conjunto de demandas políticas bem pensadas.
É possível observar esse
fenômeno com clareza ao lembrarmos os ocorridos do segundo semestre de 2015,
quando o STF deu um golpe estabelecendo o controle bolivariano de campanhas,
proibindo empresas de fazer doações políticas – utilizadas sabiamente pelo PT
para vencer quatro eleições – ao mesmo tempo em que os meios estatais de
campanha política para o PT e suas linhas auxiliares seriam mantidos (Lei
Rouanet, BLOSTA, “pontos de cultura” do MinC e outros).
Certamente tínhamos uma
demanda ali a ser disputada: os “amigos do Foro” tinham que aprovar o controle
bolivariano de campanha (como fizeram), e os “inimigos do Foro” deveriam lutar
para garantir a liberdade de campanha política. E o que aconteceu? Somente os
“amigos do Foro” fizeram alguma coisa, e exatamente por isso venceram. Do lado
dos “inimigos do Foro” não surgia sequer um frame. O máximo que vimos foi “ah,
o problema do fim do financiamento empresarial de campanhas é o caixa dois”.
Falar isso é quase tão patético quanto dizer que “o problema do homicídio é a
camisa manchada de sangue” ou “o problema do estupro é o cabelo despenteado da
vítima”.
Ou seja, não conseguiam nem
sequer identificar o problema trazido pela demanda oponente. Não teria como
elaborem frames eficientes mesmo. Desastrados, os poucos a tocarem no assunto
falaram nos frames adversários: “fim de financiamento empresarial” ao invés de
“controle bolivariano de campanhas” ou “controle petista de campanhas”. Se
alguém os questionasse sobre os motivos para barrar a proposta golpista do PT,
não sabiam dar uma mísera explicação. Tragicamente, este foi o comportamento
padrão da maioria absoluta dos que se propuseram ao longo dos anos a “lutar
contra o Foro”.
Fizemos muito bem ao conhecer
a estrutura do Foro de São Paulo e devemos ser gratos a pessoas como José
Carlos Graça Wagner e Olavo de Carvalho por nos clarificarem sobre a
organização e seus objetivos. Mas é uma tragédia cognitiva que pouco se fez com
essa informação. Pior: muitos transformaram o Foro em um totem, o trataram de
forma abstrata, e ignoraram as demandas da patota, o que exatamente deveria ter
se tornado tema prioritário.
O resultado é mais do que
vergonhoso: hoje temos fartura em termos de pessoas falando “Fora Foro” e uma
escassez incrível de pessoas elaborando demandas para combatê-lo. Sem demandas
claras em mente, não há sequer expectativa de bons frames. E, curiosamente,
muitos movimentos de rua – que não saem as ruas pedindo “Fora Foro”,
espertamente – estão fazendo mais contra o Foro de São Paulo do que muitos que
supostamente teriam como prioridade “derrubar o Foro”. Mas estes últimos se
limitam a esperar demandas quiméricas como “extinção do Foro de São Paulo”,
algo que, se conseguido, somente faria seus inimigos se reorganizarem ainda
melhor.
A única forma pragmática de
lutar contra o Foro de São Paulo seria lutar contra as demandas da organização.
Mas esta é a última prioridade dos “inimigos do Foro”. E mesmo assim alguns são
arrogantes a ponto de querer julgar os outros dizendo “(x) não fala do Foro de
São Paulo”, como se muitos que adotaram como prioridade “falar do Foro de São
Paulo” tivessem bons resultados em mãos. É por isso que hoje já até uso o termo
Cartel Bolivariano e foco na luta contra o totalitarismo na América Latina, que
na verdade é a ambição única do Foro.
Assim, quando alguém for
arrogante e lhe disser que “você não luta suficientemente contra o Foro de São
Paulo”, pergunte algumas coisas em retorno. Como, por exemplo, que demandas
essa pessoa tem defendido? Essa pessoa teria como evidenciar sua luta por essas
demandas? E quais frames ela tem utilizado na defesa dessas demandas? As
respostas são suficientes para saber se o discurso de “Fora Foro” serve para
algum resultado prático ou apenas como um totem para fornecer conforto
psicológico, mas inútil.
Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 28-1-2016
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