Gregorio Vivanco Lopes
Encontrei por acaso meu
ex-colega Gorjão. Nós nos conhecíamos da Universidade. De vez em quando esse
encontro acontece, e me faz lembrar algumas discussões acirradas que tivemos
quando estudantes.
Não vale a pena declinar aqui
o nome inteiro dele, mas dou o traço mais marcante de sua psicologia: Gorjão
gosta de apresentar-se como esquerdista radical. Quando o Partido Comunista
Brasileiro mudou de nome, ele passou para o PC do B. Depois, achou essa agremiação
insuficientemente radical e aninhou-se no PT. Atualmente professa uma ecologia
de ponta, como o ex-frei Boff. A única coisa que nele nunca variou foi sua
admiração incondicional pelos padres da Teologia da Libertação.
Sempre o tratei com civilidade.
Assim, ao encontrá-lo na rua, fui logo dizendo, após os cumprimentos de estilo.
- Você viu, Gorjão? Há uma
potência internacional querendo impor ao Brasil suas decisões...
Antes que eu completasse minha
frase, ele se tomou de brios e de cólera, e começou a vociferar com um ardor
que chamou a atenção até dos passantes, intrigados com tanta fúria:
- Mas é claro! Os Estados
Unidos são assim mesmo. Imperialistas até a medula dos ossos. Esses
congressistas americanos deveriam ser todos enforcados em praça pública.
Foram em vão meus esforços
para interromper tal tempestade verbal e explicar meu pensamento. Ele continuou
a vociferar com ímpeto total, ainda por algum tempo. Quando afinal o furacão
amainou, pude prosseguir.
- Não, Gorjão. Você se engana.
Quem está querendo impor ao Brasil suas decisões não são os Estados Unidos, é a
ONU.
Nunca vi, na minha já longa
vida, produzir-se de modo instantâneo uma tão grande transformação psicológica
como a que ocorreu então com o Gorjão. Cheio de si, agressivo e colérico
minutos antes, ficou de repente pálido, desconcertado, inseguro; sua voz passou
de tonitruante a tímida e dulçurosa:
- Mas o que fez a ONU?!
Eu então lhe contei que a ONU
está exigindo do governo brasileiro que não modifique para baixo a idade da
maioridade penal. Sem se importar com as vítimas dos assassinatos, roubos,
estupros e ainda outros crimes, praticados por menores de 18 anos, a ONU quer
absolutamente que esses delinquentes não sejam incriminados. E se insurgiu
contra o projeto de lei existente no Congresso Nacional para esse fim.
A ONU não quer – por que não
quer! –penalizar adequadamente o menor de 18 anos que comete crimes e é
responsável pelo que faz. Tão responsável, que já aos 16 anos é considerado com
suficiente clarividência para poder votar, discernir os rumos mais adequados
para a Nação e escolher seus mais altos dirigentes.
A perita do Comitê do Direito
da Criança da ONU foi peremptória: “Queremos saber o que o Brasil vai fazer em
relação a essa proposta ... queremos que a idade de maioridade penal seja
mantida em 18 anos” (O Estado de S. Paulo, 21/9/15).
Gorjão –que ouviu toda essa
explicação lívido e imóvel, quase se diria nocauteado – acordou por fim de seu
letargo, e numa tentativa canhestra de defender a ONU, exclamou:
- Certamente não é
intervenção, deve ter havido uma combinação prévia com o governo brasileiro...
A ONU não faria isso sozinha...
- Eu não tinha pensado nisso,
Gorjão, mas se sua hipótese for verdadeira, o fato é espantoso! Como é que o
governo brasileiro, querendo a todo custo defender os que cometem crimes, sendo
menores, vai pactuar com a ONU para ela pressionar os deputados brasileiros?
Aí é que Gorjão ficou mesmo
atordoado!
- Não, não... eu não quis
dizer isso... eu me exprimi mal... desculpe... mudemos de assunto...
Eu não tinha nenhuma intenção
de atenazar o pobre Gorjão. De modo que aceitei logo a sugestão dele e mudei de
assunto. Falamos um tanto de chuva e bom tempo, e nos despedimos pouco depois
com urbanidade.
Porém, a hipótese dele ficou
girando na minha cabeça ainda por algum tempo. Mas não, não pode ser... É
espantoso demais que o governo brasileiro vá pedir à ONU que intervenha no País
para pressionar os congressistas a não penalizarem adequadamente quem comete
crimes, sendo menor. Ou será que a hipótese de Gorjão é verdadeira!?
Título, Imagem e Texto: Gregorio Vivanco Lopes é advogado e
colaborador da ABIM, 21-1-2016
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