Telmo Azevedo Fernandes
Imbuídos do espírito natalício
muitos difundem durante o Advento patetices impróprias para quem quer manter
alguma sanidade mental.
Ouvem-se glórias e louvores à
“responsabilidade social” de empresários e gente rica que nesta época decidem “devolver à
sociedade parte do que esta lhes proporcionou”.
A expressão entre aspas
anterior é a fórmula comumente usada por essa gente. O sublinhado enfatiza a
ideia central que se pretende transmitir.
Confesso: não tenho pachorra
para tamanho dislate!
“Devolver” pressupõe restituir
a dono legítimo. Mas alguém roubou ou tirou algo de casa alheia?
Quem acha que houve
apropriação indevida, apenas exige a devolução de parte do produto desviado?
Não havia necessidade de
insulto nem de desonestidade intelectual…
Por regra, aqueles que têm
elevados rendimentos foram capazes de produzir bens ou serviços dos quais a
maioria de nós beneficia. De tal modo que estamos dispostos a dar dinheiro por
eles.
Em sociedade as trocas são
mutuamente benéficas. Facilitam a vida quotidiana, proporcionam-nos
divertimento, dão-nos conforto e aumentam a nossa longevidade. Basta pensarmos
em tudo aquilo que num só dia utilizamos e consumimos para perceber que é cada
um de nós que, voluntariamente, torna ricos os ricos.
A superioridade moral do
sistema capitalista advém desde logo de o mercado permitir que se acumule
riqueza apenas servindo os interesses e necessidades dos outros. O bem-estar de
uns não se faz à custa da miséria de terceiros. Não é um jogo de soma nula.
Uma economia liberal é justa
porque defende o direito natural à propriedade daquilo que se cria e ganha em
resultado do trabalho e criatividade dos indivíduos.
A retórica
marxista da luta de classes e de que a desigualdade de rendimentos existe
porque uns tiram a outros não só é factualmente falsa, como também revela um dos mais desprezíveis sentimentos
humanos: a inveja.
Este desconforto com o sucesso
alheio e o quase ódio aos ricos, aliados à soberba dos que se acham os únicos
conscientes e preocupados com o bem-estar dos seus próximos, leva à tentativa
de imposição daquilo que consideram ser os comportamentos corretos em
comunidade, lá está: de “responsabilidade social”.
Nasce também daqui a ideia da
progressividade dos impostos. Quem mais tem deve ser taxado, em termos
relativos, de forma mais pesada do que os menos abastados. Mas se a ideia é
moralizar o mercado e a sociedade capitalista, o resultado desta política é
precisamente o inverso. Um comportamento forçado através da coação tributária
não torna nobre, nem moral nem benevolente a atitude das pessoas. Só a um ato
individual, voluntário, emanado da consciência de cada um se pode atribuir
valor moral.
A lengalenga da
progressividade fiscal apenas serve ao propósito da defesa dos interesses de
quem não produz riqueza e do disfarce do roubo.
O discurso ardiloso do
“devolver à sociedade” acaba por retirar valor a quem pratica a verdadeira
Caridade, essa sim virtuosa e digna de elogio, a que a celebração da humanidade
do Natal nos convoca.
Título, Imagem e Texto: Telmo Azevedo Fernandes, Blasfémias,
1-12-2017
Marcação: JP
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