A China enriqueceu distorcendo o comércio e
roubando tecnologia da mesma forma que lida com epidemias e dissidentes. Quem
está enfrentando a ditadura comunista?
Ana Paula Henkel
Victor Davis Hanson, membro
sênior do Hoover Institution em Stanford, Califórnia, historiador e autor do
best-seller The Case for Trump, disse recentemente em uma palestra no
Hillsdale College que o presidente Donald Trump não é um isolacionista, mas um
realista. E completou: “Como um isolacionista permitiria que 170 mil soldados
fossem enviados para o exterior? Essa é a maior força expedicionária
estrangeira de qualquer país importante nos últimos 75 anos”, disse Hanson
sobre Trump.
A política externa de Trump
envolve mais do que tuítes malcriados que causam um verdadeiro furor na
imprensa norte-americana e mundial e que deixam jornalistas de cabelo em pé. De
acordo com Hanson, os Estados Unidos têm atualmente 30 mil funcionários
diplomáticos espalhados em todo o mundo e, ironicamente, uma das políticas mais
“isolacionistas” de Trump — sua ameaça de se retirar da Otan — resultou em
aproximadamente US$ 100 milhões para a organização.
Como explica um dos maiores
historiadores vivos, conquistas como essa não eram possíveis sob a política
internacional fofa da era Obama, que, com sua voz mansa e carisma, enchia de
orgulho os olhos de democratas de miolo mole em Hollywood assim como os
inimigos da América no mundo. Trump, há quase quatro anos, decidiu o oposto:
tomou as medidas adequadas — e nada populares para os pagadores de pedágio
ideológico dos balcões progressistas em Bruxelas — ao reprimir os países que
não estavam contribuindo com a verdadeira ajuda e alianças militares no mundo
para a proteção à liberdade.
A revolução tecnológica chinesa não é apenas uma tela industrial
supervisionada por uma ditadura orwelliana
Trump não tem o carisma nem os
amigos na imprensa de Obama, não mede as palavras, tem a delicadeza de um
elefante numa loja de cristais e peca pelo excesso, sempre. Você não precisa
gostar dele para admitir que é verdadeiro e incisivo. Victor Davis Hanson
continua: “Por que esses países não pagam sua parte justa? A União Europeia, à
qual todos pertencem, tem cerca de 90% do PIB dos Estados Unidos. Não pagam porque
não querem. E eles presumiram que ninguém jamais questionaria a Otan, a ONU ou
a OMS”. Mas o bufão laranja sem papas na língua o fez. E o mundo desabou.
Mas Trump não parou por aí.
Ele nunca para. O mesmo comportamento foi aplicado nas relações com a China,
antes e depois do coronavírus. Trump vem mostrando desde 2016 — e é
constantemente acusado de ser conspiracionista — que a agenda do Partido
Comunista Chinês é a hegemonia mundial em 20 anos, declaração que os próprios
chineses anunciaram no congresso do partido em 2017. E o inquilino da Casa
Branca nada presidenciável anunciou: “Vamos colocar mais tarifas”. E o mundo,
mais uma vez, ficou chocado. Apesar da descrença de que Trump pudesse afetar a
mudança das atuais engrenagens no mundo por meio de tarifas, o professor Hanson
disse acreditar que a China estava prestes a fechar um acordo com os Estados
Unidos quando a covid-19 paralisou o país e o mundo.
E a verdade é incômoda. Goste
você ou não de Donald Trump, o governo comunista chinês representa cada vez
mais uma ameaça não apenas para seu 1,4 bilhão de cidadãos, mas para o mundo em
geral. A China está atualmente em estado perigosamente caótico, camuflado por
pós-verdades e mentiras absolutas de um governo ditatorial. Não dá para
fecharmos os olhos quando uma sociedade autoritária pré-moderna salta
descontroladamente para o admirável mundo novo da ciência de alta tecnologia em
uma única geração. E meio mundo passa a ser dependente de sua cadeia de
produção em quase absolutamente tudo.
E essa revolução tecnológica
chinesa não é apenas uma tela industrial supervisionada por uma ditadura
orwelliana. Para tornar a China instantaneamente rica e moderna, a hierarquia
comunista — o mesmo governo que já causou a morte de cerca de 60 milhões de
inocentes sob o governo de Mao Tsé-Tung — ignora os direitos de propriedade,
esmaga a liberdade individual e tenta tirar de cena qualquer um que se
interponha em seu caminho. E Donald Trump sabe disso.
Mais de 1 milhão de pessoas mantidas em “campos de reeducacão”, como
fizeram Mao Tsé-Tung, Stalin e Hitler
O mundo está aprendendo que a
China não apenas move montanhas para construir — ou destruir — o que precisa
para abrir e manter seus obscuros caminhos. O mundo hoje sabe que a China
também escondeu o surto e as origens misteriosas do novo coronavírus mortal de
seu próprio povo e do resto do planeta. Milhares de portadores desconhecidos
espalharam a praga viral enquanto o governo encobria suas proporções
epidêmicas.
O mais assustador é que a
China não parece apenas confiante de que em breve dominará o mundo, dada sua
enorme população, enormes superávits comerciais, vastas reservas de dinheiro e
indústrias que produzem bilhões em dispositivos eletrônicos, produtos
farmacêuticos e bens de consumo para todo o globo. A ditadura chinesa demonstra
bizarra confiança de que o Ocidente não questionará seus “campos de reeducação”
com mais de 1 milhão de muçulmanos uigures, realocados da mesma maneira que
Mao, Stalin e Hitler uma vez realocaram populações “indesejáveis”.
Durante um ano, o governo
chinês enfrentou grandes manifestações de rua pela democracia em Hong Kong.
Astros da NBA ou famosos de Hollywood que entoam 24 horas por dia que vidas
negras importam até hoje não se manifestaram a favor da defesa dos direitos
humanos de toda aquela gente. E Pequim, cínica — parece que acertadamente —,
assume que as nações ocidentais não vão se importar. Também por isso, Donald
Trump virou uma pedra no sapato.
Fala e tuíta demais sobre essa
coisa chata chamada liberdade e democracia. Quem abandonará a lucratividade de
seus investimentos na China para abrir a boca contra a ditadura comunista? Quem
abandonará a comodidade de seus altos salários, jatos particulares, iates e festas
de produções cinematográficas bancados com dinheiro chinês para se atracar na
defesa de… de que mesmo? Ah, é. Direitos humanos. Details.
Tudo isso deveria lembrar ao
mundo que a China enriqueceu distorcendo o comércio e roubando tecnologia da
mesma forma que lida com epidemias e dissidentes, simplesmente ignorando as
críticas legítimas e esmagando qualquer um em seu caminho. Se o regime
comunista chinês está disposto a colocar milhões de seus cidadãos em risco de
infecção e morte, por que se importaria com direitos humanos, ética ou a quebra
de regras no comércio internacional?
A verdade sobre a decisão do
presidente Trump de chamar a China para prestar conta de seu abuso sistemático
das normas de comércio internacional ou da transparência em relação ao vírus
chinês que causou uma pandemia histórica, não é que a política de Trump seja
imprudente. O problema é que pessoas não estão dispostas a ignorar quem ele é
como pessoa, seus tuítes malcriados ou o fato de que ele definitivamente não é
um diplomata típico.
É preciso separar a figura
Trump de suas políticas e de sua abordagem peculiar nas relações
internacionais. Se você ficar preso em seus tuítes e não olhar para o que ele
está realmente fazendo, fica difícil dizer que você concorda com ele. Entender
que há muito mais em jogo nessa eleição do que apenas uma guerra entre
democratas e republicanos é vital, e isso não significa um endosso a tudo o que
ele posta ou fala em entrevistas. É preciso olhar para a política que ele está
realmente adotando, que sua administração põe em prática. A liberdade está na
berlinda, e não estou falando da chinesa.
Tente encarar mais ou menos
como a fábula de Esopo sobre o gato que comia todos os ratos. Um dia os ratos
se reúnem e dizem: “Alguém tem de colocar um sino nesse gato! Assim, toda vez
que ele vier nos comer, poderemos ouvi-lo e nos esconder!”. Mas então eles
percebem que aquele que colocará o sino no gato vai ser devorado, e então
desistem da ideia: “Ah! Deixa pra lá. Não queremos fazer isso mesmo…”.
Em outras palavras, alguém
teve de botar o sino em todas essas políticas externas falaciosas, hipócritas e
desajustadas, seja nos desmandos da Otan, da ONU, da OMS, ou no obscurantismo
ditatorial chinês que está engolindo o Ocidente silenciosamente. Um de nós está
sendo devorado desde 2016, mas o gato, finalmente, está com o sino. De que lado
você está?
Título e Texto: Ana Paula Henkel,
revista Oeste, nº 25, 11-9-2020
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