domingo, 17 de fevereiro de 2013

A mão estendida para ajuda poderá ser a mesma que mata


Francisco Vianna
Os norte-coreanos têm tentado criar ao longo das duas últimas décadas um arsenal nuclear, o que tem aumentado a tensão na região do mar da China, no Japão e, principalmente, na sua vizinha do sul da península, a Coréia do Sul.
Tais tensões se refletem no Ocidente, por envolver aliados chaves na região. O Ocidente vem tentando negociar, batendo na tecla de que tal ameaça não levará Pyongyang a lugar nenhum exceto à ruína, de onde já estão bem próximos, em função da ideologia do regime imposto pela dinastia da ditadura socialista que lá impera.
Quanto mais o Ocidente tenta dissuadi-los em sair dessa estrada belicista e ruinosa, mais o regime ameaça o Ocidente, principalmente os ainda distantes, para eles, EUA. Washington tenta ignorar tais ameaças, considerando-as mais um produto de dialética do que um perigo concreto. Nada disso parece fazer qualquer diferença visível. Faça chuva ou faça sol, eles continuam em busca de seu perseguido arsenal nuclear.
Por isso, não causou qualquer surpresa no mundo quando o governo de Pyongyang realizou, há poucos dias, um novo teste nuclear, o terceiro já feito. Dado o histórico do regime, não se trata apenas de saber se a Coreia do Norte é ou não capaz de apertar o botão de uma agressão nuclear, mas sim uma questão de saber quando eles o farão.
Enquanto isso, a fome mete as suas garras nas carnes magras do seu povo – onde o único 'gordinho' visível é o ditador Kim Jong-Un – enquanto o regime culpa os EUA e agora até a própria China, que não parece disposta a sustentar indefinidamente os norte-coreanos.
O fato de o teste nuclear e sua consequente explosão subterrânea ter sido realizado no mesmo dia em que o presidente Barack Obama fazia o tradicional discurso sobre o "Estado da União", talvez signifique mais uma tentativa de afronta ao Ocidente e aos EUA do que qualquer necessidade de progredir com o seu programa nuclear.
A verdade é que o politiburo comunista da Coreia do Norte é tão militaristamente inconsequente e irresponsável que chega a meter medo no resto do mundo, que procura tratar o país com extrema cautela. Isso inclui a própria China que começa a se preocupar com peripécias radioativas próximas ao seu território perpetradas por seu temerário vizinho.
A suposição mais evidente é a de que Pyongyang joga um jogo de alto risco visando pressionar ou coagir Estados Unidos, Coréia do Sul, Japão, China e até sua própria população a não ousarem tentar mudar o regime do país. A motivação é simples para tal comportamento: querem um artefato nuclear mais do tudo no mundo, mais até do que comida para alimentar seu povo faminto e miserabilizado.
Por que querem tanto isso? Pela mesma razão agiram assim a União Soviética e a China. No caso do imperialismo soviético, era claro a intenção de se expandir pelo mundo inteiro e, no caso da China, movida pelo medo de novas invasões de seus vizinhos, como a que perpetrou o Japão antes da 2ª Guerra Mundial.
Todavia, no caso da Coreia do Norte, sobre a qual não paira nenhuma ameaça externa, nem provinda do Norte, da China – que só ganharia a obrigação de sustentar os norte-coreanos para sempre – e muito menos da Coreia do Sul que sempre demonstrou um desejo de reunificar toda a península numa Coreia só, bastando para isso que o norte aceitasse fazer algumas poucas modificações em seu regime – a maioria das quais a China, sua principal aliada, já fez.
Há uma crença de que o desenvolvimento de armas nucleares aumenta a segurança de um país, ao enviar uma mensagem aos demais e que pode ser lida seguinte forma: "não podem nos destruir sem sofrer o risco de também serem destruídos". Tal visão – chamada de DOUTRINA DO ARMAGEDON – é antiga e nenhum país cogita, hoje, sequer remotamente, em chegar a esse ponto, com raríssimas exceções.
Tais exceções hoje em dia são justamente a Coreia do Norte e o Irã. Sul-coreanos e japoneses se sentem em relação à Coreia do Norte como israelenses e sauditas se sentem em relação ao Irã.
O Irã, pelo menos, é um país rico e a cultura persa uma das mais antigas e tradicionais do mundo, tendo muito a perder com uma agressão tresloucada contra Israel e a Arábia Saudita, ou mesmo através de um bloqueio ao tráfego naval no estreito de Ormuz, no golfo pérsico. A Coreia do Norte, no entanto, é um país pequeno, pobre, atrasado, e no curto e longo prazo capaz de desenvolver mais inimigos do que amigos. É um dos países mais isolados do resto do mundo e muito pior do que Cuba.

Mais de 100 mil militares e civis participam de um grande ato em Pyongyang, na quinta-feira (14), para celebrar o teste nuclear realizado pela Coreia do Norte e saudar a "inigualável" coragem de seu líder Kim Jong-un, segundo a imprensa estatal. Foto: KCNA/AFP
Sua única, estreita e viciada visão de segurança é a de possuir "a bomba"... São incapazes de sequer imaginar o que conseguiriam caso se irmanassem pacifica e construtivamente com seus irmãos do sul, que hoje estão ricos e poderosos ao ponto de já terem se oferecido para dividir o que têm com o norte. Tal visão se tornou ainda mais radical em 2002, quando, após o ataque de 11/9, o presidente George W. Bush descreveu a Coreia do Norte como parte de um "eixo do mal dedicado a ameaçar a paz do mundo". Os outros membros eram Irã e o Iraque de Saddam Hussein.
Como disse Albert Einstein, "a definição de insanidade é fazer a mesma coisa sempre e esperar resultados diferentes". A Coreia do Norte parece ter criado uma nova definição para a loucura, qual seja a de "fazer sempre algo diferente e esperar um resultado apenas, medo e oposição".
A mão estendida dos sul-coreanos, uma vez mordida, está plenamente capacitada para ser a mesma que pode destruir a ditadura do norte, isso se os norte-coreanos, antes, movidos pelo desespero, não comerem em última instância os seus dirigentes para matar a fome que grassa por aquelas bandas da península.
Título e Texto: Francisco Vianna, 17-02-2013

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