sexta-feira, 15 de maio de 2015

Um escândalo: o governo de “direita aplicou políticas de direita”

João Marques de Almeida
No fundo, o Fórum acha que Portugal deve ter partidos de extrema-esquerda (mais aceitáveis que os de direita), partidos de esquerda e partidos de centro esquerda. De direita, nunca.

O Fórum de Políticas Públicas, realizado esta semana no ISCTE, acusou o governo de “aplicar políticas de direita”. Segundo as notícias, discutiu-se sobretudo a execução do “memorando”. É sem qualquer dúvida um ponto importante, mas não é o que me interessa aqui. O ponto relevante tem a ver com a cultura democrática de muitos dos participantes no Fórum, e o modo como avaliam a legitimidade da “direita” em Portugal.

Há uma frase notável de Pedro Adão e Silva: O memorando de entendimento permitiu ao governo “implementar políticas que de outra forma não teria sido capaz porque encontraria pontos de veto políticos, sociais e institucionais.” As políticas implementadas foram, obviamente, políticas de “direita”. Ou seja, o que Pedro Adão e Silva está a dizer é o seguinte: o sistema democrático português estava organizado, até à vinda da “troika” para impedir políticas de direita. A Constituição, “o Tribunal Constitucional, os parceiros sociais, os partidos políticos, a presidência da República” foram desenhados para impedir as políticas de direita implementadas por este governo. Em Portugal, até 2011, podia-se a governar mais à esquerda, menos à esquerda, mas sempre à esquerda. Este raciocínio extraordinário permite várias leituras.

A primeira é óbvia. O Fórum está certo. Desde 1974 até este governo, Portugal nunca teve um governo de direita. Qual foi o resultado? Três falências do Estado e três intervenções externas. As duas primeiras do FMI e a terceira da “troika”. Quando se governa mais ou menos à esquerda, o país necessita de ajudas financeiras externas. Quando, por fim, se governa à direita, a intervenção externa acaba. Eu que sou de direita confesso que sou mais moderado que os participantes no Fórum. Estou disposto a aceitar que os partidos de centro direita em Portugal também tiveram algumas culpas nas políticas que levaram à falência de 2011. Mas os elementos do Fórum dizem que não. A responsabilidade foi inteiramente dos governos mais ou menos à esquerda e do sistema que impediu sempre executivos de direita como o actual. Estou disposto a concordar com o Fórum.

A segunda leitura aponta para a dificuldade que os elementos do Fórum têm em lidar com o pluralismo político. Eles não aceitam que em Portugal possa haver um governo de direita com políticas de direita. Em Portugal, só pode haver dois tipos de governos: os de esquerda e os supostamente de direita, mas com políticas de esquerda. Aliás, segundo o Fórum a esquerda tem inteira legitimidade para definir o que é aceitável por parte de um governo de direita. Freitas do Amaral aparentemente proferiu uma frase extraordinária: “esta não é a direita de 1975.” Não é de certeza, e ainda bem. Não é uma direita educada no Portugal do Estado Novo – e nas escolas de excelência do regime. Nem é uma direita que deixa a esquerda definir como se pode ser de direita.

No fundo o Fórum acha que Portugal deve ter partidos de extrema-esquerda (mais aceitáveis que os de direita), partidos de esquerda e partidos de centro esquerda. De direita, nunca. Dito de outro modo, 15 anos depois do início do século XXI, Portugal seria um caso único na União Europeia. O único país onde os partidos de direita não seriam legítimos. Como o Fórum sabe muito bem, a direita que está no poder em Portugal não é diferente das direitas espanhola, francesa, alemã, holandesa, sueca, britânica, irlandesa, polaca e por aí fora. O Fórum gostaria de um país com um consenso ideológico que condicionasse todos os governos a seguir mais ou menos políticas socialistas. Está na altura de entenderem que esse mundo chegou ao fim. E só por isso – o que não é pouco – a contribuição deste governo para o pluralismo político da democracia portuguesa será histórico.

Há uma última leitura. Os participantes do Fórum ainda não perceberam que em Portugal já não basta acusar alguém, ou um partido, ou um governo por ser de “direita.” Não só a direita deixou de assustar, como a esquerda deixou de tranquilizar. A competição está mais aberta e mais difícil. Já não basta exibir a boa consciência da esquerda e acusar o “egoísmo” da direita para ganhar eleições. Será necessário conquistar a confiança dos portugueses e convencê-los que um governo de esquerda será melhor para a economia do que um governo de direita. Daqui até Outubro, os participantes do Fórum vão perceber bem o que isto significa.
Título e Texto: João Marques de Almeida, Observador, 15-5-2015

João Marques de Almeida, os meus parabéns pela lucidez, a par de Rui Ramos, Helena Matos, Maria João Avillez e José Manuel Fernandes que vêm denunciando tão claramente esta cultura que se instituiu em Portugal de que o PS e a esquerda são donos da democracia e, ou o PSD de hoje e CDS amocham, ou se se desviam do caminho traçado pelo PS com a extrema-esquerda atrelada, serão acusados de perigosos direitistas. Aliás há uma coisa extraordinária que esta gentinha conseguiu criar na mente da populaça, é que Salazar era de diretita (deixem-me rir!) e que como a ditadura era Salazar e Salazar a ditadura, esta direita é Salazar e logo, nestas cabecinhas a consequência é que a direita é malévola e quer restaurar os “valores” da ditadura. Pensamento primário, mas que ainda funciona nalgumas cabecinhas menos avisadas.

O que é preciso ser dito, é que esta gente, encabeçada pelo PS e um PSD do passado tomaram conta do regime, dos negócios do regime, manipularam e foram manipulados por banqueiros, empresas públicas, enfim dispuseram do Estado a seu bel-prazer e chegada a Troika e com Pedro Passos Coelho á cabeça do governo, a estrutura do regime foi abalada, para bem de todos nós. Os participantes do Forum são apenas e só mais umas viúvas de um regime podre e envelhecido que gangrenou a economia e destruiu o País de uma ponta à outra. Deixaram-nos sim, um País cheio de estradas, calotes e fraudes no Estado e uma PESADA HERANÇA para várias gerações.
Em Outubro, Setembro ou lá quando forem as eleições, é bom que os portugueses acordem a tempo.

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