terça-feira, 20 de julho de 2010

Vamos ter saudades dos nossos políticos

O que distingue as crianças dos adultos, dos bem-educados sublinhe-se, é a capacidade de cumprirem tarefas chatas e até desagradáveis sem protestos. É a capacidade de colocarem os interesses comuns, à frente dos seus primeiros impulsos. É perceberem que às vezes custa, mas que vale a pena.
Para que chegassem a este ponto foi preciso muito trabalhinho de pais dedicados e professores abnegados. Gente que teve de traçar objectivos, decidir limites, impor regras, castigar sempre que não eram cumpridos e premiar quando atingidos. Ou seja, que teve de educar, essa tarefa ingrata que a curto prazo dá imensas dores de cabeça, mas que é insubstituível: nenhuma criança aprende sozinha a resistir à frustração e a aceitar que não é o centro do universo.
Nos momentos de desespero os pais têm vontade de desistir. E aí separam-se as águas, entre aqueles que acreditam que educar é também frustrar, e que a criança será a primeira a ganhar com isso, e aqueles que não estão muito seguros de si e balançam entre assomos de autoridade, de vitimização e de permissividade, com resultados desastrosos. Talvez porque confundem autoridade com o autoritarismo de que foram alvos, reabrindo feridas da sua própria infância.
Isto tudo para dizer o quê. Para dizer que não há como passar uma tarde num parque infantil para perceber que há muitos pais que estão metidos numa camisa de onze varas. Não desce do escorrega se não lhe derem um gelado, não atira os papéis para o lixo, se não fingirem que é uma tarefa lúdica, faz birras, grita, quer o “prazer na hora” e deixa até um espectador exausto.
Enquanto resisto a intervir (tentação que herdei da minha mãe), penso em como é que vão ser os políticos e os chefes de amanhã. Suspeito que ainda vamos ter saudades dos que temos, por muito inimaginável que isso agora nos pareça.
Isabel Stilwell, in "Destak", 20 de julho de 2010

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