segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Dilma, o Irã e os judeus: uma coleção de bobagens e abobrinhas

Como sabem, os petralhas, ao emitir seus borborigmos à guisa de pensamento, imaginam-me, sei lá, batendo a cabeça na parede — eu poderia dizer “arrancando os cabelos”, mas metáforas e hipérboles têm de ter alguma credibilidade, hehe — caso Dilma venha a ser eleita. Ah, não vou. Posso até não achar “uma boa” (sendo singelo…) para o país, mas uma coisa é certa. Terei divertimento garantido por um bom tempo. Leiam o que vai abaixo. Volto em seguida.
Por Anne Warth, da Agência Estado:
A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, disse nesta segunda-feira, 13, que as boas relações diplomáticas entre Brasil e Irã não significam que o País endossa as teses do presidente Mahmoud Ahmadinejad, tais como a negação do holocausto. A ex-ministra fez a afirmação após se reunir na capital paulista com integrantes da Confederação Israelita do Brasil (Conib). 
Transporte para o campo de Auschwitz, Polônia
Dilma foi enfática ao chamar o holocausto de “barbárie” e aproveitou o momento para dizer que tem uma avó que, provavelmente, era judia. “Nem eu nem o governo Lula nem o presidente achamos admissível a negação do holocausto. Ele ocorreu e as provas são contundentes. Não é admissível a volta daquela barbárie em qualquer período histórico”, afirmou.

Porém, Dilma disse não concordar com a estratégia do isolamento e da guerra contra países com os quais existem divergências. “A melhor estratégia não é a guerra nem o isolamento. Não é tentar resolver pela forma como foi resolvida com Iraque e Afeganistão”, afirmou.
Ela destacou ainda que sua relação com Ahmadinejad “não é pessoal”. “A relação com o Irã busca a paz”, afirmou. “Nós somos um povo pacífico e devemos sistematicamente defender isso. Não significa que aprovemos a negação do holocausto nem a utilização de métodos bárbaros do apedrejamento de uma mulher”, explicou. Questionada sobre sua opinião em relação ao conflito entre Israel e a Palestina, Dilma disse que as duas nações têm direito a ter um Estado e a viver em paz.
Sobre sua avó, Dilma contou que ela usava o sobrenome Coimbra, uma indicação de que poderia ser uma judia que adotou o Brasil para viver e que mudou de sobrenome ao chegar. “Eu imagino que minha avó fosse judia porque ela se chamava Coimbra, era de origem portuguesa e acho que ela tinha todos os traços”, afirmou. “Pelas características físicas, acho que era uma cristã-nova.”
Orgulho
Após o encontro, o presidente da Conib, Claudio Luiz Lottenberg, afirmou que Dilma comentou o fato de provavelmente ter origem judia com orgulho. Sobre as relações entre Brasil e Irã e o conflito entre Israel e Palestina, Lottenberg disse ter ficado satisfeito com o posicionamento da candidata. “Ela foi muito objetiva, muito séria e consistente”, afirmou. “Ela pediu que nós entendamos, enquanto brasileiros, que dentro de uma estrutura de Estado, estas relações são normais”, disse a respeito de Ahmadinejad.
De acordo com ele, os temas relacionados à política externa dominaram as discussões com a candidata. “Ela disse que não nutria nenhum tipo de simpatia em relação à postura do presidente do Irã, mas que efetivamente o relacionamento com o Irã deve existir e, portanto, dentro de um contexto internacional, isso é parte da atividade dela enquanto foi ministra do governo Lula. Agora, se for eleita, a relação será sem qualquer tipo de proximidade com o presidente do Irã”, disse Lottenberg.
Já sobre a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação a Ahmadinejad, Lottenberg foi mais crítico. “O presidente é um indivíduo que habitualmente quebra protocolos e que permite aproximações. Ele é uma pessoa naturalmente envolvente e sem grande atividade protocolar. Não sei se isso dá para confundir com amizade”, disse.
“A gente acha que presidente Lula tem cacife político e credibilidade internacional para pressionar de maneira pública o presidente do Irã. Mas não acredito que ele tenha uma admiração de caráter pessoal (por Ahmadinejad) e que ele o apoie de maneira pessoal”, afirmou.
Comento
Começarei por Cláudio Luiz Lottemberg, presidente da Conib. Entendo o seu papel institucional. Ele não poderia dizer coisa muito diferente do que disse. Quando convidamos alguém para a nossa casa, não saímos falando mal da visita por aí.  Mas também não é preciso distorcer os fatos para ser agradável. Não vou condescender com o seu resumo errado da relação entre Brasil e Irã. Isso está fora do terreno da delicadeza. É história.
Segundo a Agência Estado, Lottemberg fez a seguinte síntese: “Ela foi muito objetiva, muito séria e consistente. Ela pediu que nós entendamos, enquanto brasileiros, que, dentro de uma estrutura de Estado, estas relações [com o Irã] são normais”. Epa! Aí, não! Quais relações? Se a sua fala indica concordância com o que Dilma disse, ele está redondamente enganado.
Alguém poderia afirmar e indagar: “Um judeu concorda com o que Dilma diz sobre Irã, e vai você discordar?” Sim! Com absoluta tranqüilidade! E por vários motivos;  elenco  três: 1) não tenho com ela as obrigações de um anfitrião; 2) acho que há muitos judeus (e não-judeus) que estão errados sobre o Irã; 3) a segurança de Israel e do mundo não é algo que diga respeito apenas a judeus —  e, portanto, o “ser judeu” não qualifica a opinião de ninguém sobre esse tema. Adiante!
Nunca ninguém esperou que o Brasil rompesse relações com o Irã. Isso é uma tolice. O papel lamentável do governo Lula, Lottemberg, e nada há de “normal” nisso, é ignorar as evidências do caráter militar do programa nuclear iraniano. O papel lamentável do  governo Lula é dar endosso, sem reservas, à tirania daquele país. A proximidade é tal que Lula declara seu “carinho” e “amizade” por Ahmadinejad ao pedir que, bem…, ele não mate uma mulher por apedrejamento. O papel lamentável do governo Lula é ser um crítico contumaz do governo Israel e se calar sobre as ações terroristas dos palestinos.
Lottemberg diga o que quiser e fale, em nome do grupo que representa, o que bem entender. Só não consegue torcer e história e eliminar o fato de que o Brasil faz parte de um grupo reduzidíssimo de países que se nega a reconhecer o real caráter do governo iraniano. Folgo em saber que Dilma reconhece a existência do Holocausto. Só faltava não reconhecer. Aguardo a hora em que ela vai declarar que reconhece também a Lei da Gravidade.
Bobagem
Tenho cá comigo alguns indicadores de anti-semitismo, racismo etc — ainda que as pessoas não tenham sobre o que dizem muita clareza. Um deles é precisamente este: “Olhe, não tenho nada contra judeus; acho até que tenho origem judaica”. Ou ainda: “Adoro judeus; meu médico é judeu”. Huuummm… Alguém sente a necessidade dizer que gosta tanto de japoneses que tem um médico japonês? Há variantes. “Racista? Eu? A minha primeira namorada era preta…”
Dilma explicou para a Conib por que o governo brasileiro mostrou disposição de dialogar com o Hamas para discutir a paz no Oriente Médio? Lottemberg pode até ter ficado comovido com as bobagens ditas sobre a “avó judia” de Dilma, eu não fiquei. E não fiquei não porque não seja judeu — eu sou amigo do Caio Blinder, tá, pessoal? —, mas por apreço aos fatos.
Agora vamos à história da avó… Há uma besteira por aí segundo a qual nomes portugueses que remetam a plantas, cidades e países indicam que os ancestrais eram cristãos novos, judeus convertidos à força ao cristianismo. Ao renunciar a seu nome, buscavam manter a identidade recorrendo a esse truque. Assim, seriam originalmente judeus todos os oliveiras, pereiras, macieiras, franças, coimbras… O que há de historicamente comprovado nisso? Nada! Trata-se apenas de uma besteira, de falsa cultura.
Perseguidos, os judeus assumiram outra identidade em vários países, adotando os nomes correntes nos lugares onde estavam. Há judeus que adotaram o sobrenome “Porto”? Há. Porque havia muitos portugueses que eram… Porto, entenderam? Há judeus que escolheram o “Oliveira”? Sim, porque Oliveira era um nome comum em Portugal, entenderam? Há judeus que escolheram o nome ligado a uma profissão? Sim, o que era corriqueiro entre os não-judeus.
O fenômeno é outro. Um sobrenome português (ou ibérico) — de cidade, de planta ou outro qualquer — num país como a Holanda, por exemplo, pode, sim, indicar a origem judaica e remeter à perseguição que essa população sofreu na península ibérica, fugindo para outro país.
Caso Dilma seja eleita, sentiremos falta daquela ignorância absoluta e convictamente iletrada de Lula, ainda que dotado, como já disse tantas vezes, de notável inteligência — o que não parece ser, assim, uma das saliências de sua criatura eleitoral. Dilma concluiu ainda que sua avó poderia ser uma cristã nova porque ela “tinha todos os traços”.
Epa! Quais traços? Formato do crânio? Do olho? Do nariz? Quais são “os traços” físicos de um cristão novo — e, pois, de um judeu? Eu, sinceramente, não sei. Inexiste literatura a respeito. Digamos que houvesse um traço físico comum aos judeus sefaraditas “convertidos” ao cristianismo na porrada (não havia; estou apenas conjecturando). Nascida, creio, ainda no século 19, a avó de Dilma teria conservado tais traços por quase cinco séculos. Foram gerações e gerações de cristãos novos cruzando entre si para não perder aquele nariz, aquela testa, aquele queixo…
Caso Dilma seja eleita, a bobagem muda de patamar: o país sai da ignorância iletrada para a ignorância ilustrada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-