A reunião de Lula com os governadores eleitos, senadores, líderes da base aliada e o alto staff da candidatura de Dilma, lembrou bem aquela história de “em casa de pouco pão, todo mundo reclama e todo mundo tem razão”.
Tem razão os que culparam a agressividade de Lula contra a imprensa. Tem razão o presidente quando exigiu uma guinada na campanha e que a candidata deixe o salto alto de lado. Só que ninguém foi mais arrogante do que Lula na campanha. Falou em exterminar a oposição, foi o maior adepto da tese de que a vitória viria no primeiro turno e disse até que faria “lipoaspiração” nos votos de Marina, assim como fez com Heloísa Helena.
Abertas as urnas, sabemos agora qual candidatura foi “lipoaspirada”: a de Dilma.
Vamos ao rol que estão cobertos de razão. Neste time se incluem os que reclamaram da presença exagerada de Lula, que ofuscou a candidata e também o PMDB, inconformado com o papel residual que desempenhou em toda a campanha.
Subestimação dos escândalos e da questão religiosa
Estão mais certos ainda os que criticaram a campanha por não ter sabido enfrentar a questão religiosa e de ter subestimado o impacto das denúncias dos escândalos, particularmente o da quebra de sigilos fiscais de peessedebistas e o “Erenicegate”. Não há como discordar do conselho dado por Sérgio Cabral, para que Dilma baixe o queixo e seja menos arrogante.
Até aqui, estão todos certos. O diabo é que quando apontaram soluções, os participantes da alta cúpula do lulopetismo transformaram a reunião em uma verdadeira Torre de Babel, com cada um falando uma língua diferente e dando tiro para todo lado.
Deste mato não saiu um só coelho capaz de municiar a candidatura governista, no segundo turno. Vejamos: eles disseram que querem tirar a questão do abordo e da religião do debate, mas aprovaram que a candidata vai falar sobre o valor da vida, já no seu primeiro programa televisivo.
De quebra, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, soltou fogo pelas ventas e acusou de fascistas os que criticaram a dubiedade de Dilma nas questões de fé e de crença, entre elas a do aborto. Conclusão: chamou de fascistas um exército de religiosos que deixou de votar em Dilma exatamente pelo “vai e vem” do PT” em temas que são caros a religiosos, particularmente evangélicos.
Feministas ou evangélicos?
Para acalmar o furor, um deles anunciou a “brilhante” idéia de tirar do programa do PT a proposta de descriminalização do aborto, alegando que ela foi colocada aí como um “contrabando” de feministas. É óbvio que isto não dilui as desconfianças dos religiosos e a candidatura abre um novo contencioso, desta vez com as feministas. Elas são uma minoria, mas tem um poder de vociferação que Deus me livre.
Privatizações e FHC
A outra idéia “luminosa” para que Dilma reconquiste o eleitorado perdido é repetir a farsa de 2006, quando a campanha Lula acuou a campanha de Geraldo, com a acusação de que os tucanos queriam privatizar a Petrobras, os Correios, o Banco do Brasil, o lago Paranoá e o rio Araguaia também. Acreditam os luminares do lulopetismo que vão conseguir no segundo turno o que não conseguiram no primeiro, que é fazer da eleição um confronto focado no retrovisor, como se a polarização que interesse aos eleitores seja a comparação entre os governos de Lula e o de FHC.
É muita ingenuidade acreditar que, quatro anos após, os tucanos cairão na mesma armadilha e não saberão responder à questão da privatização. Se enveredar por este caminho, a candidatura governista pode se ver em maus lençóis. Basta mostrar os resultados obtidos pelas empresas privadas e o montante de impostos que pagam. Antes o estado jogava dinheiro nelas, loteadas, ineficazes e despreparadas para a competição Global. Agora, o fluxo de dinheiro mudou de direção. São as empresas privatizadas que abastecem os cofres do governo, com impostos que antes ela nunca pagava. E mais, basta citar a telefonia, os bilhões de dólares investidos, a universalização dos serviços e a melhoria crescente dos serviços, que não são perfeitos, mas incomparavelmente melhores da época em que eram estatais. Ademais, o sucesso foi tão grande, que fez o PT morder a própria língua. Não “resgatou” para o Estado uma única empresa privatizada.
Está aí a eleição de Aloyzio Nunes, o senador mais votado da história brasileira, para provar que o eleitorado não considera Fernando Henrique nenhum bicho-papão. De quebra, Serra soube enfrentar este tema muito bem nos debates do primeiro turno, ao chamar Dilma e o governo Lula de ingratos, por se beneficiarem dos avanços promovidos pelo governo FHC e não reconhecer seus méritos. E também por dizer que defende FHC não a pessoa, mas sua obra, o real, as privatizações, a lei de responsabilidade fiscal, os programas sociais de transferência de renda etc. Claro, falta defender a pessoa sim, mas estamos longe da timidez da campanha de 2006.
Não esperavam o "the day after"
Se estas são as “grandes armas” de Dilma para o segundo turno, os tucanos esfregam as mãos, excitados. Este tema surrado e batido não fará Serra perder um minuto de sono e muito menos desviá-lo do que será o real confronto do segundo turno: as propostas dos dois candidatos para fazer o Brasil avançar e a comparação de suas biografias.
De fato, o que transparece é que o PT está atônito. Traçou uma estratégia para vencer no primeiro turno, de goleada. Executou-a à risca. Até perto da última semana, o alto comando da campanha acreditava no sucesso, até que não dava para mudar mais nada nos últimos dez dias que abalaram o mundo, o mundo petista.
Derrotada no primeiro turno, a campanha não sabe o que fazer. Não está unificada numa autocrítica dos erros. Apresentam-se questões tópicas, nada que vá a fundo. A campanha teria de trabalhar com a hipótese principal de que a oposição não estava morta e poderia se produzir o cenário que terminou acontecendo: segundo turno e vitória oposicionista nos dois maiores e mais importantes estados brasileiros. E também conquista de posições importantes pelo Brasil afora. O que fazer no dia seguinte, em caso de derrota? Era tamanha a arrogância, que a campanha não se preparou para este momento.
Nazistas e soviéticos
Cabe um exemplo histórico. Na Segunda Guerra Mundial, Hitler invadiu a União Soviética na primavera. Toda a estratégia fora montada levando em conta que a conquista do território soviética se daria em no máximo cinco meses.
Armas e homens preparam-se para o combate rápido, massacrante e com tempo favorável. A liderança nazista estava crente que aprendera com a derrota de Napoleão, que no século anterior fez uma invasão similar.
Os soviéticos conseguiram segurar a ofensiva nazista e ao mesmo tempo transformá-la numa guerra demorada. Chegou o inverno impiedoso. Os alemães jamais imaginaram que teriam de combater nessa condição. As tropas não tinham fardamento adequado para o inverno russo. Armas e munições não conseguiam ter eficiência.
A história é conhecida. A contraofensiva dos soviéticos só acabou com a conquista de Berlim, decisiva para a destruição completa do III Reich, até poucos anos antes, considerado eterno.
Dilminha livre, leve e solta
Há no alto comando do lulopetismo uma crise de criatividade. Tanto que o grande conselho novo dado por Lula à sua candidata foi para que ela adote medidas cosméticas, como por um fim ao tom cerimonioso e com o cerco de seus seguranças, em sua viagem.
Pronto. Agora a campanha vai. Finalmente a candidata deixará de se proteger em um cercadinho, para evitar o assédio da imprensa e do público.
Precisava reunir tanta gente de alto coturno para tomar uma decisão destas?
O FPC e a esperança
No ninho tucano o clima é completamente diferente de 2006, nesta altura do jogo. A possibilidade real de vitória aumenta a adrenalina de um lado e faz crescer ao extremo a necessidade de acerto.
Pitacos tem a obrigação de fazê-los conhecer o FPC (Fator Pés no Chão), aquele deflator para o nosso entusiasmo, para maior segurança nos passos. Mas não pode conter a esperança, que agora é concreta, que é considerar a hipótese de José Serra subir a rampa do Planalto no primeiro dia de 2011. Será um sábado. Poderá passar à história como o início do desmonte da era lulo-petista.
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