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Dom Quixote e Sancho Pança, óleo sobre tela, de Fernando Ikoma, Porto, Portugal |
Cesar Maia
1. É fato que Marina Silva termina a eleição fortalecida por seus 20%. Mas é fato também que isso não acrescentou um deputado federal a mais ao PV. Conclusão óbvia é que destes 20%, o PV talvez tenha contribuído com 2%, se tanto.
2. Marina foi uma referência para o voto ético, o voto dos que acham que a politica é suja e Marina é limpa com cheiro de eucalipto. Mas também foi referência para um voto de exclusão aos compromissos do PT e de Dilma com o PNDH3 e os valores cristãos relativos à vida e a família.
3. Mas nos dois casos, o voto não é dela. É um voto reativo contra os "fichas sujas e os ateus". E nem dará, no futuro, para ela colocar no mesmo balaio razões de voto tão diferentes.
4. A ideia que um voto circunstancial e conjuntural dá ao politico que o atraiu garantia que esses eleitores continuarão com ele é ingénua.
5. O PV, no dia 17, vai decidir..., não decidir. Imagina -ingenuamente - que, com isso, não se contamina em nenhum dos dois lados e sai da eleição como um tercius. Ilusão treda, diria Augusto dos Anjos.
6. Nos últimos meses, tivemos dois casos assim em eleições presidenciais: o jovem Ominami no Chile e o ex-prefeito de Bogotá Mockus na Colômbia. Votações que foram além desses 20% de Marina e com mais conteúdo, e claro, sempre dentro do figurino ficha limpa x política ficha suja. Ominami inclusive lavou as mãos no segundo turno. Poucos meses depois não há sinal da liderança de ambos e da referência que foram na eleição presidencial.
7. Na política há que se ter lado. Se Marina tiver lado, será parte do segundo turno. Marcará sua presença na campanha e na TV. Estabelecerá links de reconhecimento e compensação, seja com o PSDB seja com o PT, a níveis estaduais como nacional, dependendo do resultado da eleição. Marina foi até aqui um fenômeno derivado de outros. Mas pode alavancar-se e a seu partido se tiver lado nesse segundo turno.
8. A doença infantil e mortal na política é a Síndrome de Dom Quixote. Em geral, termina abraçado com seu cavalo e Sancho Panza.
Ex-blog do Cesar Maia, 14-10-2010
Versos de amor
Parece muito doce aquela cana.
Descasco-a, provo-a, chupo-a . . ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana.
Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!
Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo
Mas certo, o egoísta amor este é que acinte
Amas, oposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquilo que eu não chamo.
Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.
Porque o amor, tal como eu o estou amando,
E Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não o estar pegando!
Descasco-a, provo-a, chupo-a . . ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana.
Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!
Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo
Mas certo, o egoísta amor este é que acinte
Amas, oposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquilo que eu não chamo.
Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.
Porque o amor, tal como eu o estou amando,
E Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não o estar pegando!
É a transubstanciação de instintos rudes,
Imponderabilíssima, e impalpável,
Que anda acima da carne miserável
Como anda a garça acima dos açudes!
Para reproduzir tal sentimento
Daqui por diante, atenta a orelha cauta,
Como Marsias — o inventor da flauta —
Vou inventar também outro instrumento!
Mas de tal arte e espécie tal faze-lo
Ambiciono, que o idioma em que te eu falo
Possam todas as línguas decliná-lo
Possam todos os homens compreendê-lo!
Para que, enfim, chegando à última calma
Meu podre coração roto não role,
Integralmente desfibrado e mole,
Como um saco vazio dentro d'alma!
Augusto dos Anjos
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