No Egito, a violência contra jornalistas e repórteres já se alastrou. O que é um grande mau sinal do "mood" da população egípcia... Abaixo, relato do correspondente do jornal "Público":
Paulo Moura
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Correspondente do PÚBLICO foi preso no Cairo. Foto: Suhaib Salem/Reuters |
Nas dezenas de checkpoints anteriores tínhamos conseguido passar, apesar de a presença de um estrangeiro no pequeno Daewoo vermelho de Ahmad suscitar grande excitação. Mas via-se logo que aquele era um checkpoint que se levava muito a sério. Eram dezenas de homens armados com paus e olhares a raiar a demência.
Depois de muita gritaria com Ahmad, o meu tradutor, pediram-me o passaporte, que alguém levou, fizeram-me sair do carro, para me revistarem. Um homem de gel no cabelo perguntou com a voz sinistra que deve ter aprendido em interrogatórios policiais: "O que veio fazer a este país, sir?" Depois surgiu alguém que gritava mais alto que todos, que me fez entrar para o banco traseiro do carro. Sentou-se no da frente e dois homens instalaram-se a meu lado. Um tinha um penso no nariz e outro sangrava da cabeça. Deram instruções a Ahmad para seguir por um labirinto de ruelas, através de um bairro escuro, cheio de homens armados com bastões e ferros. Silêncio no carro. À passagem, ouvi alguém dizer-me lá de fora, em inglês: "Eles vão matar-te."
Num beco sem saída esperava-nos um grupo de homens mais velhos. A sua atitude já era hostil antes de eu abrir a boca. Isso acontecia, parecia, porque só chegava ali quem era culpado de um crime.
Gritaram-me perguntas em árabe e não esperavam pela tradução. Empurraram-me contra uma parede para poderem revistar mais recatadamente a mochila. Tiraram tudo. Só pediram a minha ajuda para ver as fotos e filmes gravados no Iphone. Não havia nada, excepto um retrato do meu filho e vários de um pastor da serra da Estrela que entrevistei há um mês. Decepcionados, desataram a gritar com Ahmad.
Empurraram-no, deram-lhe pontapés no carro. Acabaram por nos deixar à guarda de quatro homens e foram tratar de outros assuntos. Ficámos ali mais de uma hora. Ahmad chorava baixinho. "Vão matar-nos", dizia. "Acham que és um agente israelita." Então tive uma ideia. Eles que nos levassem aos militares, disse a Ahmad. Eles estão em todo o lado, decerto haveria alguns por perto.
Muita gritaria depois, estávamos de novo no carro a caminho de um posto militar. Fui entregue como um prisioneiro. De novo revistado e interrogado, desta vez com direito a tradução. Voltaram-me para uma parede, de braços no ar, em posição de fuzilamento. Mas depois deixaram-me ir. Ficaram só com a pen, um "instrumento perigoso e proibido".
Paulo Moura, no Cairo, para “Público”, 04-02-2011
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Oi,Jim
ResponderExcluirPra complementar esse seu post,eis a entrevista concedida pelo Corban Costa ao Walter Lima,âncora do programa Revista Brasil,da Rádio Nacional AM,que assim como a TV Brasil - da qual o Gilvan Rocha é cinegrafista - faz parte da Empresa Brasil de Comunicação (EBC),que é a antiga Radiobras, empregadora de todos nós.
http://www.youtube.com/watch?v=K4dm3kUOmE4
Abrs
Lícia
Lícia, ouvi!
ResponderExcluirDá para imaginar o tremendo susto desses companheiros!
Felizmente, está tudo bem, e eles voltaram para as suas famílias!...
Oi,Jim
ResponderExcluirÉ,eles ainda estão muito abalados.
Sei que já chegaram aqui nesse sábado,e devo reencontrá-los segunda-feira no trabalho.
Agradeço,em meu nome e no deles, pelo seu apoio.
Abrs
Lícia
PS: Ao colega Paulo Moura,nossa solidariedade e parabéns pela coragem.
ResponderExcluirDe fato,a pen é "um instrumento muito perigoso",porque faz o leitor pensar. Mas assim como aeronautas, nós,jornalistas,amamos a Liberdade e arriscamos nossas vidas todos os dias,noites e madrugadas,e nos orgulhamos disso. E não abrimos mão disso.Nunca.
Abrs
Lícia
Obrigado, Lícia!
ResponderExcluirOi,Jim
ResponderExcluirNão há de quê. Abrs,Lícia
Lícia,
ResponderExcluirSE e QUANDO você quiser (e puder) enviar artigos, indicações de matérias, links, por favor!, terei grande prazer em editar como postagem. Evidentemente com todos os créditos.
Obrigado.
jimpereira@gmail.com
Oi,Jim
ResponderExcluirMuito obrigada pelo generoso convite,que aceito muito honrada.
Prometo caprichar nas remessas,e espero q vc goste.
Sim,sei q vc é totalmente ético,e assim põe os devidos créditos (perdão pelo eco na frase,ou seja acabei rimando,ou quase).
Wlc & tks por tudo. Anotei o i1/2.
Abrs
Lícia
Vamos que vamos! :-)
ResponderExcluirPositivo,operante.QSO. Abra,pls,seu i1/2.
ResponderExcluirAbrs
Lícia
Tem mais,amigo:
ResponderExcluirhttp://g1.globo.com/crise-no-egito/noticia/2011/02/diretor-do-google-detido-durante-manifestacao-no-egito-e-libertado.html
http://g1.globo.com/crise-no-egito/noticia/2011/02/apos-protestos-alemanha-suspende-exportacao-de-armas-para-o-egito.html
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/02/crise-no-mundo-arabe-provoca-adiamento-de-cupula-no-peru.html