sábado, 12 de fevereiro de 2011

A moção de Francisco Louçã

1 Há precisamente uma semana, no rescaldo da reunião da mesa nacional do Bloco de Esquerda, dizia Francisco Louçã: "No dia em que estamos a discutir, não tem qualquer utilidade prática a apresentação de uma moção de censura."
Sabe-se o que aconteceu.
Cinco dias depois, em plena Assembleia da República, a moção saiu da cartola e passou a dominar a discussão política no País. Ou seja, terá passado a ter "utilidade prática"...
A intenção do Bloco de Esquerda não é suportada por nenhum facto novo ao nível da governação.
Não se baseia no desvio do cumprimento das metas inscritas no Orçamento do Estado (cujos resultados devem ser, esses sim, determinantes na avaliação do Governo por estes dias).
Não é suportada, sequer, por alguma polémica em qualquer área social.
Estamos perante, apenas, um julgamento político que tanto podia ser feito agora como no sábado passado, ou nos dias anteriores.


2 Com todo o respeito pela decisão politicamente legítima de um partido que na Assembleia da República representa cerca de 10% dos votos dos portugueses, esta decisão não tem qualquer racionalidade vista à luz do interesse nacional.
Neste momento, o que o País precisa é de dar ao Governo uma última oportunidade para mostrar que é capaz de colocar ordem no défice das contas públicas, dominar a confiança dos mercados onde se financia e, com isto, combater o grande flagelo da sociedade portuguesa: o desemprego e os baixos salários.
Acresce que ao Bloco de Esquerda (como ao Partido Comunista) se pode fazer uma pergunta de fundo: se está permanentemente indisponível para integrar soluções políticas e governativas que dêem estabilidade ao País, para que raio quer novas eleições? Para criticar e dizer mal, sem nunca apresentar alternativas ou tirar as devidas consequências, não basta o Parlamento tal como está?

3 Resta ver esta surpresa levada por Louçã ao Parlamento da forma como ela provavelmente merece: um expediente que visa responder à ameaça que, na semana anterior, Jerónimo de Sousa dirigiu a José Sócrates: pela primeira vez, o PCP admite poder vir a votar ao lado "da direita" uma moção que faça cair o Governo.
Ora se Jerónimo e o PCP prometem, Louçã e o BE cumprem!
Estamos perante uma disputa à esquerda, uma marcação de terreno que talvez integre igualmente a necessidade de o BE responder ao projecto falhado de Manuel Alegre à presidência, no qual Louçã esteve longe de reunir o consenso interno no Bloco e acabou por se distanciar ainda mais do PS. Basta ver o que António Vitorino disse na noite das eleições e o que o líder do BE escreveu, em resposta, aqui nas páginas do "DN".

4 Esta moção, a que se poderá seguir outra do PCP, não contribui em nada, repito, para ajudar a sociedade portuguesa a sair da crise, mas cumprirá o objectivo de melhor se perceber a estratégia de Pedro Passos Coelho.
Ao que tudo indica, o presidente do PSD não dará saída ao repto que ainda ontem José Pedro Aguiar-Branco lhe lançava numa entrevista ao DN e à TSF, defendendo a queda imediata do Governo.
Para o PSD será sempre decisivo apresentar aos portugueses uma razão concreta para fazer cair José Sócrates.
Nas actuais circunstâncias, será sempre necessário que, ou o Governo não esteja a cumprir os pressupostos orçamentais e o controlo do défice (é preciso esperar pelos números), ou venha a ser derrotado numa dessas batalhas que quase todas as semanas trava com "o mercado" (e que na manhã da última quinta-feira esteve muito tremida).
É muito perigoso, para um partido responsável e que quer responsabilizar-se por soluções de poder, não ter uma razão credível para apresentar uma moção de censura.
Francisco Louçã, infelizmente, e até agora, nunca demonstrou querer ter esse problema...

Francisco Louçã. Foto: Diário de Notícias
Portugal parece estar condenado a um clima político de guerrilha permanente, e José Sócrates fez muito, nestes quase sete anos, para merecer algum deste ambiente. A questão está em que o País, neste momento, deveria pedir à política que impusesse um intervalo nas ambições dos seus protagonistas. Mas, pelos vistos, o mundo do trabalho, dos projectos, das empresas, das pessoas que precisam de uma vida melhor, vai ter de passar sem o interregno que merecia.
João Marcelino, Diário de Notícias, 12-02-2011

Seguinte: se o governo não presta, mude-se. Se o partido da oposição pretende chegar (legitimamente) ao Poder, não entendo as tergiversações, vacilos, hesitações...
Não importa se Pureza afirmou que seria uma moção contra a direita, monte-se no cavalo, aproveite-se a oportunidade...
Mas, sei que do "Quartel Geral" sairão as seguintes "verdades" (logo, imediatamente, ecoadas por comentadores, escrevidores e o escambau):
1) Se o PSD não apoiar, dirão que o PSD é patriota e outras lisonjas...
2) Se o PSD apoiar, dirão que o PSD é irresponsável e outras bobagens...
Enfim, o QG, que inventou, para desqualificar e demonizar a aspiração legítima de chegar ao Poder, a "salivação" e outras expressões menos contidas, estará numa boa!
Nunca vi um governo, tão criticado, à direita e à esquerda, durar tanto! São uns cagões, os que tanto criticam este maravilhoso governo, deixam-se pautar por ele!
Inté!

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