Editorial da Folha de São
Paulo
Durante a 30ª sessão de
julgamento do mensalão, ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu cabo de uma
farsa que sobrevivia apenas para setores do PT e seus aliados, nos últimos sete
anos.
A maioria dos ministros
confirmou no plenário do Supremo que o mensalão foi um esquema concebido com a
finalidade de assegurar apoio parlamentar durante o primeiro mandato do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As provas reunidas pela
Procuradoria-Geral da República foram suficientes, portanto, para convencer a
mais alta corte do país de que o mensalão foi alimentado por verbas públicas
utilizadas para comprar votos de membros do Congresso Nacional.
Fica, assim, relegada aos
capítulos burlescos da história a tese mendaz de que o mensalão não teria
passado de episódica distribuição de sobras de campanha, sem contrapartida de
apoio político.
A tentativa de desqualificar o
julgamento como um todo, no entanto, merece tratamento ainda mais severo. Não
seria pequeno o prejuízo à República se o esforço de desvendar os atos de
corrupção praticados no governo Lula ficasse carimbado como
"golpismo" e "ataque à democracia" --pois as pechas
atingiriam o próprio STF.
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Foto: Nelson Jr./SCO/STF, 01-10-2012 |
Quando presentes, esses
princípios republicanos reforçam a legitimidade das decisões --é o que se dá agora
com o STF. Quando ausentes, tornam-nas duvidosas – foi o que ocorreu com os
negócios do PT imiscuídos no governo Lula.
Eis por que Celso de Mello
classificou a corrupção como "perversão da ética do poder e da ordem
jurídica". Pela mesma razão, disse que "o Estado brasileiro não
tolera o poder que corrompe nem tolera o poder que se deixa corromper". E,
para realçar sua decisão, afirmou que os réus do mensalão "transformaram a
cultura da transgressão em prática ordinária".
Sinal dos tempos, personagens
conhecidos da política nacional estão entre os réus que já foram condenados
nesse julgamento. Figuram nessa lista, por exemplo, os deputados federais João
Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT), além
dos ex-deputados Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Carlos Rodrigues (PL-RJ, atual
PR).
Até aqui, o Supremo foi
rigoroso ao condenar por corrupção passiva os réus que receberam dinheiro para
ingressar na base de apoio a Lula. Parece haver pouca dúvida de que manterá o
mesmo ânimo com os corruptores e de que nesse rol entrarão os líderes petistas
José Dirceu e José Genoino.
Título e Texto: Editorial, Folha de São Paulo, 02-10-2012
Celso de Mello diz que réus do mensalão são 'marginais do poder'.
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