quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Os mercados já acreditam em nós

Helena Garrido

No último mês, três empresas e o Estado português conseguiram crédito nos mercados financeiros. É o regresso aos mercados, lentamente, a (única) boa notícia deste Outono marcado pela má notícia de pagarmos muito mais impostos em 2013. Uma realidade a revelar que a credibilização externa do País está a ser conquistada, mas que tudo se pode perder se a economia não recuperar ou se a estabilidade política e social estiver ameaçada.

Dia 10 de Outubro fica marcado pelo dia em que a PT, uma empresa que ainda tem uma classificação de risco de "lixo" (investimento especulativo), conseguiu ir buscar aos mercados financeiros 750 milhões de euros por um prazo de cinco anos e meio à taxa de 6%. É a terceira empresa portuguesa a conseguir quebrar a parede que se tinha erguido entre Portugal e os financiadores internacionais, a par com a própria República Portuguesa.

A primeira empresa a financiar-se no mercado desde que o País pediu ajuda externa, em Abril de 2011, foi a EDP. Dia 14 de Setembro, a companhia eléctrica conseguiu um financiamento de 750 milhões de euros, a cinco anos, com uma taxa de juro de 5,875%. Pouco acima dos 5,625% que tinha pago em Fevereiro de 2011, pouco antes dos mercados se fecharem para o País.

Se a história de financiamento nos mercados se tivesse ficado pela EDP, hoje não poderíamos estar a dizer que Portugal está a reconquistar a confiança dos mercados. Afinal, a companhia eléctrica portuguesa tem como accionista a poderosa "China Three Gorges" que conta com apoio da banca da China. Mas a seguir à EDP foi a Brisa, que pagou 7% por 300 milhões de euros a cinco anos e meio. Uma proeza, se considerarmos que a concessionária passou (e está a passar) por um complexo processo de recuperação financeira.

A semana passada, dia 3 de Outubro, foi a vez da República Portuguesa testar a sua capacidade de se financiar no mercado a três anos. E passou no exame, conseguindo que 38% da dívida de 9,6 mil milhões de euros que tem de pagar em Setembro de 2013 - já sem dinheiro da troika - possa ser amortizada em 2015.

Com três empresas e o próprio Estado a abrirem a porta que dá acesso ao financiamento internacional que, por sua vez, viabilizará a saída da troika do País, estamos perante os primeiros acontecimentos que nos permitem acreditar que há uma luz ao fundo do escuro túnel em que estamos metidos.

Claro que o acesso da EDP, da Brisa, da PT e do Estado aos mercados financeiros, que estavam fechados desde Abril do ano passado, não moderam o aperto financeiro que vamos viver no próximo ano e ainda menos confortam quem está sem emprego e sem perspectivas de o encontrar.

Mas o acesso do País e das empresas aos mercados financeiros neste Outono revela que é possível termos sucesso neste programa de assistência financeira, como já tivemos em finais dos anos 70 e no início dos anos 80 do século XX. E que poderemos mesmo não precisar de mais dinheiro, o que significa que a troika estará fora do País em 2014.

Estamos a ultrapassar o primeiro obstáculo, o da falta de financiamento externo, que nos obrigou a pedir ajuda. Entrámos na segunda fase, a da recuperação da economia, a mais difícil das batalhas, mas que será a que nos fará vencer a guerra.
Título e Texto: Helena Garrido, Jornal de Negócios, 11-10-2012
Grifos: JP

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