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Retirada daqui |
Sabemos que as políticas de
austeridade não geram crescimento. Mas, se alguém sabe como se pode crescer a
curto prazo, estando obrigados a nos desendividarmos, que o diga rapidamente.
Debater a crise é discutir sobre
os malandros da troika? A maldita falta de dinheiro e crédito tolhe-nos o
pensamento e a acção. Inicialmente desencantada e receosa, a sociedade resiste
agora ruidosamente à mudança. Ainda assim, o povo português surpreendeu o
mundo. Este não contava no entanto com as lapas dos interesses agarrados ao
velho Estado que se modernizou em parafernália de processos e tecnologia, mas
manteve-se igual na acção de criação de riqueza, de redistribuição e de
regulação.
Neste longo processo de
anestesia colectiva de facilidade creditícia, já não conseguimos viver com o
rendimento que tínhamos há dez anos. Mas foi assim que vivemos. A verdadeira
crise é a dos desempregados. A dos empregados é de resistência à intempérie
financeira. Fez-nos perceber que não é possível o bem-estar perpétuo. Junta-se
também o espectro da falência individual. A virtude estóica de reduzida fruição
de bens materiais para sermos livres e felizes regressou à sociedade? Esta
brutal aterragem na nova realidade, não deveria significar incapacidade para
levantarmos voo.
Os putativos senadores à
esquerda e direita da democracia desde Mário Soares a Freitas do Amaral, os
reformistas de outrora e conservadores do momento, não querem um debate, mas um
repisar dos seus feitos. Comodamente colocam-se do lado dos sacrificados.
Multiplicam-se em opiniões, opondo-se às mínimas tentativas de reforma, mas não
explicam as consequências. Julgam perene a arquitectura política, económica e
social que ajudaram a fundar.
Segundo esta geração, o País
divide-se entre aqueles que pensam nas pessoas e os que não. Impõem uma visão
totalitária nesta democracia e um desdém moral de superioridade. Os que querem
mudar são mal-intencionados. Desde a esquerda comunista à direita conservadora
qual é a mais bem-intencionada? Esta é a riqueza do debate em Portugal!
Como alguém disse, o curto
prazo é dominado pelos conflitos de interesses. No longo prazo os conflitos
sobre a visão do mundo dominam a história. E só esta nos pode dar razão. Bem
sei que chegamos atrasados a quase tudo: à industrialização, ao capitalismo, à
descolonização, à democracia, à Europa e agora à globalização. Agora, para onde
queremos ir? Nada se pode impor sem a palavra e a razão.
O caminho para Portugal só
pode ser o de mais pluralismo político e mais liberdade económica. Precisamos
de poderes de decisão independentes dos naturais interesses da sociedade, mas
sem a asfixia iliberal dos impostos e regulamentos. Não é apenas taxar e
redistribuir o pão. É preciso que se multiplique. O que nos pode afastar dos
baixos salários é a saudável aliança entre a força da educação e o capitalismo
concorrencial, bem como a abertura ao mundo e uma vontade de ser das regiões
mais desenvolvidas da Europa.
Demoramos a aceitar os
desafios. Mas, percebidos estes, somos um povo cumpridor e inexcedível. Ou
acreditamos em alguma coisa, e em nós mesmos, ou o desespero tomará conta dos
acontecimentos.
O défice do Estado não pode
ser o guia orientador, mas não o combater e eliminar é suicídio colectivo. Os
economistas que se arrogam defensores das pessoas, deixando os défices e
dívidas não sei para quem, suportam a sua argumentação em chavões para falar
sobre as políticas: folhas de excel e neoliberais. Procurei nas escolas de
economia se os instrumentos acima aduzidos faziam parte da cartilha
macroeconómica. Nada encontrei.
Aqueles que defendem que o
Governo deve estimular a economia por via orçamental deviam aplaudir quando o
Governo erra nas contas do défice. Estamos a ganhar tempo e a suavizar o
esforço fiscal. No entanto, estamos a aumentar o fardo dos impostos futuros. A
renegociação da dívida pública é imperiosa. Mas, não pára de crescer. Se a
austeridade não for um modo de vida, repetiremos a década perdida, e a
dependência externa será crescente Mais uma vez o "statu quo"
político quer fugir à verdade fiscal. Os senadores deveriam ser convidados para
um alto comissariado da renegociação da dívida. A sociedade precisa de pão e
circo. Mas, com pouco pão, este circo torna-se ignóbil.
Sabemos que as políticas de
austeridade não geram crescimento. Mas, se alguém sabe como se pode crescer a
curto prazo, estando obrigados a nos desendividarmos, que o diga rapidamente.
Terá o nosso apoio incondicional. As opiniões que se proferem sobre crescimento
rápido e negociação da dívida são cândidas, mas irresponsáveis, conhecendo a
força dos credores oficiais. Sem o auxílio destes não vamos a lado nenhum.
Sair da crise ultrapassa o
mero jogo de facções da democracia. Faltam-nos imperativos colectivos
mobilizadores que os partidos do Governo e os da oposição deveriam propor em
cimeiras regulares conjuntas. O País apropriava-se dos resultados e não os
partidos para a contenda eleitoral. Agradecíamos.
Título e Texto: Jorge Marrão, Jornal de Negócios, 16-10-2012
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