Isabel Stilwell
O Estado gastou rios de
dinheiro na prevenção tabágica, e demos o dinheiro por bem gasto, atendendo aos
danos mais do que provados do tabaco na saúde. Tal como achámos muito bem que
lhe pusessem impostos por cima, para afugentar os compradores, ou pelo menos
reduzir o número de cigarros fumados.
Mas agora a notícia de que os
cigarros vendem menos, em vez de alegrar a malta, parece provocar um profundo mal-estar:
não era decididamente o momento de deixar o vício, e quem o fez revelou um
desprezo ignóbil pelo seu papel no pagamento da dívida nacional.
Mas se os que deixaram o
tabaco passaram a ser vistos como anti-patriotas, os que optaram por utilizar
tabaco de enrolar, mais barato porque menos taxado, não ficaram melhor na
fotografia. Está certo que ainda pagam qualquer coisa, mas pagam pouco, e pior
do que isso consomem tabaco que, pelos vistos, vem de fora, e não interessa aos
produtores nacionais.
Daí que este fim de semana a
CIP, Confederação das Indústrias de Portugal, tenha anunciado que apresentou a
Passos Coelho uma proposta que prevê aumentar o imposto sobre o tabaco com «uma
incidência superior a 30% nos produtos que não sejam cigarros e inferior a 30%
nos cigarros, de modo a evitar desvios de consumo prejudiciais à produção
nacional».
Agora a preocupação é com a
produção nacional e não com o cancro do pulmão, e como tal garantem que a ideia
foi bem acolhida pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Finanças, que
«prometeram analisar o montante envolvido e os benefícios que daí podem advir».
Pressupõe-se que a próxima medida, anunciada por Vítor Gaspar, seja então um
subsídio à plantação de haxixe.
Não faz sentido, seguindo esta
lógica, que o produto que os estudos indicam ser cada vez mais consumido pelos
jovens, esteja por aí a ser comercializado sem pagar IVA, que tanta falta faz.
Quanto aos maços em lugar de dizerem «O tabaco mata», vão anunciar «Eu ajudo o
Vítor Gaspar».
Título e Texto: Isabel Stilwell, Destak,
08-10-2012
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