sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Driblando a lógica cultural

Carlos Lúcio Gontijo 
Não temos esperança, nem a mínima pretensão, de assistirmos ao nosso trabalho literário e poético ser contemplado com algum apoio oficial, uma vez que já caminhamos sozinhos por tempo demasiado longo, para acreditarmos em estender de mãos que nunca nos foi acenado. A política cultural que autoriza o produtor de bem cultural a captar recursos junto às empresas joga a análise do que deve ou não ser editado aos cuidados de quem, legitimamente, convive com o objetivo de buscar projeção para a sua logomarca, o que o conduz a sempre optar pela produção cultural mais comercial ou que tenha a participação de algum nome amparado pelos holofotes da grande mídia.

Ivete Sangalo, Salvador, 11-02-2013. Foto: Wallace Barbosa e Dilson Silva/AgNews
O inconformismo de lideranças do grupo baiano Olodum com a distribuição de verbas públicas no Carnaval de Salvador, marcada por privilégio que conferiu à cantora Ivete Sangalo montante bastante superior à quantia que coube aos demais artistas, sinaliza muito bem a extensão do problema em torno de uma cultura notadamente ainda muito distante de encontrar rumo menos desfavorável ou pelo menos mais promissor.
Harildo Norberto Ferreira, jornalista e poeta dos melhores, filho do maestro Antônio Luiz (Toinzinho) Ferreira, do município mineiro de Santana do Jacaré, esteve em nossa casa, aqui na cidade de Santo Antônio do Monte, com o seu violão bem tocado, que foi apresentado aos amigos Orvile (o Bibi), dono de bela voz; ao Antônio Fernando Gonçalves (o Fernandinho da Fanfarra); e ao Welington, um jovem músico santo-antoniense. Harildo Norberto, que acabou de deixar Brasília e estará prestando serviços à Secretaria de Estado do Trabalho de Minas Gerais, fez questão de elogiar nosso desempenho no âmbito da literatura, salientando a importância de termos uma obra composta de 14 livros (em meados deste ano de 2013, lançaremos mais dois títulos).
Numa coisa o Harildo tem plena razão: qualquer autor para ter uma obra necessita contar com número suficiente de livros, escritos em vários momentos de sua vida, a fim de que, assim, registre de maneira indelével e efetiva o seu pensamento. No nosso caso, Harildo Norberto procurou nos alertar para não nos entristecermos com a lembrança da luta e do sofrimento que enfrentamos para construir nossa obra literária e poética, pois afinal devemos nos vislumbrar como vitoriosos, num país de tantos autores inéditos, cuja produção se encontra condenada ao silêncio das gavetas.
Talvez nosso amigo – detentor de rara claridade intelectual e que deseja um dia escrever sua opinião a respeito da arte de nossa palavra – esteja mesmo certo, pois avançamos muito e qualquer estudo sério que se fizer no futuro, sobre poesia e literatura no Estado de Minas Gerais, levará seus condutores a chegarem até este escritorzinho independente (e renitente), que além dos livros banhados em horizonte de filosofia tem um número imenso de artigos publicados em jornais e mantém um site com toda a sua obra, gratuitamente disponibilizada ao acesso de virtuais visitantes.
Fica dessa forma, antes que o mês de abril nos traga idade nova (61 anos) e com ela a nossa aposentadoria no mês de maio, o nosso agradecimento a todos quantos nos honraram com seu incentivo e sua presença em nossos lançamentos, principalmente em Belo Horizonte, onde sempre tivemos casa cheia. Muito obrigado à amiga Berenicy Raelmy da Silva (nossa revisora); aos ilustradores Nivaldo Marques, Quinho (Marcos de Souza), Nelson Flores, Evandro Luiz (o EL) e Ana Carolina Soares. E também às ilustradoras que agora chegam, para nos ajudar em duas novas edições: Amanda Quirino (em “Poesia de romance”) e Vilma Antônia da Silva (em “Lelé, a formiga travessa”).
Externo igualmente a minha gratidão ao saudoso Wilson Ricardo de Oliveira, pela verdadeira e espontânea corrida a patrocinadores; aos prefaciadores, autores e cidadãos de sensibilidade que nos prestigiaram com sua abalizada consideração a nossa obra poético-literária: José Egydio Farinha (folclorista gaúcho); o poeta-mor santo-antoniense Bueno de Rivera; Carlos Drummond de Andrade; o escritor e ex-ministro Professor Aluísio Pimenta; a escritora Therezinha Casasanta; a poetisa portuguesa Carmo Vasconcelos; o político e escritor Celso Brant, a poetisa Regina Morelo; a poetisa Efigênia Coutinho (de Camboriú/SC); o jornalista José Carlos Alexandre; o político e empresário José Ulisses de Oliveira; a professora Ângela Rodrigues Mesquita: o poeta Antônio Fonseca...
Bem ou mal, eis aí uma carreira erigida no meio literário, onde dificilmente se encontram procedimentos governamentais ou meios democráticos de se editarem livros, fenômeno que logramos vencer, driblando a lógica cultural, ao não transformarmos o pouco provável em obstáculo realmente intransponível. Em síntese e a tudo traduzindo, é mais ou menos como nos diz Miguel Gontijo, artista do pincel e da pena: “(...) Faço uma caiação em toda página escrita e assino meu nome em toda página em branco; pelo instinto de sobrevivência todo o restante é imaginário”.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, Poeta, escritor e jornalista, 13-02-2013

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