Em 2009 e 2010, nos últimos
anos dos governos do Partido Socialista, o Défice Público superou
os 17.000 milhões de euros. De então para cá, entraram várias PPPs a pagamento
(Hospitais, SCUTs, algumas delas feitas nos anos 90 e com pagamentos adiados
até agora) e os juros pagos pelo estado cresceram, quer por aumento do preço do
dinheiro, quer pelo aumento do stock da dívida.
No entanto, e apesar de todos
estes custos acrescidos, o défice público em 2013 deverá ficar pelos 9.000
milhões de euros. É este montante que o Estado português precisaria pedir
emprestado, só para sobreviver. Se este ano ainda não há problema – a troika
empresta, não só para cobrir o défice mas para amortizar empréstimos antigos –
para os próximos anos a situação será bem mais complexa.
Em resumo, em 2 ½ anos
de governo, o ‘buraco’
das contas públicas reduziu-se praticamente a metade. É suficiente? Não. Uma
empresa que perca 100 por ano e a quem os bancos cortem o crédito, não resolve
nenhum dos seus problemas passando a perder apenas 50. Falta a outra metade. E
esta metade que falta é a medida exata do falhanço deste governo.
Note-se que este falhanço não
pode nem deve ser avaliado pela mesma bitola do falhanço do governo Sócrates.
Sócrates é culpado de ter arrastado Portugal para a bancarrota. Este governo só
é responsável de não ter sido capaz de nos salvar dessa bancarrota.
Parte deste insucesso deve-se,
sem margem para dúvidas, às subjetivas apreciações político-constitucionais dos
juízes do Palácio Ratton, para quem entre princípios de igualdade, de
confiança, ou de “desta maneira não”, há sempre um qualquer fundamento para
impedir toda e qualquer medida que permita diminuições substanciais na Despesa Pública.
A constituição não previa a bancarrota do Estado por um qualquer governo
incompetente. Sendo a crise inconstitucional, a saída da crise é, naturalmente
um imbróglio legal.
Mas nem tudo é culpa do TC. O
titubeante inicio de legislatura do actual governo, que apostou quase tudo no
aumento de impostos e as sucessivas diatribes populistas anti-austeritárias de
Paulo Portas fizeram o resto.
Agora, é o próprio governo que
guterra nas medidas mais básicas. Assim sendo, tudo indica que Portugal vai entrar em
default, durante o próximo ano, ou no inicio de 2015. Aposto que a sequência de
acontecimentos será mais ou menos esta:
Nos próximos dias, quando forem divulgadas as várias medidas restritivas do orçamento de 2014, as várias corporações dependentes do estado vão aparecer, todas, sem exceção, reunidas numa indignação gritada de contestação aos cortes anunciados. Os excessos de linguagem e os insultos serão cada vez mais a norma no discurso dos afectados pelos medidas de contenção propostas.
A imprensa amplificará e dará voz a toda e qualquer raiva pública de qualquer político de esquerda, e principalmente, aos momentos de proclamação da desprezo dos senadores do PSD e do PP ao actual governo. O maior tempo de antena será dado aos pensionistas de luxo.
Os sindicatos e os partidos mais à esquerda aumentarão o nível de tumulto até garantirem 2/3 de duração de cada telejornal.
Ninguém apresentará nenhumas propostas que substituam as medidas do orçamento por outras de valor equivalente – apenas medidinhas sem impacto. As duas soluções disponíveis – corte de despesa no Estado ou mais um esmagador aumento de impostos à economia – nunca serão debatidas como as únicas alternativas. As opções serão cortar contra não cortar. Austeridade contra crescimento. A linguagem do debate terá como soundbytes expressões como Merkel, Rendas Excessivas, espiral recessiva e muitas referências hitlerianas.
Todos os partidos da oposição farão um esforço por serem os primeiros a anunciar que enviarão para o TC o Orçamento de Estado. O PS vai encontrar 5 medidas inconstitucionais. O PCP 15 e o Bloco de Esquerda 30. Todos os comentadores, da esquerda à direita, vão prever a inconstitucionalidade de várias normas – principalmente daquelas que tenham impacto efetivo nas contas. Marcelo e Marques Mendes explicarão que estas medidas não servem porque são inconstitucionais. Teriam que ser outras. (Marques Mendes ainda vai acrescentar que não sabe bem que medidas alternativas poderão existir. Marcelo vai deixar no ar a ideia de que existiriam alternativas, mas que este governo não foi capaz de as descobrir. Sócrates também vai dizer qualquer coisa, mas ninguém quer saber).
Nos próximos dias, quando forem divulgadas as várias medidas restritivas do orçamento de 2014, as várias corporações dependentes do estado vão aparecer, todas, sem exceção, reunidas numa indignação gritada de contestação aos cortes anunciados. Os excessos de linguagem e os insultos serão cada vez mais a norma no discurso dos afectados pelos medidas de contenção propostas.
A imprensa amplificará e dará voz a toda e qualquer raiva pública de qualquer político de esquerda, e principalmente, aos momentos de proclamação da desprezo dos senadores do PSD e do PP ao actual governo. O maior tempo de antena será dado aos pensionistas de luxo.
Os sindicatos e os partidos mais à esquerda aumentarão o nível de tumulto até garantirem 2/3 de duração de cada telejornal.
Ninguém apresentará nenhumas propostas que substituam as medidas do orçamento por outras de valor equivalente – apenas medidinhas sem impacto. As duas soluções disponíveis – corte de despesa no Estado ou mais um esmagador aumento de impostos à economia – nunca serão debatidas como as únicas alternativas. As opções serão cortar contra não cortar. Austeridade contra crescimento. A linguagem do debate terá como soundbytes expressões como Merkel, Rendas Excessivas, espiral recessiva e muitas referências hitlerianas.
Todos os partidos da oposição farão um esforço por serem os primeiros a anunciar que enviarão para o TC o Orçamento de Estado. O PS vai encontrar 5 medidas inconstitucionais. O PCP 15 e o Bloco de Esquerda 30. Todos os comentadores, da esquerda à direita, vão prever a inconstitucionalidade de várias normas – principalmente daquelas que tenham impacto efetivo nas contas. Marcelo e Marques Mendes explicarão que estas medidas não servem porque são inconstitucionais. Teriam que ser outras. (Marques Mendes ainda vai acrescentar que não sabe bem que medidas alternativas poderão existir. Marcelo vai deixar no ar a ideia de que existiriam alternativas, mas que este governo não foi capaz de as descobrir. Sócrates também vai dizer qualquer coisa, mas ninguém quer saber).
O Presidente da República acabará por enviar a
proposta do OE2014 para o Tribunal Constitucional, pedindo a avaliação
preventiva das normas que tocarem nos direitos adquiridos dos pensionistas, e
talvez mais uma ou duas que cortem direitos adquiridos aos funcionários do
estado.
Não há quaisquer dúvidas: o TC vai chumbar
várias normas do OE 2014. O OE vai ser amputado de toda e qualquer medida com
relevância na redução dos custos de estado e os juízes apenas deixarão passar
aumentos de impostos. As taxas de juro no mercado secundário, que vão andar
sempre em alta desde a apresentação do OE2014, vão disparar assim que se
conheça o chumbo do TC. E desta vez, o chumbo do TC provocará a queda do
governo.
As tímidas tentativas esforçadas do PR para
evitar eleições com a criação de um Governo de Salvação Nacional esbarrarão
sempre na dicotomia entre os que querem o fim da austeridade e os que sabem
fazer contas. Será nomeada uma comissão para negociar com a troika que não
conseguirá negociar nada, porque nada tem a oferecer – apenas queremos pedir
mais tempo e mais dinheiro para que o estado continue como até aqui, a gastar
sempre mais do que o que recebe.
Em Março ou Abril de 2014 teremos eleições
legislativas. Na campanha eleitoral, o PSD não vai ter discurso. Quem vai
aparecer como líder é uma incógnita. Rui Rio é demasiado calculista para
avançar numa altura destas e os senadores que fizeram oposição interna a Passos
Coelho vão esconder-se, como sempre. Aparecerá um qualquer Montenegro ou um
Moreira da Silva, líder temporário para queimar por uns meses. Rui Rio apenas
avançará no congresso seguinte.
António José Seguro vai encher os pulmões de ar
e partir para a luta com o discurso do fim de austeridade. Vai parecer menos
convincente do que em outras ocasiões. Desde a última reunião com a troika que
percebeu o buraco em que se meteu. Agora resta-lhe a fuga para a frente. O
discurso basear-se-à na solidariedade europeia, nas políticas de crescimento e
em 3 ou 4 propostas de mutualização das nossas principais desgraças.
O voto dos pensionistas e dos funcionários
públicos será esmagadoramente à esquerda e o PS terá uma maioria, provavelmente
absoluta. O PS chegará ao poder numa situação muito difícil. Taxas de juro de dois
dígitos e ratings nos mínimos impedirão qualquer possibilidade de acesso aos
mercados financeiros e será preciso encontrar rapidamente muitos milhares de
milhões de euros para fazer face ao défice e à amortização dos empréstimos que
vencem em 2014 e 2015.
A única opção que restará ao governo PS será a
negociação de um segundo resgate com a troika. Infelizmente, as condições
impostas pelos nossos credores serão muito mais graves do que foram até aqui.
Desta vez não vão aceitar défices de 4% ao fim de 3 anos. Vão exigir
superavits ao fim de dois anos e para os atingir, obrigarão a medidas até
aqui impensáveis. Por exemplo, ‘corralito’ e confisco sobre depósitos bancários
e poupanças, reduções de 20% nos salários de todos os funcionários públicos, privatização
das empresas de transportes com elevadíssimos aumentos de preços dos bilhetes
por redução das indemnizações compensatórias, cortes volumosos nas pensões (e
não só nas mais altas, desta vez virão aos 300 e 400 euros). Vão exigir de uma
só vez tudo e vão exigir leis aprovadas antes de enviarem o dinheiro.
O choque com a realidade vai ser doloroso e o PS
– até lhes tremem as pernas – vai recusar. E Portugal entrará em default, assim
que se acabem os fundos de reserva de tesouraria e o Fundo de Capitalização da
Segurança Social.
É isto. Depois virá a saída do
euro, a super-crise bancária e a desvalorização da nova moeda em 50%. O
empobrecimento é de longo prazo, mas os ânimos acalmam. E a culpa terá sido da
Alemanha, do capitalismo neoliberal, dos bancos e do sistema financeiro, da
EDP, da ganância ou de outra coisa qualquer. Adiante, que isto é Portugal.
Título, Imagem e Texto. jcd, Blasfémias, 14-10-2013
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