terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Sakamoto prefere Belford Roxo a Miami?

Rodrigo Constantino

Miami, visivelmente o caos social perto de Belford Roxo
O ícone da esquerda caviar, Leonardo Sakamoto, aquele que adora computadores da capitalista Apple enquanto condena o capitalismo, escreveu um texto afirmando que se Miami é o Brasil que deu certo, então o Brasil deu errado. Com ironia, o “jornalista” escreve sobre sua primeira e única experiência na cidade:
Conheci a cidade no fim de janeiro, quando fui dar uma palestra em uma universidade local. E, ao contrário de outras metrópoles norte-americanas que  visitei ao longo dos anos, a primeira impressão da região metropolitana de Miami não foi das melhores. Fiz o circuito turístico convencional, o não-convencional, convivi com a elite local, tive overdose de Romero Britto. E torcia loucamente para ser esmagado por uma palmeira fake e encurtar o sofrimento.

De fato, a “breguice” por lá é grande. Romero Britto para todo o lado, palmeiras falsas e imensas casas com pilares imitando o Panteão. Quem disse que o dinheiro tem sempre bom gosto? O que Sakamoto não se deu conta é que ao menos as pessoas têm a capacidade de gastar e a liberdade de escolher, ao contrário do que ocorre, por exemplo, em Cuba.

Mas se fosse pelo mau gosto dos “novos-ricos” apenas, creio que Sakamoto não diria que Miami não deu certo. E, realmente, o que ele acusa é algo muito mais importante: a criminalidade e a desigualdade do local. Essa parte mais conhecida de Miami seria apenas a ponta do iceberg, e Sakamoto está preocupado com o restante. Diz ele, caindo em contradição:
Há um mundo bem maior nos bairros de imigrantes latinos, de onde saem as pessoas que servem as demais. Que, da mesma forma que no Rio, passam despercebidas. A Miami que chega às revistas e à TVs daqui é apenas um pedacinho, transformado em cartão postal, de uma cidade muito maior, mais interessante, viva e diversa do que a chatice monocromática vendida aos turistas. E complexa. E pobre. E desafiadora.

Ou seja, a parte idolatrada pelos brasileiros mais ricos – e pelos cubanos, venezuelanos, porto-riquenhos, mexicanos, etc. – não retrata a realidade do lugar. Só que ele cospe na parte mais rica, e enaltece o restante, que seria mais “complexo” e menos “chato” – e bem mais pobre e violento. A esquerda vive nesse impasse: condena a burguesia mais endinheirada, elogia a “periferia pobre”, e ao mesmo tempo reclama que a periferia não tem a condição de vida da burguesia urbana.

Sakamoto e seu laptop da Apple
Sakamoto precisa se decidir: Miami não presta porque os ricos são cafonas ou porque há pobreza em outros bairros? Assim como Regina Cazé precisa decidir se o Leblon é melhor ou pior do que as favelas cariocas. Nunca sabemos o que a esquerda caviar realmente quer. Ou por outra: sabemos sim, pois eles votam com os pés, e deixam evidente que preferem os locais com mais dinheiro mesmo.

Mas divago. O bicho pega quando Sakamoto resolve descascar a “falsa” impressão que se tem de Miami por aqui, segundo ele um minúsculo pedaço exposto pela mídia. Diz ele:
Mas problemática também. Miami é uma das cidades com maior pobreza e desigualdade social dos Estados Unidos. Não admira, portanto, que parte de nossa elite tenha escolhido lá para viver. Sentem-se em casa.
Alto custo de vida, taxas de criminalidade maiores que do resto do país, corrupção, falta de serviços públicos e sociais, saúde de baixa qualidade, desemprego, violência ligada às disputas sobre o tráfico de drogas, violência policial desmesurada contra os mais pobres, são alguns dos elementos que foram reunidos pela revista Forbes, tempos atrás, para explicar por que a qualidade de vida por lá é ruim. Torres de concreto, aço e vidro sendo erguidas e, não muito distante, filas gigantes de pessoas buscando refeições grátis em centros de auxílio compõe o cenário.

Quem poderia negar que Miami tem muitos problemas? Décadas abrigando milhões de latino-americanos que fogem para lá em busca de uma vida melhor, lógico que isso teria impacto, não é mesmo? Só de cubanos são quase 2 milhões! Será que eles estão em situação pior do que os parentes que ficaram na ilha dos Castro? Eis a pergunta que Sakamoto jamais irá se fazer, muito menos responder.

A filha de uma ex-empregada minha, por exemplo, foi tentar a vida em Miami. Hoje, é casada, tem dois filhos, mora em uma casa humilde, porém decente, as crianças estudam em uma escola pública com boa qualidade, e possui um carro médio – de elite para nossos padrões. Nada mal, não? Sakamoto preferia que ela fosse doméstica e morasse na favela carioca?

Agora vamos aos fatos, detestados pela esquerda: mesmo tendo se tornado a capital mundial dos imigrantes latino-americanos, Miami tem estatísticas infinitamente melhores do que todas as capitais latino-americanas. Perde em criminalidade para as demais capitais americanas, mas não para as capitais de origem da maioria da população que compõe a cidade.

Podemos analisar aqui algumas estatísticas de criminalidade em Miami. Para os padrões americanos, nada a se vangloriar. Mas que tal comparar com o Brasil? Vejam, por exemplo, a taxa de mortalidade por arma de fogo em nosso país:


O Rio tinha taxa de homicídio de 26,4 por cada 100 mil habitantes em 2010. A de Miami estava em 15,4, ou seja, 42% menor! Talvez Sakamoto pense que Belford Roxo é mais seguro do que Miami, vai saber. Talvez ele pense que Miami fracassou e a Baixada Fluminense oferece um quadro melhor de qualidade de vida.

Sakamoto pergunta, como se tivesse desvendado um grande mistério escondido pela direita: “Ou você acha, realmente, que não há miséria nos Estados Unidos?” Ora bolas, claro que há! Mas veja só que coisa: os pobres para padrões americanos seriam os ricos para padrões latino-americanos! Ou ao menos classe média alta.

A renda per capita americana é quase 5 vezes maior do que a nossa. O estilo de vida considerado de “bacana” por aqui é o normal de lá: casa própria razoável, carro na garagem, acesso à internet, TV de tela plana, refrigerador moderno, ar condicionado, etc. Sakamoto conclui seu artigo sensacionalista:
Contei isso a um estudante da periferia de lá durante um dedo de prosa que tive com ele. Surpreso, afirmou: cara, se Miami é o Brasil que deu certo, então seu país deu muito, muito, errado.

E alguém duvida? Se até mesmo uma das cidades mais violentas dos Estados Unidos dá um banho nas nossas cidades mais pacíficas, então é claro que nosso país deu muito, muito errado! E por quê? Essa é fácil: porque néscios de esquerda condenam o capitalismo, o livre mercado, o lucro, preferindo apelar para a demagogia e o populismo, condenando a riqueza, os ricos e, assim, prejudicando justamente os mais pobres.

Em suma, Miami é um exemplo de fracasso apenas para a esquerda caviar, que não a compara com a realidade latino-americana. Há muito que melhorar lá, não resta dúvida. Mas apenas alguém muito tapado – ou hipócrita – apontaria o dedo acusando Miami em vez de reconhecer os problemas infinitamente maiores no próprio quintal, fruto justamente da mentalidade esquerdista.

Eu, que já estive em Miami umas 10 vezes e tenho amigos que moram lá, posso me imaginar tranquilamente morando no “Brasil que deu certo”. Pergunto: Sakamoto, que condena o capitalismo e defende o socialismo, moraria em Cuba? Eis a questão.
Título e Texto: Rodrigo Constantino, 10-02-2014

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