1. De longe, o que mais impacienta os candidatos em todos os níveis
em 2014 é a quanto vai somar o Não-Voto (NV), ou seja, a proporção de votos
brancos, nulos e abstenção. Em média o NV tem alcançado 25% no Brasil, uns
Estados a mais e uns Estados a menos.
2. Admitamos - apenas por hipótese - que o NV possa subir para 35%. A
primeira dedução é quanto à eleição presidencial. Dilma vai carregando seus 43%
de intenções de votos nas pesquisas, aliás, o mesmo patamar das eleições de
2002, 2006 e 2010 sobre votos totais.
3. Supondo a mesma distribuição que a anterior, entre abstenção,
brancos e nulos. Para vencer no primeiro turno, Dilma precisaria alcançar 47%
incluindo os brancos e nulos. Com o aumento do NV, estes 47% caem para o
entorno destes 43% que Dilma tem em pesquisas. Conclusão apressada: isso
interessa à Dilma.
4. Apressada porque depende das áreas de concentração desse aumento
do NV. Apenas como exemplo, se ocorrer em áreas de menor renda ou no Nordeste,
o maior NV vai afetar negativamente Dilma. Mas se ocorrer principalmente em
áreas de classe média mais alta, ou nos Estados do Sudeste-Sul-Centro-Oeste, os
maiores prejudicados serão Aécio e Eduardo Campos e Dilma ganharia no primeiro
turno,
5. Como conclusão, a campanha dos presidenciáveis deve incluir a
chamada às urnas em suas áreas mais fortes de voto. Ou seja, o uso da TV
eleitoral não resolve por ser nacional, a menos que o TSE autorize a
regionalização da TV. Aqui, a internet pode ajudar por ser uma comunicação focalizada.
6. O mesmo raciocínio se aplica nas eleições dos governadores,
apenas adaptando o cenário nacional descrito acima para cada cenário estadual.
7. Em relação aos deputados estaduais e federais, o aumento do NV
tem como efeito imediato a redução dos votos de legenda. Um exemplo. Se para
eleger um deputado eram necessários 100 mil votos, a legenda cairá para 90 mil.
Isso é bom para quem? Claro, para os mais votados. Os que têm menos votos se
iludem que esta redução os beneficia. Lembrem: o número de deputados eleitos
por Estado será o mesmo.
8. Finalmente, entre os deputados, quais se beneficiam e quais são
prejudicados? Outra vez, depende do perfil de voto do aumento do NV. A
concentração numa sub-região, ou num perfil de eleitor, prejudicará os que têm
voto aí.
9. É provável, que aqueles que protestam nas ruas ou se incorporam
a elas virtualmente sejam os mais propensos a não votar ou anular o voto. Se
for assim, os prejudicados serão - paradoxalmente - exatamente os candidatos a
deputado que mais se envolveram e mais estimularam as manifestações.
10. As pesquisas eleitorais contratadas pelos partidos e candidatos
deveriam passar a incluir as decisões de NV e, assim, orientar os candidatos em
todos os níveis e regiões.
Título e Texto: Cesar Maia, 21-02-2104
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