Alguns congressistas
conservadores estadunidenses estão a instar a Casa Branca e o Pentágono para
que imponham sanções econômicas à Venezuela, a começar por uma redução de até
30 por cento das importações de petróleo cru desse país. Uma deputada
republicana de Miami, Flórida, Ileana Ros-Lehtinen, pediu por carta a Obama uma
redução imediata de 10% nas importações americanas, o que já sinalizaria aos
venezuelanos e ao mundo o apoio americano aos oprimidos pelo regime comunista
castro-bolivariano do país sul-americano.
Outros congressistas da
Flórida engrossaram o coro em favor de um embargo econômico parcial de maior
abrangência e sem se restringir apenas às compras de petróleo.
Acontece que os analistas, no
entanto, consideram que tais medidas seriam contraproducentes e sugerem outras
a serem adotadas pelo governo americano que parecem ser bem mais inteligentes e
eficazes.
As sanções, que os políticos
conservadores americanos querem que sejam impostas ao regime de Nicolás Maduro,
são, segundo eles, pelos assassinatos de mais de uma dezena de estudantes e de
outros manifestantes pacíficos, pela recente expulsão da Venezuela de três
diplomatas estadunidenses, pela censura de Maduro contra a mídia independente,
e pela recente prisão do líder oposicionista Leopoldo López.
É voz corrente entre os que
lidam com assuntos latino-americanos em Washington que Obama não pode
simplesmente olhar para o outro lado enquanto a Guarda Nacional Bolivariana e
bandos paramilitares, protegidos pelo Palácio Miraflores, massacram
manifestantes pacíficos nas ruas. Contabilizadas oficialmente, já são pelo
menos 16 pessoas mortas pela violência do regime, e centenas de feridos, desde
o início de fevereiro.
No entanto, os entendidos
continuam dizendo que, por vários motivos, um embargo nas compras
estadunidenses de petróleo, mesmo que seja parcial, seria uma má ideia.
Primeiro, porque um embargo nessas compras daria ao regime de Maduro um
significante argumento de propaganda antiamericana, transformando seu governo
naquilo que Chávez antes e agora Maduro vivem a afirmar, ou seja, que "o
seu governo é vítima de um complô desestabilizador" por parte de
Washington. Maduro repete tanto isso, que ninguém acredita mais nele, uma vez
que até agora não conseguiu apontar um fato sequer que prove que isso é
verdade.
A estratégia de Maduro é
ditada pelos Castros, de Cuba, e consiste em tentar
"internacionalizar" o conflito venezuelano, para que se
descaracterize por completo como o confronto real entre seu governo e o povo,
mas sim que pareça um embate entre um ‘país soberano’ e um ‘império
estrangeiro’. Um embargo nas compras de petróleo pelos EUA transformaria uma
contenda interna num conflito externo.
Depois, uma redução das
importações de petróleo pelos americanos não teria um impacto imediato no
regime de Maduro, mesmo porque boa parte das exportações de óleo cru da
Venezuela é vendida com meses e até anos de antecipação, pelo chamado
"mercado de futuros". Além do mais, a Venezuela poderá sempre vender
seu petróleo embargado a outros países, principalmente os que são desafetos dos
americanos.
A ideia do embargo do petróleo
pelos EUA também não é recomendável porque não seria factível, uma vez que não
é a Casa Branca que compra a mercadoria, mas sim as empresas privadas e, impor
tal embargo, mesmo parcial, seria um castigo para as gigantes norte-americanas
do setor, em particular a Chevron, a que mais investe capital no petróleo
venezuelano, e que passariam a correr o risco de serem estatizadas pelo governo
de Maduro, como advertem os críticos, entre eles Jorge Piñón, da Universidade
do Texas, em Austin.
Por fim, mesmo que as sanções
conseguissem piorar ainda mais a arruinada economia venezuelana, elas acabariam
por prejudicar bem mais a população do que ao governo. Maduro simplesmente
transferiria os custos para os consumidores e acusaria o "império",
tal como vem fazendo em Cuba a dinastia dos Castros há cinco décadas.
O que, então, Washington pode
e deve fazer em relação à Venezuela? Das duas, uma: ou os americanos
desembarcam suas tropas no país e ocupam a Venezuela militarmente, arcando com
todo o risco internacional que isso pode acarretar, ou, segundo a quase
totalidade dos "latino-americanistas" de Washington, os EUA devem
apenas continuar a se manifestar contra a supressão das liberdades democráticas
e contra as violações dos direitos humanos no país, conforme rezam as
convenções interamericanas e a ONU.
Medidas paralelas devem ser
consideradas muito úteis e são motivos do desejo de oposicionistas
venezuelanos, tais como a revogação dos vistos de entrada nos EUA de
autoridades venezuelanas, de suas famílias, e dos membros e associados da
"burguesia restrita do regime", a chamada "boliburguesia",
cuja maioria de membros vive como multimilionários que têm mansões em Miami e
não saem da Disneyworld. Por mais inócua que tal medida pareça, seria
extremamente eficaz contra o governo e os "boliburgueses" que vão
para os EUA, habitualmente, a torrarem o dinheiro que pertence ao povo,
enquanto as pessoas não têm o básico para viver com dignidade e decência.
Ao que parece ter sido
demonstrado recentemente, os embargos petrolíferos só funcionam quando grande
parte da comunidade internacional adere a eles, como ocorreu com o Irã. Um
embargo de petróleo unilateral dos EUA por deixar de comprar a mercadoria da
Venezuela, tem tudo para não funcionar, dá ao Maduro e sua corja motivos de
acentuar o antiamericanismo junto ao povo, propagandeando a sua tese de luta
contra o "império" e se, em última análise, mesmo que fizessem algum
efeito a ponto da cúpula comunista de Caracas pedir arrego, o povo já teria
sofrido tanto que nenhum americano em sã consciência aprovaria tal tática.
Na minha humilde opinião, acho
que a via militar seria a ideal para o povo venezuelano para resolver o
problema no curto prazo, mas não acredito que Washington queira se envolver em
outra guerra, principalmente no seu quintal. Mas acredito também que a Casa
Branca esteja vigiando de perto os movimentos internacionais na Venezuela, na
América do Sul e no Caribe, principalmente depois da anunciada decisão de
Moscou em se oferecer para a criação de bases militares em Cuba e na Venezuela,
bem como a oferta chinesa de enviar milícias para o regime de Maduro. E, como
nos casos dos mísseis soviéticos em Cuba, o governo americano, em determinada
altura poderá ter que reagir de forma decisiva e fulminante.
Título e Texto: Francisco Vianna, 28-02-2014
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