Harvey Weinstein [foto] é um monstro.
Mas o que dizer de toda a indústria que protegeu seu comportamento criminoso
por décadas? Como ouvir agora um sermão dos sinalizadores de virtudes
progressistas de Hollywood, estes semideuses que apontam o dedo para nós com
superioridade e desdém, sem sentir náuseas?
![]() |
Foto: David Shankbone |
Os discursos da geração mais
afetada e autoindulgente da história do cinema só enganava trouxas ou
desavisados, mas não há mais qualquer desculpa para quem quiser levar essa
gente a sério. Depois de tantos anos agindo sem ser denunciado, constrangido ou
combatido, é claro que Harvey Weinstein contava com a cumplicidade hipócrita de
grande parte dos atores e atrizes da cidade.
Se as revelações sobre a
conduta de um dos maiores produtores de Hollywood dos últimos anos são revoltantes,
muito mais absurda é a sugestão, repetida por alguns papagaios de pirata da
imprensa, de que as atrizes eram alvos frágeis e desprotegidas. Alguém
sinceramente acredita que as mais poderosas, influentes, populares e abastadas
atrizes do mundo não têm meios de sobra para resistir a um assédio sexual no
trabalho e denunciar o criminoso? Ah, façam-me o favor.
Uma das ativistas mais
radicais (e insuportáveis) desta esquerda hollywoodiana é Ashley Judd, mais uma
da lista das assediadas por Harvey Weinstein. Segundo ela própria, Weinstein
assediou a atriz pela primeira vez há 20 anos e em tempos tão recentes quanto
2015. Como ela ousa falar em nome do feminismo e das mulheres desfilando na
“Marcha das Mulheres”, uma passeata extremista patrocinada em parte por seu
próprio assediador? Que tipo de mente doentia vai para as ruas gritar contra a
“cultura do estupro” sem denunciar seu próprio predador, deixando que fique
livre para assediar outras mulheres com muito menos fama e fortuna que ela?
O que dizer das declarações de
Woody Allen, ele mesmo envolvido com a denúncia de assédio da própria enteada
Dylan Farrow quando a menina tinha 7 anos? É o tipo de história que faz a perda
da virgindade de Paula Lavigne aos 13 anos na festa de 40 de Caetano Veloso
parecer normal. Allen, que é casado com uma filha adotiva, disse que estava com
medo de que o caso Weinstein gerasse “uma atmosfera de caça às bruxas em
Hollywood” e que “daqui a pouco, todos os caras que piscarem para uma mulher
terão que contratar um advogado”. Quando Allen sofreu as denúncias de pedofilia
foi Weinstein quem mais apoiou e ajudou o amigo. Almas gêmeas?
Um dos jornalistas mais
atuantes no caso Weinstein é ninguém menos que Ronan Farrow, filho biológico de
Woody Allen com a atriz Mia Farrow. Muitos acreditam que a obsessão de Ronan
com o caso seria um “acerto de contas” já que ele é meio-irmão de Dylan Farrow.
Tudo fica ainda mais curioso quando se sabe que Ronan é a cara de Frank
Sinatra, com quem Mia Farrow teve um caso, e muitos acreditam que na verdade o
jornalista seja filho do cantor e não de Allen. Pedofilia, assédio, traição e
crimes sexuais encobertos? Apenas um dia normal em Hollywood.
Angelina Jolie, outra das
alegadas vítimas de Weinstein, acumulou uma fortuna estimada em meio bilhão de
dólares com o ex-marido Brad Pitt e é um dos rostos mais conhecidos do mundo,
embaixadora da boa vontade da ONU e reverenciada por seu trabalho humanitário
exatamente contra violência sexual. Como alguém como ela tem a pachorra de
receber prêmios como o título de Dama da Rainha da Inglaterra sabendo que um
predador sexual está naquele mesmo momento assediando jovens atrizes em
Hollywood e é incapaz de abrir a boca? Nada, absolutamente nada, justifica.
Jane Fonda, decana das
militantes de causas antiamericanas e da esquerda mais radical, disse que está
“envergonhada” de não ter denunciado Weinstein antes. Um pouco tarde, não? Vão
dizer que Jane Fonda se sentiu intimidada? Além de ser quem é, Fonda é
ex-mulher de Ted Turner, o magnata sócio de um império de comunicação que
controla canais como CNN, TCM, TNT, Cartoon Network, além de ser o maior proprietário
de terras dos EUA. Será que ela pode mesmo dizer que se sentiu intimidada? Ou
Mira Sorvino, Rosanna Arquette e Gwyneth Paltrow?
O que dizer então de Roman
Polanski que em 1977 foi preso e condenado por estuprar uma menina de 13 anos e
ainda fugiu para a França para não ir para a cadeia? Pior, o que dizer também
da turma engajada e protetora dos direitos das mulheres que aplaudiu de pé uma
imagem de Polanski num telão quando ganhou a estatueta de melhor diretor em
2003?
É comum aqui em Los Angeles ouvir
de amigos da indústria do cinema sobre o lado sombrio de muitas destas
estrelas. Seus estilos de vida raramente batem com o que pregam com a voz
embargada ao receberem uma estatueta. Nos discursos, muitos deles recheados de
agradecimentos a Weinstein, pérolas hipócritas sobre como fazer o planeta um
lugar melhor para as mulheres.
Bill e Hillary Clinton também
eram amigos próximos do estuprador de Hollywood. Além do Partido Democrata, a
fundação da família recebeu gordas doações do produtor (ou predador, como
queiram). Hillary evidentemente disse que “não sabia de nada” (cada país com a
sua alma honesta) e, não satisfeita, afirmou que não devolverá o dinheiro doado
por ele. Como sempre, são na vida real o que acusam seus adversários sem
provas. Os progressistas só mudam de endereço.
Espero que estes mimados
hipócritas, de uma vez por todas, entendam o ridículo de dar lições de moral
para nós, pobres mortais. Não é possível que ainda tentem construir a narrativa
de que algumas das mulheres mais bem-sucedidas de todos os tempos são vítimas
do patriarcado ou qualquer cafonice deste marxismo de botequim.
Pagamos os salários
pornográficos da indústria do entretenimento para que nos divirtam nas telas,
não para fornecimento de modelos cenográficos de conduta, aqui nos Estados
Unidos ou Brasil. Temos mais de 342 razões para isso.
Título e Texto: Ana Paula Henkel, O Estado de S. Paulo, 18-10-2017
Silêncio das feministas diante de declaração de Ciro de que “falta testosterona” à Marina é muito revelador
ResponderExcluirPaula Lavigne disse à Marie Claire que era apenas “uma menina” quando perdeu a virgindade para Caetano
ResponderExcluirJanaína Paschoal explica que mesmo antes de 2009 já era crime manter relações sexuais com menores de 14
ResponderExcluir