Helena Matos
Todos, a começar pelo diretor do Público,
teremos a qualquer momento o nosso nome inscrito na lista dos que devem ser
banidos. A ditadura das causas exige-o
Guardem o editorial do diretor do jornal Público sobre texto
da historiadora Maria de Fátima Bonifácio. Por quê? A História
precisa de datas e à falta de outra esta serve para assinalar o momento em que,
em Portugal, se assumiu que vigora a ostraca.
Os muçulmanos têm a fatwa, nós
temos a ostraca,
essa prática da antiga Grécia para afastar determinados cidadãos, sendo que
agora o nome daquele que se quer ver banido não se grava em pedaços de cerâmica
mas sim nas redes sociais. Desta vez a ostraca caiu sobre Fátima Bonifácio. E
chegou via editorial do Manuel Carvalho, diretor do PÚBLICO: “Um jornal como
o PÚBLICO é um espaço de convivência baseado em valores. A Direção Editorial
tem o dever de proteger esse espaço, evitando que esses valores sejam postos em
causa. Lamentavelmente, não foi isso que aconteceu.” – escreveu,
arrependendo-se da publicação do texto de Maria de Fátima Bonifácio.
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Óstraco de Címon, estadista
ateniense, onde se lê o seu nome (Κίμων ο Μιλτιάδου)
|
Não interessa se concordo ou
discordo do texto de Maria de Fátima Bonifácio sobre as quotas para negros e
ciganos. Mas desde já acrescento que escusam as redes sociais de se enervar e o
diretor do Público de se armar em extraterrestre: Maria de Fátima Bonifácio
escreveu o que se diz não apenas nas periferias de Lisboa ou Setúbal mas muito
particularmente nesse interior do país que tanto dizem querer proteger mas onde
se multiplicam “as ocorrências”.
Maria de Fátima Bonifácio
apontou o que tartamudeiam os paizinhos progressistas para explicar por que não
colocam os filhos nas escolas públicas. Detalhou o que se vê e ouve quando se
sai na estação de comboio da Damaia…
Não admira que o texto de
Maria de Fátima Bonifácio tenha gerado reações e a própria sabe explicar as
suas razões melhores que ninguém.
O que interessa, o que é
grave, o que ensina o editorial do Público é que a técnica da ostraca venceu e todos,
mas mesmos todos, a começar por Manuel Carvalho, teremos a qualquer momento o
nosso nome inscrito na lista dos que devem ser banidos.
Sejamos claros: a ditadura das
causas triunfou. Neste momento não se debatem ideias, impõem-se causas. Estas
são invariavelmente apresentadas como libertadoras e positivas. Logo quem
diverge dos fins e dos meios adotados pelos ativistas-funcionários de tão
altos desígnios não é uma pessoa que pensa de forma diferente, mas sim um
defensor dos horrores que essas causas se propõem combater.
Não se concorda com a criação
de quotas para ciganos na universidade? Automaticamente é-se apresentado como
sendo favorável à discriminação dos ciganos. Perante esta condenação ao
banimento quem tem coragem para perguntar o óbvio: que cursos são esses em que
se entra porque se nasceu mais ou menos moreno? Os cursos das chamadas ciências
sociais e humanas porque a matemática e a física ainda não se aprendem por
decreto (creio que depois de serem apresentadas como disciplinas dos ricos acabarão a ser tidas como reacionárias). Como é mais que óbvio os selecionados
para essa progressão por razões da cor da sua pele irão alimentar esses
berçários da esquerda radical que são os departamentos de antropologia,
sociologia e estudos disto e daquilo.
Não se concorda com a escolha
de pessoas para cargos políticos em função da cor da sua pele e de imediato se
é a favor da discriminação dos negros.
Denuncia-se o racismo
existente entre negros ou entre negros e ciganos e em segundos é-se apresentado
como tendo uma visão estereotipada daquilo que no nosso caminho para a realização
é designado como comunidades.
A ditadura das causas, como
todas as ditaduras, conta com os seus defensores que naturalmente se acham
investidos de uma superioridade moral. Conta com os seus ativistas logo
transformados em funcionários porque, materialmente falando, o sector das
causas é uma fonte inesgotável de empregos e financiamentos.
Quando a ditadura das causas
acabar o jornal Público e seus clones encher-se-ão de artigos sobre as
perseguições realizadas nestas décadas iniciais do século XXI e de como a
esquerda (noutros tempos foi a direita) se serviram dessas causas para ganhar
votos numa época em que já não tinham outro programa político que não
fosse manter-se no poder. Como é óbvio eles, os ativistas, os jornais ativistas
e toda essa milícia do pensamento que por aí anda, nunca tiveram nada a ver com
tal assunto. Felizmente que a morte nos liberta a dado momento desses
espetáculos porque vê-lo várias vezes ao longo da vida torna-nos mais cínicos.
Título e Texto: Helena Matos, Observador, 7-7-2019
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