João Távora
Ontem, os britânicos,
mergulhados numa crise económica e social profunda, despacharam o partido
conservador depois de 14 anos de governo e trágicas asneiras dando uma maioria
assinalável aos trabalhistas para governar os seus destinos. Claro que os Whigs,
para obterem esta vitória esmagadora, trataram primeiro de correr com os
radicais e elegeram uma liderança moderada, que se deu ao luxo de conquistar
eleitorado conservador ansioso por sinais de mudança.
Já em França o futuro é algo difícil de prever, que os franceses há muito cuidaram de cortar a cabeça ao rei. Mas há um padrão que se adivinha inevitável: depois das eleições no domingo, nas principais cidades do país, haverá muitas montras destruídas, automóveis queimados e pedras a voar. Tudo aponta para a vitória do Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen e da jovem promessa Jordan Bardella, porventura sem maioria absoluta, para enfrentar uma “barragem republicana” liderada pelo partido de Macron, que não teve pudor de nela incluir a esquerda radical com propostas tão ou mais radicais quanto a extrema-direita. Tudo isto seria grave se não fosse trágico, se considerarmos a panela de pressão que é a França nos nossos dias, com as finanças descontroladas e reivindicações dos extremos impossíveis de satisfazer.
Espero que Portugal, que deve
muito da sua cultura política a esta França revoltada e histriónica, ganhe logo
à noite a eliminatória aos Galos. É que o futebol tapa muita coisa, e nós por
cá também temos as nossas questões irresolúveis.
Título e Texto: João Távora,
Corta-fitas,
5-7-2024
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